Sob pena de cair no ridículo, aos olhos de uma certa "elite" local, mais fria e calculista, o último programa da RTP2 [que devia ser RTP1] Sociedade Civil, abaixo linkado, apresentado pela excelente jornalista Fernanda Freitas, foi um autêntico tónico para a alma dos portuenses. Neste programa, falou-se exclusivamente do Porto, e do amor ao Porto, motivos mais do que suficientes para os portuenses mais ferrenhos se darem ao prazer de o ver do princípio ao fim. Se o fizerem, irão perceber porque é que os 90 minutos vão parecer 90 segundos.
Estes medos do ridículo, não tem nada a ver com o receio de certos complexados do burgo de mostrarem ao Mundo que também são capazes de se emocionar, de expor publicamente a "fraqueza" do seu bairrismo, de amar a sua rua [como disse e bem, o Álvaro Costa], tem a ver sim, com as insidiosas manipulações a que os portuenses são sujeitos sempre que têm o ensejo de manifestar publicamente o amor pela sua cidade. E é aqui que eu quero chegar.
Este programa emocionou-me, não tanto pelo que se disse, mas por quem o disse... Não é caso para estranhar, meus amigos, porque de facto, os portuenses não estão habituados a assistir a um programa inteiro composto por portuenses a falar orgulhosamente da sua cidade, sem terem à esquina do primeiro elogio alguém a atirar-nos à cara os nossos defeitos. E é isso que costuma acontecer em qualquer programa emitido a partir de Lisboa nos raríssimos momentos que decidem falar de nós, da nossa insubstituível cidade do Porto.
É baseado na objectividade destes dados que só concordo parcialmente com a opinião politicamente correcta do Manuel Serrão e do Álvaro Costa quanto à relação afectiva dos lisboetas com os tripeiros. Manuel Serrão diz que não confunde o centralismo com os lisboetas, e, com toda a franqueza, era assim que eu também gostaria de pensar. O problema não está aí. O problema é que foram os lisboetas que se deixaram "dominar" pelo culto centralista sem nunca se mostrarem incomodados com a "mordomia", porque perceberam que esse "domínio" os beneficiava. E não é por termos amigos em Lisboa, com quem vamos esporadicamente beber um copo, ou jantar, por razões familiares, ou em negócios, onde a circunstância manda enterrar o machado de guerra, que podemos medir a consideração e o respeito que eles sentem por nós. É sim, quando eles estão longe de nós.
Quando estão longe, no seu habitat natural, ou mesmo nos estúdios das televisões centralistas, aí, são incapazes de revelar a mínima solidariedade com os portuenses. Então, que raio impede os lisboetas não centralistas de se solidarizarem com os nortenhos [e não apenas com os portuenses] quando sabem que estamos a ser discriminados política e economicamente, quando sabem que somos a região que mais exporta e que paradoxalmente é a mais pobre do país, a menos favorecida? Onde estará então a porreirice lisboeta que não se vê nem se houve, e os distingue dos centralistas ? Nos salões de chá? Nas televisões [que é o local de privilégio dos alfacinhas], não é seguramente...
Quando estão longe, no seu habitat natural, ou mesmo nos estúdios das televisões centralistas, aí, são incapazes de revelar a mínima solidariedade com os portuenses. Então, que raio impede os lisboetas não centralistas de se solidarizarem com os nortenhos [e não apenas com os portuenses] quando sabem que estamos a ser discriminados política e economicamente, quando sabem que somos a região que mais exporta e que paradoxalmente é a mais pobre do país, a menos favorecida? Onde estará então a porreirice lisboeta que não se vê nem se houve, e os distingue dos centralistas ? Nos salões de chá? Nas televisões [que é o local de privilégio dos alfacinhas], não é seguramente...
Noventa e nove por cento dos portugueses, de norte a sul, são influenciados por uma visão centralista do país. Desses, embora constituam uma maioria, por razões sócio-culturais, só uma pequena percentagem percebe as razões políticas da discriminação negativa de que é alvo, enquanto na capital a diferença legada pelo superior rendimento per capita em relação ao resto do país, produz um efeito de benefício do qual não têm qualquer interesse em abrir mão. Se juntarmos a isto a clubite regimental, temos o caldo perfeito para sedimentar um sentimento de indiferença e até de desprezo para com os portuenses, não obstante os encómios simpáticos das lisboetas citadas no referido programa pela Katty Xiomara alusivos à beleza dos portuenses...
A visão conciliadora do Manuel Serrão [não acredita na guerra Sul/Norte] sobre a relação dos lisboetas connôsco louva-se e percebe-se, se atendermos aos interesses decorrentes da sua actividade profissional - que deverá salvaguardar -, mas essa não é uma visão realista.
A opinião da grande massa anónima de portuenses, que não precisa de ter essas preocupações diplomáticas, está seguramente mais próxima dos factos. Tanto, como está distante dos eventos mundanos da capital, ou de jantares de negócios com o empresariado lisboeta.
A opinião da grande massa anónima de portuenses, que não precisa de ter essas preocupações diplomáticas, está seguramente mais próxima dos factos. Tanto, como está distante dos eventos mundanos da capital, ou de jantares de negócios com o empresariado lisboeta.