Quando se misturam espíritos de contradição com fanatismos clubistas, é impossível fazer passar uma opinião aos destinatários, por mais fundamentada que ela seja.
Sou portista, o meu clube afectivo é o FCPorto. Nessa lógica, apenas me interesso emocionalmente por um clube: o FCPorto. Esse afecto, ou amor, se acharem mais indicado, só sabe colocar barreiras aos seus adversários, nunca ao FCPorto. Mas o meu, não é um amor acrítico, inibidor, um amor masoquista. Isso, seria desistir de amar a perfeição, sabendo embora da impossibilidade de a alcançar, mas consciente que o caminho é esse .
Afinal, o que é apoiar o nosso clube? É vê-lo fugir da rota da competência, do sucesso a que nos habituou durante tantos anos, e não fazer nada? É constatar que o seu líder, outrora interventivo, presente, astuto e corajoso, que já não é o mesmo, e não ter a frontalidade de o dizer? Já imaginaram o que seria vermos um amigo, ou familiar querido, conduzir um veículo na direcção de um abismo e deixá-lo tranquilamente precipitar-se, sem o avisar do perigo, a coberto da nobre intenção de o apoiar e lhe provar que estamos sempre com ele? Será esta a receita para apoiar o FCPorto? Se é, eu não a subscrevo. Nunca!
Esta conversa é, como já devem ter percebido, dirigida àqueles adeptos bem intencionados, mas equivocados, que não admitem uma crítica por mais pertinente que seja. Mal comparando, e perdoar-me-à quem possa rever-se neste perfil, esta postura algo fundamentalista tem algumas semelhanças com as dos kamikazes jihadistas. Não conseguem ver para além da emoção, do fanatismo inútil.
Emoções e clubismos à parte, e voltando agora à realidade portista, o certo é que, enquanto Lopetegui fôr o treinador do FCPorto, é feio e pouco avisado torpedeá-lo com críticas acintosas. Isso não ajuda nada o clube, mas pergunto: quantos dissabores (perdas de campeonatos e troféus) estaremos nós dispostos a tolerar, se ninguém no clube nos diz nada, nos informa do caminho que está a trilhar? Alguém acredita que o Pinto da Costa dos bons tempos estaria tão passivo com o que se está a passar, que já não teria tomado uma decisão salomónica? Podem-me dizer que me estou a precipitar, que ainda nada está perdido na Champions e que ainda podemos ir ganhar a Stamford Bridge. Mas foi com esse mesmo excesso de confiança que acabamos a época anterior sem um único troféu...
Estaremos nós dispostos a repetir a mesma experiência? Da SAD portista e de Pinto da Costa já deu para perceber que agora os adeptos só existem para pagar as cotas e encher os estádios... E os adeptos, estarão dispostos a ser tratados assim? E os sócios, não acham que estará na altura de lhes pedir explicações? Não se sentirão defraudados com o projecto falido do Porto Canal? Sentir-se-ão orgulhosos e realizados com a qualidade informativa e programática de um canal que anda há anos a recorrer a programas gravados e a repetições para preencher uma grelha de programação medíocre?
Pinto da Costa foi um homem a quem sempre dei o meu apoio, sobretudo nos piores momentos da sua vida. São minhas testemunhas os meus leitores habituais. Mas nada justifica tanta sobranceria, tanta falta de consideração pelo universo imenso de portistas. Esta postura fugidia, esta presidência de inércia, este inqualificável menosprezo pela comunicação com os portistas não está à altura do contributo de apoio e amizade que sempre deles recebeu. É uma ingratidão, e fica-lhe muito mal, porque agora são os portistas, e não os seus adversários que têm razões de queixa.
Algo continua mal no reino do Dragão. E não é de agora. Aos sucessos financeiros a SAD e o Presidente não estão a corresponder com os desportivos. Será uma opção "discretamente" assumida, ou uma casualidade?
A minha intuição diz-me que é uma opção. E se assim fôr, é uma opção errada e muito pouco transparente.