28 maio, 2018

Eutanásia


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Para mim, há muito passou o tempo de ceder à tentação de me deixar influenciar pela ideia que os portugueses são um povo fantástico, muito melhor que os demais.

Sou português, mas penso que, como qualquer outro povo, temos as nossas próprias idiossincrasias, a nossa cultura, os nossos defeitos e qualidades. Há uma tendência muito portuguesa de enfatizarmos a nossa condição de povo, plausivelmente motivada pela nossa eterna pequenez.

Uns, chamam a estas fanfarronices orgulho, outros - como eu -, preferem chamar-lhe complexo de inferioridade, ou de superioridade, consoante a perspectiva de cada um. Mesmo na época mais intrépida da nossa História, em que a condição periférica do país e as frequentes guerras com Espanha nos empurraram para os oceanos à conquista de novos mundos, não está isenta de crítica, mas talvez seja a única data histórica que nos distingue de outras nações. Um dos nossos grandes males é precisamente esse, ficarmos agarrados aos descobrimentos do passado, para ocultarmos o atraso social do presente.

Sobre esse atraso, tenho como principal referência a qualidade de vida dos portugueses avaliada em escala ascendente, seguida da integridade dos seus governantes. Dois pólos de avaliação fundamentais e relevantes, que dispensam comentários. Claro que, na vida, nem tudo é mau, há sempre pequenos pontos isolados de sucesso, que não caracterizam um país no seu todo. Não é a hipocrisia que nos faz grandes, é a verdade positiva dos factos.

O assunto da Eutanásia só é polémico sob o ponto de vista genérico que há anos descredibiliza o país, ou seja, o nosso desrespeito sistemático pelas Leis. Para mim, é apenas a questão do controlo do processo eutanásico que verdadeiramente  me preocupa, porque se me perguntarem se sou contra ou a favor, só tenho uma só resposta: sou a favor. Não aceito, sob que argumento fôr, que alguém cuja enfermidade seja cientificamente incurável, depois de muito sofrimento, ao ponto de suplicar a própria morte, seja coagido a suportar uma vida privada de prazer. Quem defende isto só pode ser hipócrita.

A única atitude nobre que os "Contra" podiam tomar para serem coerentes com a importância que querem demonstrar pela vida, era preocuparem-se com a daqueles que, tendo saúde, andam há anos a degradá-la, por não terem uma existência digna motivada pela eutanásia dos salários miseráveis e pelo emprego precário.

Aí sim, estariam a falar de humanismo a sério. Agora, querer mostrá-lo obrigando os que já não suportam a vida a vegetar contra a sua soberana vontade, não é humanismo, é sadismo.