Mostrar mensagens com a etiqueta Má memória. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Má memória. Mostrar todas as mensagens

08 dezembro, 2011

Soares, o bochechas...


Mário Soares
Descansem aqueles que pesam o valor dos políticos pelas simpatias partidárias, porque não serei eu quem tenciona imitá-los. Por mais infantil que pareça a comparação, sou mais clubista do que partidarista, e posso explicar em poucas palavras a razão desta afirmação. Os partidos políticos, desde Abril de 1974 para cá, só me trouxeram decepções e motivos para desconfiar das suas capacidades, enquanto que o meu clube, o FCPorto, mesmo discriminado por sucessivos governos, em igual  período de tempo, deu-me muitas mais alegrias que desgostos, razões de sobra bastantes para continuar a confiar em quem o dirige.

Talvez ainda não tenham atingido o sentido da primeira frase do anterior parágrafo, mas tentarei explicá-lo. Vou-vos falar de um "bicho sagrado" da política pós revolução chamado Mário Soares. Esse mesmo. Aquele àcerca do qual, decorridos 37 anos, ainda não consegui compreender a razão de ser tão "idolatrado" pela comunicação social. Pensando bem, se calhar, até encontro algumas afinidades que explicam o fenómeno. É que, Mário Soares, em matéria de rigor e de flexibilidade, é tão volátil e oportunista como todos os órgão de informação juntos.

Já agora, confidencio-vos que o Partido Socialista foi o primeiro partido político em que votei. Portanto, será simples deduzir que simpatizei com o programa de governo da época, e sobretudo com o reforço de Liberdade que Mário Soares lhe soube aditar, detalhe relevante para a projecção e a credibilidade da sua própria imagem, da qual, aliás, ainda hoje continua a colher frutos. Será importante registar, que vínhamos de 47 anos de uma ditadura cinzentona e repressiva, e de cujos efeitos, ainda hoje, muitos portugueses não se refizeram. O medo, ainda predomina na mente de milhares de anónimos que comentam nos blogues e nas redes sociais. Mas, de Mário Soares, só esse detalhe me infunde ainda algum respeito. E agora, também, a idade. 

Contudo, os 87 anos de Mário Soares não podem servir de atenuante para a inaptidão e demagogia com que desempenhou as funções de 1º. Ministro ainda com a lucidez da juventude,  nem tão pouco podem conferir-lhe autoridade moral e política, para censurar as más opções governativas de agora, que apesar de merecerem crítica, ditas pela sua boca, soam a um enfadonho déjà vu.

A um político, mesmo a um pseudo dinossauro [e com boa imprensa], como ele é, não basta apregoar revoluções em fóruns ou conferências, sem assumir responsabilidades. Durante os seus mandatos, enquanto Ministro e depois Presidente da República, não foram poucas as vezes que incumpriu com o que prometera nas campanhas eleitorais. Nalguns sectores da população mais idosa, ainda há quem não lhe perdoe o facto de ter "metido o socialismo na gaveta", que era à época para muitos a opção política ideal, entre os partidos conservadores [CDS e PPD] com ligações ao regime anterior, e o comunismo [PCP] que definitivamente a maioria do povo rejeitara.

Entre outras incongruências, Mário Soares obcecado com a garantia da Liberdade, esqueceu-se de consolidar a autoridade democrática, levando a que as gerações de políticos que lhe sucederam perdessem progressivamente a noção do dever e do respeito pelos eleitores. Não espanta pois, que sejamos permanentemente confrontados com escândalos, escabrosos onde os políticos são os principais protagonistas influenciando negativamente o resto da sociedade. Nem tão pouco se aceita por que é que Mário Soares nunca se opôs frontal e oportunamente à política suicída de Sócrates que acelerou o caos governativo a que hoje chegamos. Já para não falar das mais recentes declarações de Sócrates, que sintetizam a baixa elevação dos políticos contemporâneos.  Qualquer que tenha sido o contexto dessas declarações - supostamente sustentadas nos seus conhecimentos de economia -, as dívidas, são para se pagar, sob pena de se estar a assassinar o direito ao crédito a quem dele carece. Só um caloteiro pode fazer tais afirmações. Tipicamente político, Mário Soares não se incomoda com as asneiras, desde que tenham origem na bandeira do PS. 

Mas, também não são Paulo Portas, nem Freitas do Amaral , que podem atirar pedras ao telhado de outros. A índole é parecida, mas há uma diferença não dispicienda, que consiste no facto de Mário Soares ter combatido o Estado Novo e ter sido preso por isso, ainda que à posteriori, tão nobre luta esteja hoje reduzida a discursos de ciscunstância e à banalidade de continuarmos a ser um pobre país.