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O Porto e o Norte são
estrangeiro para a capital |
Sei que me repito, sei que os meus temas são cada vez mais monocórdicos, mas enquanto não encontrar uma razão sólida para me conformar com o comportamento das nossas gentes, vou continuar a bater na mesma tecla. Talvez as consiga persuadir melhor, portuenses, portistas, não portistas e nortenhos, se em vez de falar de centralismo, usar termos mais convincentes, como injustiça, segregação, ou fascismo (este último, não é exclusivo dos comunistas). Não sendo exactamente sinónimos de centralismo, na prática, a diferença entre este, e os outros, é ínfima, se pesarmos as semelhanças.
A história dos povos está cheia de lutas sangrentas por estas causas, e não é preciso recuar ao apartheid da antiga Rodésia, ou África do Sul. O mundo vive em constante guerra, basta olharmos para os telejornais. Mas que diabo, na Europa moderna e democrática, será aceitável que hajam países a praticar esta nova versão de racismo chamada centralismo? Não, não é aceitável nem tolerável! No entanto, em Portugal ele existe, está nu, é impossível negá-lo, e contudo pelas reacções, parece uma coisa muito natural, quase uma brincadeira de miúdos. Parece, mas não é!
O tempo vai passando, e como é tradição em Portugal, a Justiça anda a passo de caracol. A conclusão da investigação policial dos e-mails do Benfica só daqui a uns mêses (ou anos) será pública. Não é certo que seja conclusiva, dada a envolvência gigantesca de gente influente comprometida com o processo. O programa Universo Porto da Bancada continua a denunciar os escândalos com toda a seriedade e coragem, mas apesar disso, a sensação que me deixa assemelha-se mais a um pedido de favor à Justiça, do que a uma exigência sobre a mesma. Nós temos direito a ela! Não nos fazem nenhum favor, nem o queremos!
Gosto do programa, e quero que tudo o que haja para denunciar seja denunciado, mas se nos ficarmos por aqui, acabaremos por esvaziar de autenticidade a gravidade do problema. O que o Benfica está a fazer é um crime de dimensão incontrolável, social e eticamente condenável, que por isso mesmo sofrerá influências de todo o tipo para ser branqueado, senão no todo, em parte.
Tal como a corrupção, o centralismo não pode ser apenas combatido com reclamações, por mais fundamentadas que sejam, é preciso gerar massa crítica na sociedade portuense e nortenha, e pôr os melhores protagonistas a debater ambos os assuntos com elevação, mas sem reservas. Há que assumir a cota parte de culpa dos nossos políticos, e da própria classe empresarial que privilegiou os negócios com prejuízo para as regiões de origem.
No JN, jornal fundado no Porto, há quem tente esconder sem sucesso as tendências pro-centralistas, mas ainda assim conhecem-se alguns jornalistas que vão remando contra a maré, embora com parcimónia. Este faz-que-faz, torna-se mais inexplicável no Porto Canal, por razões óbvias, que dispensam fundamentos. Quando ali o tema da descentralização é abordado, é coisa pontual, não é um desígnio. Não se nota o inconformismo que seria expectável face aos imensos prejuízos causados pelo centralismo ao Porto e à região. Se a isto juntarmos o facto de o Porto Canal ser propriedade do FCPorto, clube que tem sido alvo preferencial da soberba centralista (discriminatória), menos espaço sobra para entender a ausência de programação regular sobre a matéria. É essa também a razão que me leva a discordar do alinhamento seguido pelo director-geral, quando, em vez de aglutinar interesses comuns para a região e lhe dar voz, promovendo debates dinâmicos e mais informais do que juntar na mesa autarcas de cidades e partidos diferentes, decide chamar aos estúdios Freitas do Amaral cuja importância social se assemelha muito à de um Durão Barroso qualquer. Júlio Magalhães, ainda não percebeu que já há muita gente que sabe ver a diferença entre um videirinho político e um político útil.
E onde encaixa aqui o FCPorto, e o parecer do seu presidente? Em que mundo pretende manter-se quando o mundo do futebol está implicitamente integrado no mundo político e social? Que contribuição têm dado para a resolução destes dois problemas (corrupção e centralismo=discriminação) os políticos portistas de todos os partidos que continuam a ser convidados à Gala do Dragão? É assunto tabu, perguntar-lhes o que pensam destas poucas vergonhas? Não têm opinião? Se todos, sem excepção, andam há anos a promover a bondade da democracia, que raio se andará a passar neste país que os remete ao silêncio perante a constatação de uma, e outra coisa? Estranho, não é?
Será também essa a razão para Pinto da Costa não dar mais a cara às causas graves? É que, nada disto é aceitável, quando a espaços o senhor presidente do FCPorto se lembra de falar do centralismo, quando não se priva de conviver com eles e até de abrir as portas do Dragãozinho a directores de pasquins lisboetas que odeiam o FCPorto! É uma incoerência que descredibiliza quem a demonstra! Falar de centralismo sem tirar o máximo partido de uma máquina tão poderosa como é um canal de televisão, é como colocar um Ferrari nas mãos de um desencartado, é desperdício político e económico.
Actualmente, o programa Universo Porto da Bancada do Porto Canal, deve ser sem dúvida o canal com mais audiências da televisão portuguesa, e no entanto, é transmitido às 22H30, e nem precisa de mentir ou inventar casos para despertar interesse... Nem com estes sinais o PortoCanal percebeu o que está a perder social, política e economicamente, por não se decidir na produção de outros programas que esclareçam as vantagens da descentralização, e os inconvenientes do centralismo!
Termino com isto: estou farto de ouvir o Porto cidade e o Porto clube gritar "agarra que é ladrão" vezes sem conta, anos a fio, e continuar a ver o ladrão à solta, sem outra reacção. O pior, é que o ladrão continua a roubar...
Chega! É mais que tempo de "o" prenderem.
PS
Há ainda um pormenor, talvez insignificante para muitos (incluindo a classe política). Quando falei de corrupção, centralismo e ladroagem, esqueci o mais grave: HOMICÍDIO (coisa pouca).