22 setembro, 2008

OS APLAUSOS VERSUS ASSOBIOS


Hoje é segunda-feira, dia de dar um pouco de tempo e espaço ao futebol. Há quem não goste, mas há muito mais quem goste. Como a maioria (dizem os especialistas da democracia), tem sempre razão (eu não concordo muito, mas enfim), hoje vou satisfazer-lhes o ego e aproveitar para opinar, não especialmente sobre o jogo de ontem e de 4ª. feira, mas sobre o treinador Jesualdo Ferreira.
Quando um treinador termina e vence um campeonato com 20 pontos de avanço sobre o 2º. classificado, depois de ter assistido às mais infames conspirações, contra o clube de que é treinador e o seu Presidente, é quase uma aberração apontar-lhe o dedo da crítica mesmo que seja só com o mindinho. Quase... Porque Jesualdo Ferreira é uma espécie ambivalente de manager que vence mas não convence. Mesmo com vinte 20 pontos de bónus a seu favor! É verdade!
Táticas
e técnicas à parte, creio que aquilo que mais intriga os portistas em Jesualdo, é a mania que tem de falar dos jogadores e dos jogos da equipa como se fosse um simples adepto ou nada tivesse a ver com eles. É preciso, antes que seja tarde, que Jesualdo interiorize bem o princípio de que o primeiro responsável pela produção do jogo e pelos resultados da equipa que comanda, é ele. Só depois, vêm os demais treinadores-adjuntos e os jogadores. Se os jogadores não cumprem com aquilo que lhes ensina, então é porque, ou não lhes consegue passar a mensagem, ou se consegue, é porque não é a mensagem adequada.
É preciso também não esquecer que o tempo do amor à camisola já passou. Os jogadores, como todos os elementos da equipa técnica, são principescamente pagos em relação à maioria das pessoas que pagam cotas e bilhetes para os ver jogar (alguns até com muitas dificuldades). Por isso, não alinho no discurso proteccionista de que os espectadores não devem assobiar. E por que não se os assobios forem merecidos? Até nesta matéria é importante saber distinguir as coisas. O exagero é a mais pertinente.
Uma coisa, são aqueles adeptos frenéticos e hipersensíveis que, ainda mal começou o jogo e já estão a vociferar impropérios absolutamente extemporâneos e patéticos. Esses, eu condeno totalmente, e se estiver perto deles até lhe peço para se calarem. Outra coisa bem diferente, é vermos uma equipa fazer 20 minutos de futebol de alta qualidade, marcar dois golos fantásticos e, a partir daí desaparecer completamente do jogo deixando a massa associativa à beira de um ataque de nervos! Isto aconteceu quarta-feira passada e eu vi, lá no belo Dragão! E, repetiu-se ontem com o Rio Ave! E ninguém é de ferro, bolas! Eu não assobiei, mas juro que não pensei coisas boas da equipa! E do treinador...
Mas não é apenas isso que é condenável. Há outros tiques de alguns adeptos, não tão desagradáveis, mas absolutamente contraproducentes, que é aplaudir os jogadores quando passam a bola para trás ou a atiram para fora quando ela ainda está em condições de ser jogada de forma construtiva. Não é isto que vemos aplaudir em Inglaterra ou em Espanha! Aí aplaude-se sobretudo o jogo construtivo e inteligente. O espectáculo. Nós somos latinos, e os espanhóis o que são? Deixemos de ser complacentes com a mediocridade. Já não nos chega a política nacional?
Vamos lá ver se percebemos esta coisa singela que alguns "experts" e comentadores desportivos parecem olvidar: o aplauso no futebol, como em qualquer espectáculo ao vivo onde há espectadores e actores, é a mensagem que o público envia a estes últimos para lhes dizer: "bravo, estamos a gostar, belo espectáculo, estamos connvôsco, damos por bem empregue o tempo que aqui passamos, vocês merecem o que ganham!". Os assobios, têm a mesma legitimidade, só que com um significado contrário. É bom não esquecermos que o fundamental é a seriedade e a pertinencia com que aplaudimos, ou assobiamos. Se assim fizermos, os jogadores acabam por perceber. Eles são pagos para isso, e são homens de barba rija. Tratá-los com "mimo" (como já ouvi alguns), como se de criancinhas pré-adolescentes se tratasse, pode significar estragá-los. Isto claro, salvaguardando aqueles casos particulares de assimilação de um jogador muito jovem num grupo de adultos.
Há ainda outros mitos a destruir, e um deles são os opinon maker. É, por exemplo, não levarmos demasiado a sério o que dizem alguns comentadores da "redondinha". Às vezes há outros «interesses» por detrás de tanto proteccionismo aos jogadores...
Quanto ao resto, os portistas não têm razão para se enervarem, a procissão ainda vai no adro, que é como quem diz: o campeonato ainda agora começou. Mas ... vale mais prevenir.

3 comentários:

  1. Tiro o meu chapéu a este Provedor do Espectador portista: lúcido, esclarecido, a tocar nos pontos certos...sim senhor, é isso mesmo e mais uma coisa: o Jesualdo fala como um adepto ,mas um adepto daqueles sem alma, sem paixão, que não arrasta e mobiliza ninguém...um adepto pipoqueiro.
    Um abraço

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  2. Caro Rui.

    Muito bem explanado o seu post com muita lucidez.

    Efectivamentem O Jesualdo quando fala depois dos jogos parece que ele não tem nada a ver com os jogadores que treina durante a semana! Depois do jogo com o Rio-Ave, disse que os jogadores possivelmente estavam fatigados do jogo da liga dos campeões, efectuado 4ª Feira! Isto é um insulto aos jogadores ingleses, espanhóis, etc. que jogam quase o ano inteiro 2 vezes por semana!

    E vir esta semana falar em assobios, quando a equipa "mereceu" que fosse assobiada, pela péssima prestação durante largos minutos, que se repetiu em Vila do Conde.

    A procissão vai no adro, mas é preciso fazer chegar aos técnicos e aos jogadores que não podemos dar chances a estes adversários, porque para o FCPorto ganhar Títulos, tem de ser muitissimo superior aos clubes da capital do império, como está provado ao longo destes anos.

    Abraço,

    Renato

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  3. Caro Rui Valente,completamente de acordo em género e espécie. Assino por baixo.Só não percebo porque motivo temos de aguentar este tipo durante tres anos.Parabens e um abraço.

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