26 setembro, 2008

AS TRÊS FACES DE PINTO BALSEMÃO

"Fiquei sem crónica". Foi assim que Graça Franco iniciou o seu artigo no Público de hoje que, por estar reservado aos assinantes do jornal, com muita pena minha não posso aqui reproduzir. Mas valia a pena ler. Não é que o artigo acrescente algo de novo, mas confirma o que escrevi ainda há dias sobre alguns circunstanciais defensores da ética na comunicação social. Só com uma diferença, é que a jornalista (por motivos óbvios) apontou as espingardas para "o guarda fiscal" que é como quem diz, para o Dr. Azeredo Lopes (responsável pela ERC), e eu fiz mira para o Comandante da Guarda, o Dr. Pinto Balsemão!
O que Graça Franco escreveu, com visível indignação, foi uma denúncia explosiva do que de mais ordinário a SIC (do Dr. Pinto Balsemão) continua a produzir em matéria de programas, ditos "recreativos". Eu não vi, nem vou ver, acreditem, mesmo que seja para melhor poder avaliar, porque é inútil. Já sei do que a casa gasta. Mas se vos disser que no referido programa se estimulam e "divertem" as pessoas com perguntas de alto nível moral e cultural, como (reprodução da cronista): "por 250 mil € seria capaz de manter relações homossexuais?". Outras: "já traiu o seu marido?", "já bateu na sua mulher?".
A jornalista não se limitou a "malhar" no lixo que a SIC do Dr. Balsemão sublimamente nos deu, malhou preferencialmente no fiscal (Dr. Azeredo Lopes), que era (como escreveu) a sua última esperança em ver o programa ser repudiado por quem de direito. A senhora jornalista esqueceu-se que hoje os cargos não são para desempenhar, são para ganhar dinheiro, importância, e fazer de conta que se desempenham. Por isso digo que atacou o elo mais fraco. Talvez quem sabe, com receio de vir a perder também o seu emprego...

Adiante. A crónica acaba por ser uma não notícia, todos no fundo concordaremos. Mas o ponto único que me suscita dúvidas sobre essa eventual unanimidade de opinião entre nós é se todos têm na mesma conta o Dr. Pinto Balsemão. A minha é baixíssima, e a vossa?

Se servir para abrir os espíritos mais complacentes, não me custa nada relembrar o que disse recentemente o patrão da SIC numa reunião do European Publishers Council em Helsínquia:

Exemplos de programas de "alta qualidade"? "Mais programas de história natural, documentários pesquisados «de forma adequada», notícias que abordem «assuntos caprichosos» de forma justa e séria, melhores comédias «inovadoras» ... e menos telenovelas, ou «exploração de exibicionistas vulneráveis» [em reality shows]", afirmou o responsável máximo da SIC.

Perante isto, apenas me ocorre levantar esta questão: da tripolar faceta da personalidade de Pinto Balsemão, em qual delas podemos nós acreditar? Na de ex-Primeiro Ministro? Na do mais alto «responsável» de um grupo empresarial de comunicação social privada? Ou, na do declamador de discursos moralistas para estrangeiro impressionar?

Afinal, estaremos nós a falar de uma, ou de três pessoas ao mesmo tempo?

PS-As aspas colocadas («») nalgum do fraseado (a vermelho) de Pinto Balsemão são da minha responsabilidade, porque não faço a mínima ideia o que querem dizer.

2 comentários:

  1. Compreendo a sua indignação relativamente à qualidade dos programas fornecidos pela cadeia de TV SIC (questão para dizer: "you make me SIC"). Creio, todavia, que falta um elo na sua crónica.

    A SIC é uma espécie de prostituta mental: fornece aquilo que os clientes querem ver! Desde que os clientes estejam dispostos a sintonizar os seus receptores na sua cadeia de TV, assim bebendo as toneladas de publicidade escondida que nos vão impindindo e garantindo um negócio de milhões, a SIC fornece. Todos os desejos mais recônditos, mais obscuros, mais negros, mais vergonhosos do espectador, a SIC está disposta a fornecer em termis limpos e descomplexados, sem perguntas nem juízos. Desde que o espectador sintonize, tem o que quer! Aliás, a SIC é uma cadeia que tem feito a sua história a produzir aqueles programas que todos criticam mas que não deixam de ver.

    Mas a questão fundamental é a seguinte: de quem é a culpa? Da prostituta que se oferece no meio da estrada ou do cliente que busca os seus serviços? Da prostituta que saceia os desejos ocultos do cliente em troca de bens materiais ou do cliente que procura os seus serviços e está disposto a pagar o preço solicitado?

    Naturalmente que a culpa é dos clientes! A SIC limita-se a proporcionar resposta à procura dos espectadores. Convençamo-nos: os espectadores gostam de merda, de degradação e de podridão! Querem ver gente a dizer que tinha relações homosexuais em troca de dinheiro, que bate na mulher, que já traiu o marido, que fez incesto consensual com a filha! Essas pessoas e esses programas são a válvula de escape de toda uma população reprimida sexualmente e moralmente que precisam de ver os outros rastejar para se sentirem bem! A população quer ver isso, quer um bode espiatório, quer uma prostituta que toda a gente critica e em cima de quem toda a gente cospe mas a quem não faltam clientes pela calada da noite, quando ninguém vê.

    A ERC não tem nada a ver com o assunto. A ERC não se deve substituir ao Ministério da Educação, que não soube elevar o nível cultural do povo, aos que pais que falharam em dar uma educação superior aos filhos, à sociedade que procura como um todo este género de coisas para expiar os seus próprios pecados. O culpado é o povo que assiste a esses programas e unicamente o povo. Se o povo quisesse documentários sobre a vida dos pinguins do Antártico ou sobre as religiões xamânicas dos Sami, então os concorrentes davam isso e a SIC perdia espectadores.

    A SIC é a prostituta e o povo o cliente. De quem é a culpa? Do Polícia que não pode impedir uma actividade legal e que está de giro a velar pela Lei (mas não pelos bons costumes, pois já não vivemos no tempo da PIDE)?

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  2. Meu caro b)

    Achei muito interesante o seu comentário por isso tomei a liberdade de o publicar em post. Aceito o seu raciocínio, embora discorde dele em alguns aspectos.

    Brevemente explicarei porquê.

    Cumpts.

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