Adolfo Roque ajudou a criar um dos maiores fabricantes de revestimentos e pavimentos cerâmicos. Já não dirigia a empresa desde 2006
Adolfo Roque, um dos fundadores da Revigrés, morreu ontem, aos 73 anos, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, vítima de doença prolongada. Conhecido como o "senhor Revigrés", anunciou a sua retirada da presidência da empresa em Março de 2006, para se dedicar a tempo inteiro a obras sociais e cívicas. A mudança concretizou-se um ano depois, com a adopção de um novo modelo de governação da companhia de Barrô, em Águeda, hoje um dos maiores fabricantes portugueses de revestimentos e pavimentos cerâmicos.
Numa entrevista anterior ao PÚBLICO, José Manuel Cerqueira, actual director-geral da empresa, afirmava que Adolfo Roque era "um homem especial, de uma intuição extraordinária, que dispensa as formas de gestão dos livros". Apesar de se ter retirado da liderança, continuava a ajudar a Revigrés, sempre que solicitado, deslocando-se ao estrangeiro, por exemplo, para compra de equipamentos. Licenciado em Engenharia de Minas na Universidade do Porto, Adolfo Roque começou a trabalhar em 1962 na Companhia de Diamantes de Angola. Já em Portugal, passou pela direcção de recursos humanos da General Motors, pela direcção de produção das tintas Dyrup, ao mesmo tempo que terminava o curso de Economia.
Em 1977 junta-se a onze sócios, cria a Revigrés e, apesar de deter apenas 18 por cento do capital, depressa se assume como rosto emblemático da empresa. O patrocínio, desde os anos oitenta, ao Futebol Clube do Porto (onde era presidente do conselho fiscal) traz notoriedade internacional à companhia - a primeira em Portugal a patrocinar um clube de futebol da 1.ª Divisão. Foi director da Associação Industrial Portuense.
Com um estilo "duro e agressivo" de gestão, Adolfo Roque tinha como herói de ficção favorito Sandokan e admirava Margareth Thatcher. Lealdade e frontalidade eram as qualidades que mais valorizava nos amigos. Aconselhava os jovens gestores a "ouvir todos, mas decidir sozinho". E a escolher bem os recursos humanos. "Costumo afirmar que os bons colaboradores, mesmo sendo caros, são sempre económicos. Os fracos, por vezes, até de borla são caros", disse à revista Exame.
No último ano em que esteve à frente dos destinos da Revigrés, em 2006, a empresa facturou 42 milhões de euros e obteve um lucro de 4,3 milhões de euros. As placas de revestimento cerâmico vidrado e de revestimento e pavimento em grés porcelânico estão hoje em todo o mundo, desde os estúdios da BBC, em Londres, ao aeroporto de Moscovo ou ao estádio de futebol de Macau. A Revigrés é a única empresa de cerâmica citada no livro The Best of 180 produtos de desing português.
Segundo a agência Lusa, o funeral de Adolfo Roque está marcado para hoje às 18 horas, em Barrô, terra natal do empresário.
(Ana Rute Silva, in Público)
Nota:
Por volta dos anos 80, contactei, na região de Águeda (Barrô, fica aí), imensas pessoas, de muitas empresas locais, ligadas à indústria das bicicletas e motociclos (e outras). Todas, me falaram bem dele! Deu emprego a muita gentinha! Era um homem querido na região.
O Renovar o Porto apresenta à família e amigos de Adolfo Roque sentidas condolências.