10 outubro, 2014

Por favor, não fiem nunca mais os vossos votos!



Seguramente com a melhor das intenções, houve um comentador que escreveu na caixa de comentários do post anterior o seguinte; «continuem a achar que é por esta gente e pelos independentes que passa a mudança e estamos conversados».  

Pela minha parte, diria que também eu duvido da possibilidade de alguém se sentir independente depois de ter sido apoiado por um ou mais partidos políticos. Aliás, não existe a independência absoluta. Como tal, duvido igualmente que dentro dos próprios partidos haja essa independência. Cumplicidade e subserviência, sim. E duvido ainda que até os multi-milionários se sintam absolutamente independentes, embora muitos de nós não enjeitássemos estar no seu lugar... Numa sociedade onde, mais que a competência, é o capital que comanda as pessoas, é impossível ser-se independente sem abdicar do próprio direito de viver.  Posto isto, e pela experiência que em 40 anos de liberdade política consegui acumular - sem que tal liberdade significasse democracia - estou, apesar de tudo, mais inclinado a acreditar no indivíduo, no seu carácter e nas suas capacidades selectivas, do que nas organizações políticas da actualidade. Está visto, e revisto, que não funcionam em prol da sociedade. 

Existem as ideologias políticas, umas melhores que outras, onde os direitos humanos são mais vincados e defendidos, mas o problema delas é sempre o mesmo: o homem e as suas derivações para o caos. Creio mesmo que é isto que acontece com os militantes dos partidos políticos, quando passam do período de afirmação à fase do exercício do poder. Mudam rapidamente e esquecem tudo o que prometeram para convencer quem os elegeu. E como é sempre assim, deixei de contribuir para a manutenção deste status quo, não votando.

Há dias, quando casualmente ouvia  um fórum na Antena 1 [por sinal, muito concorrido],  não houve ninguém que poupásse críticas acintosas [mas justíssimas], ao actual governo e a anteriores. Toda a gente dizia aquilo que todos sabemos, mas ninguém falou do mais importante, que é a necessidade de começarmos a votar com algumas garantias, uma vez que, como está provado, a palavra dos políticos pouco ou nada vale. Uns, diziam que era preciso gente nova e e novos partidos na política. Outros, apregoavam que Marinho e Pinto é que era, que esse é quem devia governar. Mas, pergunto eu, quem lhes garante que Marinho e Pinto não os atraiçoará, como o fizeram Soares, Barrosos, Constâncios, Cavacos, Sócrates, Coelhos? 

Enfim, bem esperei que algum comentador do referido fórum dissesse o óbvio, que acrescentasse aquilo que o regime eleitoral vigente e a própria Constituição ainda não permite, nem se atreve: uma proposta de lei que confira ao voto a credibilidade que a palavra dos políticos não tem...

Por mais absurdo que pareça, a Banca não sendo grande professora para nos explicar como oferecer garantias, é sem dúvida a melhor das mestres para nos ensinar a exigí-las. Pois, a avaliar pelo silêncio, pela incapacidade de exigirmos mais segurança para as eleições, ou apenas para a sugerir, é isso que os cidadãos aparentemente consideram  menos relevante... Neste preciso momento dou comigo a imaginar o que os leitores dirão do que acabei de escrever e o que pensarão em surdina das minhas propostas (olha o iluminado, o gajo é maluco)...  

Okey! Vocês não disseram nada, mas admitindo que sim, que o aqui proposto vos parece demagógico e impraticável, que outra forma teremos para regressar às urnas sem nos sentirmos imbecilizados, sem corrermos o risco de confundirmos a urna de voto com uma   slot machine? Será pela cara, pela simpatia, pela teatralidade, pelo paleio dos candidatos? Se fôr este o caso, convenhámos que é ingenuidade a mais, já passou mesmo o patamar da burrice. Quarenta anos, meus senhores! Quarenta anos de trafulhices, de oportunismos, de traições, não bastaram para concluirmos que é um erro terrível creditar os políticos sem a mínima abonação?  

O maior de todos os demagogos é o político, o político dos novos tempos, talvez de todos. O problema, é que eles não são apenas demagogos...


08 outubro, 2014

Mau cheiro, é verdade. E para que servem os desinfectantes?














Jorge Fiel
Ninguém está a reparar no mau cheiro?



