Refugiados sírios em fuga |
Não era desta maneira que em democracia imaginava ter de lidar com os governantes, mas não vejo outra alternativa. Ocupando lugares, que deviam estar apenas reservados a homens e mulheres íntegros, idealistas e excepcionalmente válidos, os governantes que temos conseguiram transformar-me num irascível político-fóbico. Quando esta espécie de parasitas violam a minha privacidade, entrando-me pela casa sem avisar através da televisão, chame-se ele Passos ou Cavaco, a minha reacção imediata é procurar o comando para mudar de canal. Não suporto ouvi-los, e não perco um segundo da minha vida a ler o que escrevem. É como um choque eléctrico. Tudo é mais importante para mim, que a razão de existir dessa gente. É triste, não é? Mas é mesmo esse, o sentimento empedernido deste cidadão em relação a pessoas que, em circunstâncias normais devia respeitar, e em circunstâncias excepcionais, admirar. Nem uma coisa, nem outra.
Ontem, a TVI dedicou um programa a entrevistar um desses inúteis: Paulo Portas. Com um moderador, mais três jornalistas para o interrogar, poder-se-ia pensar que iam preparados para o entalar com as próprias contradições, mas não. A ousadia dos nossos jornalistas não vai tão longe, limita-se a simular irreverência e a constatar, ou então a colar-se ao regime ...
Numa época em que assistimos a um novo degredo, em que morrem homens, mulheres e crianças, apenas para fugirem da morte certa nos seus países de origem, em que a própria União Europeia, se mostra incapaz de evitar a emigração de portugueses, nada disto faz sentido. Portugal continua a ser um pais de emigrantes, mas os seus governantes dizem o contrário, que não, que o país está cada vez melhor e que o desemprego baixou. Não dizem nunca que o emprego (ridículo) a que se referem, é precário, temporário e sem quaisquer direitos sociais, talvez por ignorância, coitados...
Paradoxo dos paradoxos, ou país de fenómenos de simples explicação, o desemprego sobe, a qualidade de trabalho desce, mas as vendas de Porches e Ferraris aumentam... Lá está, os jornais constatam-no alegremente, e por aí se ficam. Talvez fossem mais úteis se procurassem saber quem são os donos desses brinquedos. É que, excluindo o primeiro prémio do Euromilhões, seria do maior interesse saber quem são, o que fazem e como pagarão aos eventuais empregados, patrões tão abonados. Esses, são temas tabu, para os jornalistas. Mas eles insistem. Teimam em querer convencer-nos que fazem tudo certinho.