Refiro-me concretamente à frase do manifesto que afirma que "(...) Portugal tem hoje uma rede viária eficiente e competitiva pelo que são justificadas dúvidas sobre (...) pesados investimentos, tanto em auto-estradas como no plano rodoviário nacional."
Admito que as AE existentes sejam quase suficientes. Considero como excepções o troço Amarante-Vila Real, que já devia existir há muito tempo (felizmente já em curso de execução) e talvez o troço Viseu-Coimbra do IP3.
A situação muda de figura quando se fala do resto da rede. Afirmar, como faz o documento, que ela é "eficiente e competitiva", é brincadeira. Só por ignorância (ponho de lado a possibilidade de má-fé) isso se pode dizer. Se querem mencionar uma rede eficiente, falem de Espanha. Tras-os-Montes, Douro, Beiras, Alto Minho vivem de uma rede de estradas que deriva basicamente dos meados do sec. XIX, com todas as limitações de traçado que eram impostas pela falta de meios mecânicos para remover terras e para fazer pontes e viadutos. Lembremo-nos que ainda hoje é mais prático ir de Miranda do Douro a Bragança passando por Espanha. Eu próprio posso dar o exemplo de por vezes ter de me deslocar ao norte do concelho de Vinhais, e fazer parte do percurso por Espanha. É mais rápido, mais confortável e mais seguro.
Dizer que a nossa rede viária é eficiente, é quase um insulto a todos aqueles portugueses que penam para se deslocar de A até B. Mas há outro aspecto que quero sublinhar. É que através daquela afirmação optimista dos economistas, há o perigo de se criar na cabeça dos portugueses que não conhecem o interior do país, sobretudo nos decisores políticos, a falsa ideia de que efectivamente o que havia a fazer na rede rodoviária está feito. Não está, falta muito, e tem que ser feito a menos que a política oficial continue a ser a de, sorrateiramente, acabar com o interior do país, desertificando-o e transformando-o numa versão portuguesa das reservas de índios norte-americanas.