27 junho, 2009

O manifesto dos vinte e oito (II)

Os subscritores do manifesto são ilustres figuras públicas que sabem muito de economia. Demonstraram no entanto saber pouco do país real. A maior parte deles conhecerá muito bem a Grande Lisboa, o bocado do Alentejo onde terão o seu monte, e a estrada para o Algarve. Do resto do país, aqueles que foram ministros ou altos dignatários do regime, estiveram em muitas terras, onde as festividades para si preparadas maquilhavam as carências reais. Muitas vezes viajariam de avião ou de helicóptero. Não conheceram essas terras, mas um "faz de conta" que os autarcas preparavam para tão ilustres visitantes. Os outros, nem isso conheceram.

Refiro-me concretamente à frase do manifesto que afirma que "(...) Portugal tem hoje uma rede viária eficiente e competitiva pelo que são justificadas dúvidas sobre (...) pesados investimentos, tanto em auto-estradas como no plano rodoviário nacional."

Admito que as AE existentes sejam quase suficientes. Considero como excepções o troço Amarante-Vila Real, que já devia existir há muito tempo (felizmente já em curso de execução) e talvez o troço Viseu-Coimbra do IP3.

A situação muda de figura quando se fala do resto da rede. Afirmar, como faz o documento, que ela é "eficiente e competitiva", é brincadeira. Só por ignorância (ponho de lado a possibilidade de má-fé) isso se pode dizer. Se querem mencionar uma rede eficiente, falem de Espanha. Tras-os-Montes, Douro, Beiras, Alto Minho vivem de uma rede de estradas que deriva basicamente dos meados do sec. XIX, com todas as limitações de traçado que eram impostas pela falta de meios mecânicos para remover terras e para fazer pontes e viadutos. Lembremo-nos que ainda hoje é mais prático ir de Miranda do Douro a Bragança passando por Espanha. Eu próprio posso dar o exemplo de por vezes ter de me deslocar ao norte do concelho de Vinhais, e fazer parte do percurso por Espanha. É mais rápido, mais confortável e mais seguro.

Dizer que a nossa rede viária é eficiente, é quase um insulto a todos aqueles portugueses que penam para se deslocar de A até B. Mas há outro aspecto que quero sublinhar. É que através daquela afirmação optimista dos economistas, há o perigo de se criar na cabeça dos portugueses que não conhecem o interior do país, sobretudo nos decisores políticos, a falsa ideia de que efectivamente o que havia a fazer na rede rodoviária está feito. Não está, falta muito, e tem que ser feito a menos que a política oficial continue a ser a de, sorrateiramente, acabar com o interior do país, desertificando-o e transformando-o numa versão portuguesa das reservas de índios norte-americanas.

26 junho, 2009

A pedido de um discípulo de Rui Rio um link animador...

Rio diz que desvio de verbas do QREN para Lisboa é um "escândalo"

E eis, senão quando, o Presidente RR decidiu berrar contra Lisboa. Aleluia!

Portugal versus Brasil

ANTÓNIO PINHO VARGAS



ROBERTA SÁ & ZÉ RENATO

Terreiro do Paço e la novelle architecture

Clicar sobre imagem se acharem que vale a pena...


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Peço desculpas aos portuenses por sair do tema principal deste blogue que é a nossa querida cidade e de vos falar de um assunto relacionado com outra que nem sequer é nacional... É só uns segundos, prometo. Só para chamar a vossa atenção para esta moda minimalista que tomou conta da criatividade de alguns dos nossos arquitectos e decoradores. Árvores, nem vê-las. Devem ser coisas feias, deselegantes e altamente comprometedoras para o efeito final da obra de muitos artistas. Já imaginaram os horizontes cortados que se perdiam se naquele espaço fossem contempladas essas coisas verdes e medonhas como a que está em baixo? Cimento, viva o cimento!

