05 setembro, 2014

Porto Canal, a mancha negra do FCPorto

A rapidez com que os media do futebol montaram a telenovela "Quaresma" já não me surpreende, era expectável. Não fazia ideia é que lhe iam chamar "Quaresma". Também podia chamar-se Lopetegui, Antero, ou Pinto da Costa, ainda que com o nome do presidente já muitas tenham sido feitas - sem grande sucesso -, mas que não deixaram de gerar algum incómodo a Pinto da Costa e despesas ao FCPorto com processos judiciais... Há falta de mais imaginação, os mesmos do costume, desta vez e até ver, ficaram-se, pelo nome (Quaresma, até soa bem, lembra a Páscoa), tal como nos filmes americanos, onde os enredos se repetem e só mudam os títulos...

Existe porém uma situação no FCPorto, que não é nenhuma telenovela mas pode vir a tornar-se polémica potencialmente mais grave que uma quaresmada, um grande problema, ou mesmo um grande buraco financeiro, chamado Porto Canal. Pela parte que me toca, não me podem acusar de não ter chamado a atenção para o assunto, bem pelo contrário, quase pareço o gravador do Porto Canal... 

Para já, sócios e adeptos só têm olhos para as performances desportivas da época que agora começou. O plantel foi reforçado como nunca, em qualidade e quantidade, o novo treinador parece inspirar confiança, assim como os primeiros resultados fazem subir a pique as expectativas. Pessoalmente, também me incluo na lista desses optimistas.

Seria no entanto importante que os adeptos, sobretudo os sócios, podendo participar nas Assembleias Gerais do clube, se preparassem para questionar a SAD na próxima reunião sobre a situação do Porto Canal, uma vez que da Direcção de Júlio Magalhães a comunicação com os espectadores é praticamente nula. Não é com auto-elogios, por se dizer que o Porto Canal está a crescer (palavras de Júlio Magalhães) que ele efectivamente cresce. Não sei como se pode fazer uma afirmação desta natureza, quando o que continua a ver-se são gravações sobre gravações de programas, ruidosas, cansativas, exasperantes mesmo, potenciadas com o desaparecimento abrupto dos poucos programas com alguma qualidade, como o "Pólo Norte" e o "Pena Capital", cujo efeito aumentou o vazio de conteúdos e consequentemente o recurso a mais gravações.

Não é preciso ser perito em televisão para se perceber o retorno negativo que esta forma amadora, desleixada, quase anárquica, de "dirigir" uma empresa desta natureza pode provocar nos espectadores, sobretudo naqueles (como eu) que mais desejam o seu sucesso. Já quase não suporto sintonizá-lo. Só Júlio Magalhães (e não só) parece não querer perceber isto! Prefere atirar-nos areia para os olhos.

Há outra coisa que o director do Porto Canal ainda não se dignou explicar aos portuenses (sim, porque antes de ser portistas são portuenses), que é dizer-lhes por que é que ainda não convidou Rui Moreira o Presidente da Câmara em exercício para uma entrevista, ou programa, ao contrário do que fez e continua a fazer com Luís Filipe Menezes, o candidato derrotado. Não vale a pena esconder, salta à vista, que ali à qualquer ressabiamento mal resolvido. Será um erro crasso pensar que se pode blindar uma estação de televisão como se blinda um clube. O negócio da televisão, é diametralmente oposto. Como o próprio nome diz, televisão é comunicar, atrair público para vender, gerar receitas em publicidade, nunca omitir, e ainda menos repelir espectadores (que é o que se está a fazer de modo irresponsável).

No passado recente, dada a tradicional inveja da concorrência dos clubes de Lisboa, o FCPorto, teve necessidade de se fechar devido ao sectarismo dos media centralistas e para se poder concentrar no essencial que era zelar pela conquista de campeonatos e troféus. Actualmente, como proprietário do Porto Canal essa blindagem já não faz qualquer sentido é um paradoxo, uma futilidade que fica cara.

