02 fevereiro, 2017

Uma pipa de massa

Rafael Barbosa*

1 Sabe quem é Jaime Andrez? Provavelmente não. Mas devia. Porque este gestor público está sentado em cima de uma pipa de massa: 4141 milhões de euros, o montante de fundos europeus atribuídos ao programa de Competitividade e Inovação. O gestor do Compete vai tomar, em cinco anos (2016-2020), decisões sobre como, onde e junto de quem se vai aplicar o equivalente a 21 anos de orçamentos do Município do Porto (se tivermos em conta o valor previsto para 2017, que é de 207 milhões de euros). Sendo que, apesar da relativa pequenez orçamental, e ao contrário do que acontece com Jaime Andrez, o leitor sabe bem quem é Rui Moreira. Sabe o que pensa o presidente da Câmara do Porto, sabe as decisões que toma e porque as toma, sabe quais são as suas prioridades, sabe quase tudo sobre como, onde e junto de quem aplica o dinheiro público que lhe é confiado. A mesma leitura se pode fazer relativamente a Gabriela Freitas, a gestora do Programa de Desenvolvimento Rural, que guarda nos seus cofres 4058 milhões de euros (Eduardo Vítor Rodrigues teria de estar 25 anos à frente da Câmara de Gaia para aspirar ao mesmo); Joaquim Bernardo, gestor do Capital Humano, fiel depositário de 3096 milhões (28 anos de Eduardo Pinheiro em Matosinhos); Helena Azevedo, da Sustentabilidade e Eficiência, com um tesouro de 2253 milhões (22 anos de Ricardo Rio em Braga); e Domingos Lopes, da Inclusão e Emprego, com 2130 milhões para distribuir (Rui Santos teria de estar 71 anos à frente da Câmara de Vila Real para lá chegar).

2 O Governo socialista tem em marcha um projeto de descentralização que implica a transformação das comissões de coordenação e desenvolvimento (CCDR) em protorregiões. A vingar a proposta do PS, as CCDR absorvem tarefas e financiamento de uma série de direções regionais na área do ambiente, da cultura, da mobilidade e transportes, da educação, da agricultura e da economia. Mas, mais importante, ficarão com a gestão dos fundos europeus referidos acima. O projeto é ambicioso e representa na verdade uma regionalização encapotada. Porque agregada a estas mudanças está a eleição indireta (um colégio de autarcas) dos futuros presidentes regionais. A fórmula eleitoral é excêntrica e medrosa (só se percebe que não haja sufrágio universal por medo das reações à regionalização). Mas a fórmula político-administrativa é pelo menos mais transparente do que a atual. Particularmente no que diz respeito ao Norte, Centro e Alentejo, as regiões destinatárias dos fundos europeus, atualmente geridos a partir de Lisboa, por uma legião de centenas de técnicos, através de estruturas opacas e processos ininteligíveis, que o cidadão não é capaz de fiscalizar. Numa palavra, de forma antidemocrática.

* EDITOR EXECUTIVO (JN)

01 fevereiro, 2017

Portugal, o país do(s) porreiro pá

Resultado de imagem para um portugues orgulhoso
Protótipo do "bom" português


Já aqui ironizei várias vezes com a infantilidade do nosso povo quando lhe pedem para falar de Portugal. Provavelmente, a avaliar pelos sinais que continua a transmitir, nada mudou.

Embrutecidos pelo poder dos media (que é cada vez mais intenso), manipulador, centralista e fanfarrão, as pessoas esquecem a sua própria natureza e a do país real, para se focarem nos clubes de futebol privilegiados da capital como se isso fosse a salvação das suas vidas. Com Mourinho (do pós FCPorto...), com Ronaldo - depois de Eusébio -, e um campeonato europeu no papo, ficam assim reunidas as condições para se sentirem os melhores do mundo e arredores. 

Os portugueses, salvo algumas excepções, perderam o que de melhor tinham, e hoje só vemos praticamente gente aparvalhada, e desprovida de sentido cívico. Ignoram, também por culpa própria, que quando abrem a boca para darem largas ao seu "orgulho" nacional de forma tão imprudente e por coisas tão fúteis como as atrás citadas, estão com isso a dizer (sem o perceber) aos políticos que os desgorvenam, que podem prossseguir nessa empreitada. E os políticos, agradecem, claro.

Não gosto de generalizar virtudes, nem defeitos. Desconfio sempre dos extremos. A expressão "somos os melhores do mundo", avaliada num momento de euforia, é inofensiva. O pior, é quando ela é assimilada à letra, depois de ultrapassado o momento que a justifica, porque deixam de olhar para a realidade das suas vidas para a escudar na clubite imposta por terceiros. Este é um dos grandes cancros do centralismo, abastarda a vontade natural das populações e depois serve-se delas.

São contradições deste cariz que me levam a rejeitar a ideia muito propagada que os portugueses não sabem dar valor ao que de bom se faz no próprio país, quando olhando para as coisas realmente importantes, verificamos que em 42 anos de democracia uma parte substancial do povo se orgulha de viver num país onde:
  • o salário mínimo nacional é dos mais baixos da Europa
  • a corrupção é constante na classe política, empresarial, judicial e desportiva
  • o fosso entre pobres e ricos está sempre a aumentar
  • o centralismo promete mudança, mas continua a crescer (vidé TAP...)
  • morre muito mais gente de frio que nos países nórdicos 
  • a democracia é aviltada e a Constituição ignorada
Num país com todos estes gravíssimos problemas eternamente por resolver, com Mourinhos e Ronaldos, continuamos a ter motivos para nos envergonharmos do que na realidade somos. Pela minha parte, é apenas vergonha que sinto.  