Os media, e as suas aberrações

Os media, aquelas multifacetadas agências noticiosas que dizem viver em função do interesse público, persistem em não querer perceber que o público não é uma massa acéfala e abstracta de pessoas a quem se pode impingir tudo.
É-me permitido falar assim, generica e afirmativamente, porque em determinados momentos, mesmo os mais conceituados orgãos de comunicação, parecem não se incomodar muito em copiar os pasquins mais ordinários que por aí pululam. Nem precisamos de dar muitas voltas aos miolos para descobrir o argumento-chave que está por detrás destes descarrilamentos editoriais: é o mercado.
O público "gosta" de trampa, dá-se-lhe trampa, porque a trampa além do mais, vende. Dito assim, ou quase assim, este argumento apenas reforça a confusão do público mais criterioso sobre a credibilidade a dar ao jornalismo na abordagem que faz a assuntos sérios, como a justiça e a actividade política, por exemplo. Por que terá então o leitor, ou espectador de TV, de valorizar o jornalismo dito de referência se o próprio se abastarda quando lhe convém? Desculpem-me se mal comparo, mas é da necessidade de ganhar dinheiro fácil que nasce a motivação primeira, que explica o fenómeno da prostituição e da pornografia. Ou não é? Estão a ver a proximidade argumentativa entre as diferentes "profissões"?
Quando se gastam rios de tinta, dias seguidos, a especular sobre os 94 milhões de euros oferecidos pelo passe do Ronaldo e das suas promiscuas performances sexuais com uma americana podre de rica mas fútil como um dejecto, sem daí extrair conclusões mais altruístas do que a inevitabilidade do mercado, está-se a dar palha ao público. Quando se abrem telejornais a comparar os décibeis de uma tenista portuguesa aos produzidos pelo motor de um Ferrari, está-se a relevar o acessório [hábito tipicamente bacoco-lisboeta] para disfarçar o essencial, que é a qualidade versus/vitórias, da atleta, perturbando eventualmente a sua evolução natural, dada a sua juventude. Quando se dramatiza a morte de Michael Jackson - apesar das suas qualidades artísticas -, promovendo-lhe a imagem ao nível da canonização, está-se a desprezar a vida de algumas crianças de quem [segundo fontes juridicamente fiáveis], consta ter abusado em práticas sexuais pedófilas.
Respeitar a morte de alguém com este estigma, é aceitável, mas sacrilizá-lo é uma tremenda injustiça. E hoje, todos os jornais sem excepção, fizeram gala em provar que o crime compensa desde que o criminoso seja colunável e... garanta vendas.
Nota RoP:
Sobre M. Jackson muito se escreveu cá e lá fora, a conotá-lo com práticas pedófilas. Se foi absolvido, com ou sem justiça, não há garantias, mas a imprensa mundial, já o tinha condenado. Agora, coloca-o num santuário!

Links (JN)

Pediatria oncológica sem meios

Gémea de Carolina Salgado diz que mentiu sobre "envelopes"

Alta costura europeia "made in" José Falcão

25 junho, 2009

Arquitecturas caprichosas

Maquete do novo projecto

Dois comentadores do post anterior pediam-nos, preocupados, para nos prenunciarmos sobre as obras que estão a ser projectadas para a remodelação do Pavilhão Rosa Mota e sobre um peditório para a construção de um hospital no Norte para crianças, quando as que são feitas em Lisboa tem de ser sempre o Estado a pagar...

A pertinência de ambos os casos é perfeitamente legítima, mas já nem sequer nos causa espanto pela frequência com que acontecem no nosso país.

Já o escrevi várias vezes, que a arquitectura é uma das actividades que mais aprecio, embora seja um analfabeto na matéria. Contudo, não é por sermos ignorantes em mecanica ou em arte que nos é vedado o direito de apreciar ou depreciar um determinado automóvel ou quadro. E é neste contexto que os autores desses produtos ou obras, nem sempre sabem conviver com a crítica, julgando-se muitas vezes acima dela. E fazem mal, porque o público tem frequentemente razão.

Hoje mesmo o Tiago [TAF] do blogue A Baixa do Porto publicou no seu blogue um post meu já antigo a alertar para a imprudência da não colocação de um corrimão protector no cais da ribeira.