Tenho tentado compreender o que poderá estar a passar-se entre o FCPorto e o Porto Canal que explique esta aparente dissintonia entre ambos, mas só posso mesmo imaginar. Aliás, custa-me a acreditar que o amadorismo do actual Porto Canal  passe despercebido ao Presidente Pinto da Costa. Por isso, pergunto: se o presidente sabe  que se está a passar, porque não reage, não giza uma estratégia para o canal mesmo que provisória, para acabar com aquele triste espectáculo de amadorismo? Serão intruções suas, este deixar andar? Custa a crer. Por outro lado, interrogo-me: e o Júlio Magalhães, com as responsabilidades que tem, aceita esta política absurda de esconde-esconde que lhe pode valer um atestado enorme de incompetência? Pensarão ambos que as pessoas são todas um bando de imbecis? Que raio de consideração pelo público será esta?  É verdade que em Portugal ainda há muitos imbecis por m2, mas que diabo, há também quem saiba distinguir o verdadeiro valor das coisas e não adormeça ao som do hino da Amélia Canossas.

Bem pode o FCPorto vencer muitos campeonatos que, se não começar a olhar com seriedade para o que se está a (não) fazer no Porto Canal e permitir que a imagem de amadorismo que está a deixar passar se cole ao clube, será também ele levado por arrastamento. Mais: não me parece que os sponsors estejam muito entusiasmados em investir numa estação de tv que se transformou num entediante estúdio de gravações repetidas.

Quem ver e não souber, não acredita que o Porto Canal pertença ao FCPorto. Em boa verdade, ninguém ousará dizer que o Porto Canal é o espelho do FCPorto, mas o facto é que (segundo afirmam) é pertença do clube. Ninguém pode negá-lo.

03 setembro, 2014

Un jour vous allez regressar de vez


Por incrível que pareça reparei hoje que tínhamos chegado ao fim oficial da "silly season" sem que tivesse aproveitado esse período para escrever uma crónica adequada ao estilo reinante nesta época. Se é verdade que os acontecimentos à volta do BES e do GES "estragaram" as férias a muita gente, a começar pelo batalhão de advogados que foi obrigado a fazer horas extraordinárias e a acabar nos acionistas que viram as suas poupanças reduzidas a cacos, também não é menos verdade que muitos outros setores da vida nacional (e até internacional) foram afetados por estas estórias, vendo-se obrigados a quebrar rotinas de muitos anos.

Do meu lado, vou salvar a rotina e assim sendo aqui vão três pequenas e inocentes estórias.
Primeira estória. Um motard americano meu amigo, passeando pelo nosso belo território, tomou contacto pela primeira vez com a necessidade de pagar portagens numa ex-scut no Sul do país. Uma vez que não estava familiarizado com a metodologia, foi alertado para a necessidade de ter de pagar a quantia em dívida por ter circulado nessa via sem estar devidamente habilitado para o fazer. Como é uma pessoa de boas contas, dirigiu-se a um dos locais que lhe indicaram para efetuar o pagamento, mas voltou de lá de mãos a abanar porque lhe disseram que nestes casos o pagamento só pode ser efetuado 48 horas depois e ele tinha lá ido logo no dia seguinte. Escravo da legalidade, adiou a saída do país por 24 horas e voltou, confiante, a tentar pagar depois de passadas as tais 48 horas. Verificou então que o pagamento continuava a não ser possível e a justificação que lhe deram foi que "tratando-se de motas, às vezes, demora mais, não se sabe quanto". Como é evidente, este meu amigo lá seguiu viagem, contrafeito e escusado será dizer que em relação ao pagamento, nada feito. Será que nos tais 300 mil espanhóis que viajaram em Portugal pelas scuts sem pagar não estarão muitos que só cá vieram um dia ou dois e tentaram pagar sem sucesso menos de 48 horas depois da "infração"? O meu amigo americano saiu de cá a achar que somos uns cromos. Já os espanhóis, provavelmente pensarão outra coisa bem pior.

