Só alguém, fora do seu perfeito juízo, pode ficar indiferente à barbárie, ocorrida na última 6ª.feira em Paris. A barbárie, é sempre condenável, venha ela de onde vier, e seja porque motivos for. Mesmo assim, convinha refrescar a memória da nossa boa consciência com o modo como aplicámos os adjectivos, porque infelizmente continuamos a avaliar estas situações com pouco rigor e uma boa dose de hipocrisia.
Quem ainda não era nascido por altura da guerra colonial, talvez hoje não saiba que em Portugal Continental chamava-mos "terroristas" aos movimentos independentistas das nossas [na altura chamadas] províncias ultramarinas. O terrorismo existiu de facto, mas os seus protagonistas eram tão terroristas como quem os combatia. Em guerras, ou guerrilhas, o terror está sempre presente porque destrói vidas supostamente em nome de causas nobres, segundo os pontos de vista de cada beligerante. Portugal ocupou territórios alheios e chamou a isso [orgulhosamente] "descobertas", mas quando foi ocupado por espanhóis e franceses, não deixou de tratar os intrusos como invasores, quiça também terroristas...
Em todos os actos de violência está presente uma certa dose de terror. É mais o impacto, que a essência do terrorismo que nos comove. É compreensível, mas não há lá muita justiça quando avaliámos o grau de importância das coisas a jusante e esquecemos a fonte.
Seja como fôr, por mais que tentemos compreender as causas que determinam os actos de extrema violência levados a cabo por esses jovens de origem árabe - alguns dos quais nascidos e criados na Europa -, que se deixaram fanatizar em nome de um Deus que lhes promete o Paraíso mas lhes rouba a vida, não consigo vislumbrar nobreza nos seus actos. Porque as causas que os movem não são causas, são ideias doentias de supremacia religiosa que resultam na morte de inocentes.
Mas... Mas, a violência tem vários escalões e origens. No início não faz sangue. Começa devagarinho em qualquer ponto do mundo, na Europa inclusivé... Em países como Portugal, dos mais atrasados, manifesta-se nas empresas que pagam cada vez pior e repudiam os direitos legítimos de quem vive do trabalho. Vai crescendo e semeando a revolta em Estados que permitem atribuições de reformas de 90 mil euros mensais (e superiores) a homens cujo prestígio pessoal é recompensado social e pecuniariamente muito acima do limiar da Justiça, quando na sua essência não passam de vulgares vigaristas nocivos a qualquer sociedade.
É assim que se fomentam todos os ódios e fundamentalismos. É nestes exemplos de cidadania que nascem as fontes de todos os terrorismos.
Nota: Acresce ao que atrás referi que, antes de bombardear os centros estratégicos do chamado Estado Islâmico, conviria estancar as suas fontes de armamento. É que, Estados Unidos, Alemanha, Rússia e a própria França, têm sido os seus principais fornecedores... E isso, já não será terrorismo? Estranho mundo este, não é?