Pelos vistos, aquilo que eu previ acabou por acontecer como se pode constatar aqui. Na altura, lembro-me de alguém ter escrito que o cais ficava melhor assim [sem gradeamento] porque em muitos anos nunca ali se tinha dado um acidente grave. Ripostei, lembrando as multidões do S João [e o álcool], mas as autoridades fizeram ouvidos de mercador. Talvez agora, depois do mal feito e de se terem magoado dois jovens, a protecção seja lá colocada. Talvez...

Sinceramente, posso não aparentar, mas não gosto de me precipitar a fazer críticas, mas há coisas que saltam à vista e só por acalhamento e total ausência de bom senso é que as devemos deixar passar. Em sentido contrário, recordo-me do movimento de oposição aos molhes da foz do Douro, contra os quais em princípio tive as minhas reservas, mas que hoje admito serem infundadas sobretudo quanto ao impacto paisagístico que todos pensaríamos iria provocar no local. Esperemos é que os benefícios obtidos [de navegabilidade da barra,etc.] justifiquem o dinheiro ali aplicado.

Quanto ao projecto das obras de requalificação do pavilhão Rosa Mota que, ao que consta, é da autoria do arquitecto que o concebeu originalmente, existe o receio de mais uma vez se cometer naquele local a mesma asneira [ou parecida], com a que se fez com o Palácio de Cristal, quando havia espaço ali de sobra para conviverem os dois edifícios. Ao que se lê, pensam construir um novo lago e destruir o que lá está, sacrificando a estética paisagística do jardim à dos edifícios de betão complementares anexos ao pavilhão. Seria importante uma exposição pública de uma maquete e a respectiva divulgação para se evitar mais uma machadada naquilo que está bem. A antiga avenida dos Aliados ainda não foi esquecida...















Localização do lago actual e arvoredo [comprometidos]

24 junho, 2009

Cuidado com os projectos mediáticos regionalistas!

Pessoalmente, já estou tão causticado com as "boas novas" relacionadas com projectos de comunicação social para o Porto, que antes mesmo deles começarem, fico apreensivo a calcular como irão terminar.

Na minha memória estão ainda bem frescas outras "boas novas" do género, não muito distantes, como foi o projecto de televisão regional da NTV, o jornal Comércio do Porto e a moribunda RNTV, e o destino que uns tiveram e outros se preparam para ter. Paradoxalmente, a minha preocupação aumenta na proporção directa do sucesso que puderem vir a ter tais projectos.

Como devem estar lembrados, o relançamento do Comércio do Porto foi uma iniciativa saudada pelos portuenses que teve tudo para ser bem sucedida. O jornal, não só soube modernizar a imagem como inovar o conteúdo - de cariz descomplexadamente regional -, conseguindo angariar rapidamente imensos leitores e, contudo, sem que ninguém percebesse porquê, fechou abruptamente.

Com a NTV, passou-se algo parecido, com a agravante de ter sido sugada pela RTP, para pouco tempo mais tarde se transformar num 3º canal noticioso do Estado, só para fazer concorrência à SICNotícias... Tratando [como vem sendo hábito], os portuenses e os nortenhos em geral, como parvos, colocou um N de Norte para a eventualidade de terem de acalmar as primeiras exaltações de ânimo com a mudança, mas verificada a brandura da reacção popular, logo trataram de avisar o Portugal profundo com doses industriais de publicidade, que o N não era de Norte, mas sim de Notícias. Resultado: a promessa inicial de uma televisão regionalista foi quebrada, sem que até hoje ninguém tenha apresentado uma explicação pública e convincente para esta manobra de diversão que encheu certamente os bolsos de alguns.

Acho pois, recomendável, não nos entusiasmarmos com estes anúncios de projectos regionalistas de ocasião, porque o mais certo, se a coisa começar a vender, é fecharem a loja pouco depois e transferirem os lucros para a sede do grupo, previsivelmente instalada em Lisboa, com este letreiro à porta: o Regionalismo fechou para férias.

e biba o Pôrto carago! Biba o São Joãoe!