Segunda estória. Outro amigo meu inscreveu o filho numa faculdade da Universidade Nova de Lisboa, com a antecedência que era possível ou exigida, referindo nessa altura o facto dessa matrícula estar condicionada à admissão do aluno numa outra universidade europeia a que se tinha candidatado. Veio a verificar-se algum tempo depois que o rapaz em questão foi admitido no estabelecimento que desejava, por sinal em Paris, pelo que nunca retificou a inscrição provisória efetuada em Lisboa e como é evidente não frequentou um único dia essa faculdade da capital. O pai, que por acaso até é professor universitário na mesma universidade, está a ser confrontado agora, mais de um ano depois, com a exigência de pagamento de um montante superior a mil euros que lhe é exigido como pagamento de propina, mais a multa, que é uma parte significativa, aplicada exatamente pela falta de pagamento da propina inicial. O pai do aluno já tentou várias vezes, dirigindo-se aos serviços pessoalmente e por escrito, perceber a razão de tal exigência e conhecer a legislação em que se suporta esta tentativa de enriquecimento, que ele julga sem causa, da universidade, sem nenhum sucesso. Será que é mais um corolário da política ainda agora evidenciada no último Orçamento Retificativo, de aumento de multas por tudo e por nada? No caso vertente, a informação que tem para um assunto a que não lhe dão resposta é que quanto mais tempo demorar a pagar, maior será o valor da multa a liquidar.

Terceira estória. A última e a mais curta. Ainda ontem vi, pela terceira ou quarta vez, um outdoor gigante que está no aeroporto Sá Carneiro, no piso das partidas, visível por todos os milhares de pessoas que lá embarcam ou lá se despedem de quem vai embarcar. No outdoor, obviamente feito a pensar nos nossos emigrantes que nos visitam por esta altura, pode ler-se: "Un jour vous allez regressar de vez. Fale com o BES para preparar esse dia". Será que é preciso acrescentar mais alguma coisa?

[do JN]

Nota de RoP:
Comigo passou-se algo semelhante. Este verão furtaram-me o carro. Como ainda faltavam cerca de 3 dias para prescrever o prazo de validade do IUC, entrei em contacto com a prestimosa Autoridade Tributária para comunicar o ocorrido e para enviar o comprovativo da participação que fiz num posto de comando da GNR. A resposta chegou, com o pragmatismo que se segue: 

«A Autoridade Tributária e Aduaneira apenas liquida o imposto de acordo com os elementos fornecidos por outras entidades, nomeadamente IRN e IMTT. Verifica-se que a viatura em apreço consta ainda como sua propriedade e, enquanto tal, o Imposto Único de Circulação é devido».

Respondi  para perguntar como era, no caso da viatura não ser recuperada (foi, passado 3 semanas), isto é, se me devolviam o valor do IUC, questão que ficou sem resposta. Voltei à carga, informando-os que iria pagar sob protesto, o que fiz, dois ou três dias depois do prazo expirado. Decorrido, mais ou menos um mês, recebi no correio uma notificação da AT para pagar uma coima "COM REDUÇÂO" de 25,00 euros  com um simpático prazo de tolerância de 15 dias a contar da data da mesma. 

Como percebi que isto não podia ser resolvido pela net, ou pelo correio, desloquei-me às Finanças para lhes "agradecer a deferência" e dar-lhes uns recadinhos que, calculo, não terão apreciado muito...  Pedi-lhes também que me explicassem como era possível darem-me  apenas 15 dias de "tolerância" quando a data da notificação indicava o dia 10 de Agosto e o carteiro só ma entregou no dia 1 de Setembro! Não me perguntem como, nem porquê, porque eu também não sei, o fulano que me atendeu depois de olhar para o computador chegou à conclusão que afinal a data era a da recepção e não a constante da notificação. Então, digam-me como é que eu, ou os senhores mesmo, podem provar a data da recepção se não tenho como fazê-lo? Surprise! Afinal eles (da AT) sabiam a data de entrega do documento, porque o carteiro a transmitia, mas nós contribuintes é que não, temos de confiar no que o carteiro diz! Fantástico, não é? Ainda insisti e perguntei-lhes como é que eu podia provar a recepção se nada assinei, mas eles ficaram a olhar uns para os outros com cara de parvos sem saberem o que dizer... O funcionalismo público é assim.