31 janeiro, 2017

As canalhices da TAP

Cristiano Vanzeller
(Quinta do Vale D. Maria,
produtor de vinho do Douro)

[CLICAR NA IMAGEM]

As viagens de longo curso da TAP são mais baratas a partir de Vigo, em Espanha, do que do Porto, que após várias simulações, conclui que a diferença pode ir dos 100 euros até aos 600 euros, avança o Jornal de Notícias, esta terça-feira.

O ponto de partida é sempre o mesmo, em que  se viaja até Lisboa para apanhar um outro voo em direção ao destino final e depois fazer o mesmo percurso no sentido inverso. Nas simulações realizadas pelo Jornal de Notícias (JN) na plataforma online da TAP e nas efetuadas por agências de viagens, é quase sempre mais baixo iniciar a viagem em 
Vigo do que no Porto.

O JN indica ainda, que uma viagem de ida e volta (a 10 e 17 de junho) para Boston, Estados Unidos da América, a partir do Porto custa 810 euros e que a mesma viagem partindo de Vigo custa 710. De referir também que para Nova Iorque indo do Porto custa 745 euros, mas partindo de Vigo já custa 655. Isto sempre com escala em Lisboa e nas tarifas económicas.

[Porto Canal]



Nota de RoP:

Rui Moreira tinha toda a razão quando afirmou que havia uma estratégia para esvaziar o Aeroporto Sá Carneiro, usando-o como plataforma de vôos obrigatórios para Lisboa. 

A outra, é saturar a Portela para justificar (mais uma vez) a construção de um novo aeroporto para Lisboa. O que terá a dizer a isto o ex-vereador Rui Sá que só sabe criticar e olhar para as coisas que Rui Moreira não faz, sem ter a dignidade de louvar o muito que já tem realizado? 

E António Costa, o que terá a declarar sobre este paradigmático exemplo de "descentralização" de uma empresa participada pelo Estado? Estará Costa contaminado pelo síndroma Scollari, que via «o Porto lá ao longe»?

29 janeiro, 2017

Nuno Espírito Santo, é medroso ou incompetente?



No futebol, como na vida, tudo é possível. Possível, mas muito pouco provável, é esperar que os caprichos da sorte devam sobrepor-se à inteligência sempre associada com a determinação, quando se pretende atingir determinados objectivos.  Por aquilo que já me cansei de ver, e constatar, é que, foi exclusivamente na sorte que Nuno Espírito Santo decidiu apostar para atingir os objectivos do FCPorto que, naturalmente, consiste em ganhar títulos (no plural).

Sinceramente, posso vir a enganar-me, mas já dei por mim a questionar-me se Nuno E. Santo  assumiu conscientemente o seu papel treinador do FCPorto, no qual, aliás foi também jogador, ou se aceitou o cargo para fazer experiências técnicas e tácticas como se estivesse a lidar com um grupo de jovens da formação. De tanto falar na juventude do plantel, vou-me convencendo que o faz para camuflar a sua própria insegurança para a eventualidade de as coisas lhe correrem mal. Será que é por se lembrar do afastamento precoce das duas competições (Taça de Portugal e da Liga), que enfatiza a juventude da equipa? Se é, por que não assume a vontade de vencer, estabelecendo o padrão de jogo e os jogadores que mais garantias de êxito lhe dão?

Nuno, ainda não percebeu que esta teimosia de jogar sem extremos não é o caminho mais certo para lhe garantir os golos que ele próprio reconhece escassearem. Ou melhor, insiste neste método vezes sem conta, e sem grandes resultados, e com isso faz o favor de oferecer aos adversários, no mínimo, metade do tempo de jogo, o que significa, dar-lhes muitas oportunidades para discutir taco a taco o resultado. Esta indefinição no sistema de jogo, é para mim a principal causa da instabilidade exibicional da equipa com as consequências que sabemos. Dou de barato, que jogando assim, com a tal posse de bola estéril , possa sofrer menos golos, mas a verdade é que também marca menos, porque abdicando de extremos que cruzem para a área, torna muito previsível e mastigado o ataque. Estamos fartos de ver que assim, os adversários ficam de frente para os nossos jogadores (que ainda por cima são lentos e nem sempre assertivos na troca de bola), tornando-lhes a tarefa de evitar golos relativamente simples.

Ainda ontem, tivemos essa prova. Quando NES mudou a equipa, tirando o Diogo Jota e fazendo entrar Brahimi já tinham passado 35m da 1ª. parte e o segundo golo já foi marcado em tempo de compensações. Ainda assim, tardiamente, marcamos 2 golos, mas foram os dois golos que nos permitiram superar o 1 marcado pelo Estoril. Ou seja, é fundamental ter uma defesa coesa e atenta, mas é fundamental privilegiar com um pouco mais de coragem o ataque, caso contrário nunca mais sairemos  deste sistema de jogo angustiante e chato, sobretudo para os adeptos.

A nossa inquietude de adeptos, é resultante de vários equívocos. Estes últimos, não têm origem nossa, são provocados pela SAD, A contaminação das consequências é que nos atinge também. Gostava de adivinhar o que Pinto da Costa pensa deste futebol made in Nuno E. Santo! Não deve andar longe do que a maioria dos portistas pensa, suponho. Apenas com sentimentos diferentes. É que nós, não temos a compensação mágica que advém dos euros...