23 junho, 2009

Mudança da Bitola Espanhola na Rede Ferroviária Isola-nos

O Ministério de Fomento de Espanha decidiu efectuar um estudo que deverá estar concluído até ao final do ano e que tem por objectivo a mudança da bitola (distância entre carris) de toda a rede ferroviária de Espanha nos próximos anos. Esta alteração deverá representar investimentos de cinco mil milhões de Euros. Além das novas vias em bitola europeia que estão em construção, todas as linhas convencionais antigas passarão a ser em bitola 'standard'. As vias já electrificadas, de três mil volts e corrente contínua, terão a mesma corrente e tensão eléctrica da rede francesa (25 mil volts e em corrente alterna).
As vantagens de toda esta operação é enorme, porque vai permitir o livre trânsito de comboios de todo o território espanhol, portos e plataformas logísticas para a União Europeia (UE).As alterações em Espanha vão ter grande impacto em Portugal e, se nada for feito, em termos ferroviários, o nosso País passará a ser uma ilha, pois já nem a Espanha terá vias de bitola ibérica.O nosso País necessita urgentemente de possuir uma rede que permita a circulação de todos os comboios de bitola europeia para resolver o grave problema da interoperabilidade, que é a capacidade de conectar os sistemas ferroviários dos diferentes países (bitola, sinalização, electrificação, etc...), o que provocará um aumento do mercado e uma forte redução nos custos de exploração, de 30 a 40 %, e nos custos dos respectivos equipamentos.
Com um sistema único de gestão, os comboios podiam circular livremente pela UE, mas, por estas condições não existirem, a velocidade média é de apenas 18 Km/h.A opção por soluções 'standard' e compatíveis com as das restantes redes da UE irá permitir adquirir material circulante a preços que, em muitos casos, podem atingir valores 50% mais baixos. Portugal terá grandes desvantagens se continuar dependente de soluções específicas.COMBOIOS DE DUPLO EIXO COM "INTERCAMBIADOR" NÃO SERVEM. Existem comboios de duplo-eixo que podem circular sobre as duas bitolas e, para que tal seja possível, impõe-se a instalação de um "intercambiador" que consiste numa instalação onde se realiza a mudança da distância entre rodas. A escolha de comboios de duplo-eixo não irá resolver o grave problema de interoperabilidade que a actual rede ferroviária portuguesa apresenta e, mais importante, não é solução viável para o transporte de mercadorias.
Com efeito, na futura rede espanhola, a esmagadora maioria dos comboios será exclusivamente de bitola 'standard' e, só em casos pontuais, a Espanha irá utilizar comboios de duplo eixo. Se Portugal optar por este tipo de comboios ficaria inacessível para a maioria da futura rede espanhola e da europeia, porque nenhuma empresa iria adquirir, de propósito, este material circulante para transportar passageiros de e para o nosso País. A França, Alemanha ou Itália não utilizam estes comboios, pela simples razão de que não têm o grave problema da diferença de bitola.
A Espanha, ao mudar em definitivo a sua rede, terá, obviamente, de abandonar o fabrico dos comboios de duplo-eixo. As mudanças no país vizinho, relativamente à sua rede ferroviária, deveriam levar os responsáveis portugueses a uma profunda reflexão sobre qual a prioridade dos investimentos a realizar nos próximos anos.O Governo está a cometer um grave erro estratégico ao continuar a insistir na ligação dos portos nacionais, em bitola ibérica, quando a Espanha vai mudar toda a sua rede para bitola europeia.
Rui Rodrigues
(do Blogue Maquinistas.Org)