O facto é que, compreensão pelo que me ocorreu não houve nenhuma, e eu tive mesmo que pagar os 25,00 de multa. O Estado português "é tolerante" mas não tanto como se supõe... A tolerância está reservada a certos espíritos santos. Além de que, estas coisas de o Estado brincar com a vida de cidadãos honestos não são para tolerar. O Serrão olha para tudo com um fair play incompatível com a indignação que estes casos justificam. Por mim, continuo na minha: que se f.....a o Estado! 

01 setembro, 2014

Ó FCPorto, acorda! Para que queres o Porto Canal?

Desde que me fiz homem e comecei a pensar pela minha própria cabeça, ouvi frequentemente estas palavras: "até tens razão Rui, mas não vale a pena chateares-te, porque não vais mudar o mundo". A estes "sábios conselhos", às vezes dados por gente amiga, respondia invariavelmente que a questão nada tinha a ver com a megalómana pretensão de querer mudar o mundo, e sim com a coerência, com a seriedade intelectual, com uma forma equilibrada de estar na vida. Contudo, cheguei à conclusão que para um grande número de pessoas é mais cómodo fingir que a sensatez é sua exclusiva propriedade e mais fácil verem-me como uma espécie de extra-terrestre. Compreendo-as, mas não me convencem a mudar para os seus padrões de civilidade.

Reconheço ser bastante crítico, porque é verdade, mas também não é menos verdade que o português medio é demasiado complacente (tolerância é outra coisa) com quase tudo e por isso muito pouco exigente, nomeadamente com a qualidade dos seus governantes. Portanto, não me parece que seja eu quem precisa de mudar, até porque, por não lhes reconhecer valor, não votei em nenhum dos ministros e presidentes da República das últimas décadas, o que me dá alguma superioridade moral em relação àqueles que o fizeram. Parece soberba minha, mas não é, são factos. Que conste, ainda ninguém nos obrigou a votar, e se um dia esta garotada feita gente importante o ditar, eu não obedeço, nem que me prendam.

O enredo que os media lisbonários andam a fazer em torno da figura do Quaresma e os argumentos patéticos que deixam no ar para os fundamentar, são a prova acabada que, para eles, coerência e seriedade, tem horário flexível, consoante as conveniências de cada um (como a Constitução da República). É claro que este comportamento não é novo em Portugal, porque entretanto nunca tivemos verdadeiros líderes nas altas instituições do Estado para o moderar - por sofrerem da mesma doença - o problema talvez só possa ter solução no dia em que morrer um considerável número de pessoas...

E não se despreze o fenómeno, porque é muito grave e tem antecedentes. O campeonato nacional ainda agora começou, e como o FCPorto este ano está bem apetrechado de jogadores, tem um treinador personalizado que sabe bem o que quer e já está na frente, sem derrotas, a orquestração já foi montada para criar "casos" e desestabilizar. À falta de melhor, lembraram-se do Quaresma para dividir o Dragão, apostando na infantilidade de alguns adeptos incapazes de distinguir a árvore da floresta, incapazes de olhar para o futebol como ele é (um desporto de equipa), afinal um jogo em que o valor individual tem de casar com o colectivo e nunca separar.

Ora, sabemos que os garotitos comentadores (de cá, e de lá), que colaboram com as televisões de Lisboa são estruturalmente corruptos, mas não são burros, porque perceberam que no FCPorto há dois elos mais fracos. Um, é o próprio Quaresma que não consegue perceber que tem de mudar de comportamento se quiser ser feliz, e o outro, são aqueles "portistas" de trazer por casa, que assobiam por tudo e por nada, que se mostram incapazes de identificar os verdadeiros inimigos e de os combater.

Para já, conseguiram que um não caso pareça um caso, o que já não é pouco, para quem anda a repetir esta cassete há tantos anos. Futuramente, veremos. Receio bem que o FCPorto ainda não tenha percebido o que podia fazer para minorar eventuais estragos que destas canalhices possam advir se souber dar alguma utilidade ao Porto Canal, além de fazer gravações de gravações...