16 novembro, 2015

Cuidado, quando falarmos de terrorismo!



Só alguém, fora do seu perfeito juízo, pode ficar indiferente à barbárie, ocorrida na última 6ª.feira em Paris. A barbárie, é sempre condenável, venha ela de onde vier, e seja porque motivos for. Mesmo assim, convinha refrescar a memória da nossa boa consciência com o modo como aplicámos os adjectivos, porque infelizmente continuamos a avaliar estas situações com pouco rigor e uma boa dose de hipocrisia. 

Quem ainda não era nascido por altura da guerra colonial, talvez hoje não saiba que em Portugal Continental chamava-mos "terroristas" aos movimentos independentistas das nossas [na altura chamadas] províncias ultramarinas. O terrorismo existiu de facto, mas os seus protagonistas eram tão terroristas como quem os combatia. Em guerras, ou guerrilhas, o terror está sempre presente porque destrói vidas supostamente em nome de causas nobres, segundo os pontos de vista de cada beligerante. Portugal ocupou territórios alheios e chamou a isso [orgulhosamente] "descobertas", mas quando foi ocupado por espanhóis e franceses, não deixou de tratar os intrusos como invasores, quiça também terroristas...

Em todos os actos de violência está presente uma certa dose de terror. É mais o impacto, que a essência do terrorismo que nos comove. É compreensível, mas não há lá muita justiça quando avaliámos o grau de importância das coisas a jusante e esquecemos a fonte. 

Seja como fôr, por mais que tentemos compreender as causas que determinam os actos de extrema violência levados a cabo por esses jovens de origem árabe - alguns dos quais nascidos e criados na Europa -, que se deixaram fanatizar em nome de um Deus que lhes promete o Paraíso mas lhes rouba a vida, não consigo vislumbrar nobreza nos seus actos. Porque as causas que os movem não são causas, são ideias doentias de supremacia religiosa que resultam na morte de inocentes.

Mas... Mas, a violência tem vários escalões e origens. No início não faz sangue. Começa devagarinho em qualquer ponto do mundo, na Europa inclusivé... Em países como Portugal, dos mais atrasados, manifesta-se nas empresas que pagam cada vez pior e repudiam os direitos legítimos de quem vive do trabalho. Vai crescendo e semeando a revolta em Estados que permitem atribuições de reformas de 90 mil euros mensais (e superiores) a homens cujo prestígio pessoal é recompensado social e pecuniariamente muito acima do limiar da Justiça, quando na sua essência não passam de vulgares vigaristas nocivos a qualquer sociedade.

É assim que se fomentam todos os ódios e fundamentalismos. É nestes exemplos de cidadania que nascem as fontes de todos os terrorismos.

Nota: Acresce ao que atrás referi que, antes de bombardear os centros estratégicos do chamado Estado Islâmico, conviria estancar as suas fontes de armamento. É que, Estados Unidos, Alemanha, Rússia e a própria França, têm sido os seus principais fornecedores... E isso, já não será terrorismo? Estranho mundo este, não é?

4 comentários:

  1. Sigo o blog há alguns meses e após os últimos posts senti uma vontade de parabenizar pelas excelentes crônicas. Gostei de suas opiniões políticas, pra já, gosto de quase tudo que fala sobre nosso FCP.

    Vinícius Andrade, 26, brasileiro, moro em João Pessoa, estudante de ciências sociais, vascaíno e portista, queria também ser tripeiro, mas não nasci na Invicta e, provavelmente, não conseguirei me mudar pra ela, como tanto desejo.

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  2. Caro Vinícios Andrade,

    o modo como fala do FCPorto diz tudo.

    Você já é tripeiro concerteza.

    Um abraço e obrigado pelas suas palavras

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  3. Caro Rui Valente, parabens pelo seu blog. Que nunca lhe doam os dedos! Na sua opinião, acha que há alguma hipotese real de este país ser um dia justo?

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  4. João Paulo Castro,

    não sei como lhe responder. A Justiça plena é algo que nenhum país do mundo se pode gabar, infelizmente. Pessoalmente, gostava que o nosso país fosse bastante melhor governado do que tem sido.

    Desgosta-me continuarmos sempre na cauda da Europa, isso é verdade.

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