Grande Porto com semanário a partir de Julho


Sai às sextas, terá a sua primeira edição em banca no dia 3 de Julho e vai chamar-se “Grande Porto”, o novo semanário da Sojormedia, detentora do diário “i” e de vários títulos da imprensa regional.Dirigido por Manuel Queiroz, ex-jornalista do PÚBLICO e com uma redacção de 12 profissionais, o “Grande Porto” é, nas palavras do seu director, em declarações ao “Meios e Publicidade”, um jornal que “não deixará de reflectir a vida nacional e a política internacional, olhando-a com o ‘sotaque’ natural de quem vive e trabalha no Grande Porto”.
Segundo Manuel Queiroz, este novo projecto da Sojormedia não esconde que tem a regionalização como bandeira e que encara o tema como “uma reforma indispensável a um desenvolvimento equilibrado de Portugal”.O “Grande Porto” contará com um painel de cronistas entre personalidades políticas, sociais e empresariais da região e dará ênfase “à cultura e entretenimento, vida social e ao pulsar político e económico de toda a região”, descreve Pedro Costa, administrador da Sojormedia, citado pelo “Meios e Publicidade”.
Segundo os responsáveis pelo novo projecto, o “Grande Porto” fomentará as sinergias com todos os títulos regionais do grupo mas terá uma ligação especial com o diário “i”, que conta com o “Grande Porto” como principal apoio redactorial a norte.O novo título terá entre 15 mil a 30 mil exemplares e o objectivo do grupo é conseguir vendas de 10 mil exemplares de circulação paga a “médio prazo”.

Ana Machado
[Público]

Alameda das Antas

Nova centralidade na parte oriental da cidade que está, pouco a pouco, a nascer junto ao magnífico estádio do Dragão.
Centralidade essa, que estivesse à época, Rui Rio na Câmara Municipal do Porto, hoje não existiria, assim como essa elegantíssima obra de arquitectura que todos reconhecem, que é o Estádio do FCPorto.
Em seu lugar, talvez lá estivessem uns terrenos baldios mais umas montanhas de problemas...
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Esquerdo direito,um dois, esquerdo, direito...

Foi ao som deste canto pré-belicista, que aprendemos todos a marchar na tropa, ou mesmo antes, na escola e no liceu, na disciplina de "educação física". Hoje, politicamente falando, dizer-se que se é de esquerda ou de direita é algo bem menos clarividente e diferenciável do que a direcção que queremos dar aos nossos passos.
Em termos ideológicos, tanto a esquerda [o comunismo], como a direita [o capitalismo], já deram provas quanto baste de não se adequarem aos interesses gerais das populações. Não fosse uma absurda e completa utopia, o que no fundo no fundo, toda a gente realmente gostaria de ser, era rica, ter dinheiro para comprar tudo aquilo que precisa e [nalguns casos paranóicos] até aquilo que não precisa.
É curioso, e não tão raro quanto se pensa, às vezes encontrarmos pessoas endinheiradas com almas generosas e outras, sem terem um vintém, despóticas e extremamente egoístas, de onde se pode concluir que não é o dinheiro ou a falta dele que faz o carácter das pessoas. Contudo, uma sociedade onde as desigualdades sociais e económicas são exorbitantes, como é a nossa, isso é o pior que há para se fundarem os alicerces para a paz e para a solidariedade humana.
Não devo estar enganado se pensar que todos nós fazemos intimamente esse raciocínio dicotómico "direita/esquerda", quando lemos o que alguém escreve, procurando descobrir se temos ou não afinidades ideológicas com essa pessoa sem muitas vezes percebermos que com isso podemos estar a abortar o que de mais precioso existe nas relações humanas: a amizade.
Porém, desafortunadamente, a história diz-nos, que a natureza dos povos não é toda igual. Se no norte da Europa, em países como a Noruega, a Suécia e a Dinamarca, o regime capitalista é bem sucedido em razão da predominância de elites com formação, de facto superior, quer a nível social, cultural e cívico [com regimes monárquicos], no resto da Europa, sobretudo em países do Sul, as coisas mudam de figura, sendo os próprios governantes os primeiros a dar às populações os piores exemplos. O Sul, tem simuladores de elites, ainda não tem elites.
Sílvio Berlusconi, é o paradigma acabado do que não deve ser um 1º. ministro, ou um homem de Estado se preferirem. Ninguém se escandalizaria tanto se o visse à administrar um bordel ou um casino, mas foi na política, com a responsabilidade de governar o destino do povo italiano onde esta "sagrada" democracia o colocou... Da mesma forma que nós portugueses tivemos um conselheiro de Estado, iminente acusado de roubos astronómicos, ainda em liberdade e a ser tratado com todas as mordomias pela justiça "nacional" [as aspas é para lembrar que há uma justiça a Norte e outra a Sul o que me parece pouco nacional]...
Resulta deste meu despretensioso raciocínio, que o nosso país [tal como em Itália], não está preparado para gozar de uma Democracia tão branda, nomeadamente para aqueles que têm mais responsabilidades e delas tiram proveitos pessoais e obscuros. A justiça em Portugal só mete na cadeia os pilhas galinhas, os marginais fracos, aqueles que precisam de armas para actuarem. Não é capaz de ser célere e categórica a fazer o mesmo com os malfeitores que agem cobardemente, a coberto de armas invisíveis mas muito mais mortíferas para a sociedade, chamadas Poder e de todo o exército de camaradas [guarda-costas] que se movem dentro dele.
Esta é uma realidade, mas haverá sempre alguém disposto a contrariá-la, podem ter a certeza. E isso, quer dizer tudo. Talvez seja chegada a hora de aprendermos terminologias mais sustentáveis do que esta marcha enfadonha e inconsequente ladaínha do: um dois, esquerdo, direito, um dois.
Só precisamos é de descobrir um novo caminho, para volver. Não, também não é o do centro[CDS/PP). Nem pensem! É o caminho da consciência (CDC).