A minha filha Mariana casou com um americano. Antes de darem o nó e irem viver para Los Angeles, o Tom veio cá algumas vezes. Numa delas, foram por aí abaixo até Fátima, num Corsa alugado, para cumprirem uma promessa feita à mãe dele, que é de origem colombiana e muito católica. Quando iam a passar em Cacia, o Tom não disse nada, mas olhou para a Mariana com um ar tão espantado e horrorizado que ela teve de protestar a inocência das suas entranhas e atribuir à fábrica de celulose a responsabilidade por aquele cheiro fétido. Mas foi só na viagem de regresso, quando o mesmo mau cheiro voltou a invadir o carro no mesmo local, que ele ficou convencido - e presumo que aliviado.
Aqui há uns anos, numa visita, que meteu almoço, à Portucel de Cacia, não resisti a fazer a pergunta óbvia, e recebi a resposta não menos óbvia de que ao fim de que algum tempo se adquire uma total insensibilidade ao cheiro. Esta insensibilidade ao fedor tem, neste caso, o lado bom de poupar o pessoal da fábrica ao inferno de trabalhar num sítio malcheiroso (o cheiro está lá, mas eles não o sentem), mas tem um lado péssimo quando se aplica a todos nós, cidadãos, e está em causa a corrupção de políticos e militares, em assuntos tão nauseabundos, como o da compra, por mil milhões, de dois submarinos a um consórcio alemão liderado pela Ferrostaal.
Recapitulando e resumindo. No caso dos submarinos, os alemães provaram que houve corrupção, condenaram os corruptores e puniram a empresa com uma multa de 140 milhões de euros. Os gregos provaram que houve corrompidos e mandaram um ex-ministro para a prisão. Em Portugal? Cá não se passa nada, os dez arguidos do processo das contrapartidas foram ilibados e o relatório da comissão de inquérito, que é hoje votado no Parlamento, não conseguiu descortinar qualquer ilegalidade no processo.
Sou surdo de uma das narinas (tenho o septo nasal torto), mas apesar disso sinto que neste processo há uma data de coisas que não cheiram bem - e não estou só a falar dos 1,6 milhões de euros que o cônsul em Munique Jurgen Adolf recebeu da Ferrostaal para ajudar a vender os submarinos.
Durão Barroso, o primeiro-ministro do Governo que afundou mil milhões de euros na compra dos submarinos (e que nomeou o cônsul Adolf...), jura que nunca se encontrou com responsáveis da Ferrostaal, mas um dos administradores condenados na Alemanha garante que almoçou com ele na Baviera. Paulo Portas, o ministro da Defesa que assinou o contrato, afirma que nunca se reuniu com Hans-Dieter Mühlenbeck, mas este dirigente da Ferrostaal garante que se encontrou com ele na Fortaleza do Guincho.
O contra-almirante Rogério d"Oliveira jura que o milhão de euros que a Ferrostaal lhe depositou numa conta da UBS na Suíça são o pagamento de serviços de consultadoria. E já só cá faltavam os Espírito Santo, que nunca falham uma. A Escom recebeu a título de consultadoria (numa futura reencarnação quero ser consultor) recebeu 30 milhões de euros, que andaram a viajar pelas Ilhas Caimão, Bahamas, Suíça e Dubai. Os três administradores da Escom ficaram com 15, Ricardo Salgado distribuiu um milhão por cada um dos ramos da família, e quando interrogado sobre o destino dos restante dez milhões em falta, denunciou a existência de um sexto elemento: "Essa parte teve de ser entregue a alguém num determinado dia".
Não sei se hei de rir ou chorar com a insensibilidade da Justiça e da maioria parlamentar ao mau cheiro nauseabundo que exala do negócio dos submarinos. Mas quanto mais sei disto, mais vergonha tenho de ser português.

(do JN)

07 outubro, 2014

Sobre a atitude de Rui Moreira com o FCPorto...

... gostava de acreditar que, apesar de ter ocupado o lugar deixado por Rui Rio na Câmara do Porto em período de vacas magras, não se deixasse ficar refém da mesquinhez do seu antecessor e que (já agora) procurasse avançar com o projecto - eternamente adiado - da recuperação do mercado do Bolhão. É certo que algumas iniciativas interessantes para a cidade foram tomadas, o que se regista com agrado, mas também me parece ter havido um nítido afrouxamento relativamente à promissora Frente Atlântica... 

Pessoalmente, não encontro grandes afinidades entre os dois autarcas, por isso estranho a obstinação de Rui Moreira de recusar sentar-se na tribuna de honra do Estádio do Dragão. Não sei em que é que isso o poderá distinguir. Pelo contrário, só terá a perder se insistir em copiar o modelo agreste e anti-popular de Rui Rio. Primeiro, porque ele não é  Rui Rio, e depois porque nunca dá bom resultado imitar a personalidade de outrém. As imitações são sempre piores que os originais...   

Rui Rio pode ter sido um "herói" para os centralistas e lisboetas, pelas piores razões,  mas também foi um "herói" de Pirro para a maioria dos portuenses, que nunca vão ter motivos de vulto para se regozijarem com os seus dois mandatos. Pode não se ter envolvido em esquemas de corrupção, como outros, mas também nada fez para defender a sua cidade contra o centralismo. Foi um homem vulgar, do tipo Cavaco Silva.  

Curiosamente, além do ridículo episódio de promiscuidade com o futebol - e ridículo porque no automobilismo [que tanto ama] também a há - não tenho memória de ver Rui Rio preocupado com o promíscuo saltitar das cadeiras da política (que é a sua área) para as poltronas milionárias dos bancos e das grandes empresas protagonizado por muitos dos seus colegas de carreira, e de partido...

Para que não haja lapsos de memória, cito apenas alguns: Oliveira e Costa, de ex-Ministro da Presidência, Justiça e Defesa para Presidente do BPN (com a seriedade que sabemos), Rui Machete, ex-ministro dos Assuntos Sociais para Pres.Conselho Superior do BPN e da FLAD, João de Deus Pinheiro, ex-Min.da Educação e dos Negócios Estrangeiros para vogal do CA do BPP, Ferreira do Amaral, ex-Min.Obras Públicas (que entregou todas as pontes a jusante de V.Franca de Xira à Lusoponte) para Pres. da... Lusoponte.  São muitos, os promíscuos,  não são? Se for preciso também se arranjam mais...

Enfim, tanta matéria promíscua com colegas seus, e Rui Rio só teve olhos para o FCPorto prestando-se ao papel de corista sem rosto no miserável processo Apito Dourado! Que glória! Que épica empreitada! Pois para mim, não passou foi de um acto miserável de oportunismo político do qual nada terá para se orgulhar, se a história prestar justiça aos portuenses e se não for fantasiada por um desses escrivões avençados da actualidade.

Por isso, gostaria que Rui Moreira pensasse bem nisto e que saísse de vez dessa estranha concha  de independência para se dedicar mais à sua cidade e aos seus concidadãos. E porque não ao seu clube?