22 junho, 2009

O manifesto dos vinte e oito

O manifesto publicado por perto de 30 conceituados economistas, em que dizem ao governo para "parar e pensar" no que diz respeito às obras faraónicas (é o termo exacto!) que pretendem implementar de imediato, é um documento da maior importância. Não é somente por demostrar o enorme erro económico constituído pelo tipo e pelo timing dos investimentos previstos. Penso que não é necessário dominar as teorias económicas para compreender. O chamado homem vulgar, com doses medianas de inteligência e de bom senso, é forçosamente sensível à racionalidade dos argumentos apresentados pelos signatários.

Penso que há um aspecto que o grupo dos 28 não censura, o que provavelmente até seria descabido em função da finalidade do documento. Trata-se da verificação de que talvez 80% do investimento total ( não disponho de números precisos, limito-me a dar um "palpite" intuitivo) seria direccionado para Lisboa: TGV até ao Caia, terceira travessia do Tejo, novo aeroporto de Lisboa. Mais uma achega para o desequilíbrio que fará aumentar o fosso entre Lisboa e o resto do país. Para o Norte sobraria a ligação em alta velocidade Porto-Valença. O troço ferroviária Porto-Lisboa seria de interesse mútuo. Claro que estamos, aqui no Norte, habituados a sermos preteridos, mas essa não é razão para deixarmos passar em claro todas as decisões centralizadoras que nos prejudicam. Por isso faço questão de sublinhar este aspecto.

O outro motivo que me faz pensar que o documento dos 28 é importante, é o facto de não estarmos habituados em Portugal a que sejam expressas opiniões de conjuntos de individualidades, a menos que no âmbito de associações profissionais ou institucionais. Estes subscritores provêm de diferentes quadrantes políticos e geográficos, e no entanto abdicaram do habitual individualismo nacional, decidindo trabalhar numa declaração conjunta, o que lhe confere mais força do que o símples somatório de intervenções individuais desgarradas. Gostaria que este espirito gregário se manifestasse em relação so problemas do Norte, permitindo públicas posições conjuntas de gente relevante, que alertassem e esclarecessem os inúmeros indiferentes /comodistas da nossa terra em relação aos incontáveis problemas que condicionam os tempos presentes, e que apontassem soluções possíveis.

O manifesto dos 28 tem uma referência à rede viária nacional que julgo merecer um comentário. Proponho-me fazê-lo em próximo post.