14 março, 2014

Ai Jesus, se fosses do FCPorto!

Da revolução dos cravos já pouco sobra de positivo. Sim, já sei que por enquanto ainda temos liberdade para dizer o que pensamos, mas daí a poder inferir-se que essa liberdade nos serve para travar as aberrações de uma "democracia" fora da lei como a nossa, vai uma grande distância.

A aldeia global clonemente mediatizada em que o mundo se tornou  não nos oferece grandes exemplos de civilidade, até porque na União Europeia actual a crise não é só económica nem financeira é, também, ética e cultural. Admito que a importação maciça de produtos norte americanos (séries televisivas, filmes, etc.), conjugada com o decréscimo vertiginoso da produção cultural europeia, terá tido alguma influência nessa crise. Os americanos não são propriamente um exemplo de civilidade e talvez resida aí, em parte, a explicação para a descaracterização e desunião dos europeus. Seja como for, nada justifica a discriminação regional e o completo deserto de seriedade que se instalou despudoradamente em Portugal.

Mas vamos ao que interessa. Alguns jornalistas que já por aqui passaram (calculo que não morram de amores por mim), devem pensar que os tomei de ponta por mera  embirração, mas se eles pensassem bem no trabalho faccioso de alguns (muitos) dos seus colegas, entenderiam a pertinência dessa "embirração".

O vídeo aqui abaixo mostra apenas mais um dos múltiplos miseráveis exemplos de má educação e de ordinarice do treinador do Benfica, Jorge Jesus. Ele agride árbitros, polícias, stewards, ele pega-se com outros treinadores, com os próprios jogadores, provoca os adversários, transgride as regras por onde passa, e não se vê ninguém (nem mesmo os jornalistas) a criticar com a mesma veemência e mediatização que por muito menos fariam se se tratasse do FCPorto.

Nos programas televisivos sobre futebol, as câmeras só têm lentes (e zoom) para as jogadas em que o FCPorto é supostamente beneficiado, e quando elas não existem, inventam-nas, ou sugerem-nas. Com os dois clubes da capital fecham os olhos, ou mudam pura e simplesmente de assunto. Isto, nas nossas barbas, e, o que é inimaginável, nas barbas de quem devia zelar pelas boas normas éticas e democráticas: os governantes. Mas como os governantes não existem para governar, estes jornalistas mercenários agradecem a inimputabilidade, crescem e vão até onde os deixarem ir. O problema é quando levam a leviandade ao ponto de procurarem influenciar as instituições da justiça desportivas em benefício de um desses dois clubes lisboetas como sucedeu com o "Apito Dourado".

Estes testemunhos encaixam como luva na irresponsbilidade dos nossos governantes. Eles não ousam comprometer-se nestas coisas da bola no sentido de as moralizar. Muito pelo contrário, rebaixam-se ao nível dos adeptos mais fanáticos, participam e tomam partido publicamente do clube de eleição. Nestes casos, até capricham em descer do altar das suas supremas "competências" sem se importarem de misturar com o povo para melhor poderem camuflar e desculpar a falta de elevação. Dito isto, pergunto: será possível dizer algo de positivo de toda esta gente?

Para os portistas não estou a dar nenhuma novidade, mas mesmo assim questiono: se estas imagens fossem de um treinador do FCPorto estão a imaginar o que seria?



13 março, 2014

As classes desclassificadas

Passos não fala, logo não tem palavra
Já aqui o escrevi várias vezes e volto ao mesmo, hoje em dia não há profissões de prestígio. Há medida que o tempo avança e a tecnologia aparentemente facilita a nossa vida, as pessoas perdem a noção das suas responsabilidades. Não direi a lengalenga passadista que "antigamente é que era bom", porque na realidade em Portugal o povo (Portugal, é antes de mais, povo) nunca teve a suprema alegria de gozar de um nível de vida semelhante ao dos países do norte da Europa. Realisticamente, Portugal, nunca, mas nunca mesmo, teve o privilegio da boa governabilidade. Pelo contrário, sempre estivemos na cauda dos mais pobres. Negá-lo, é ofensivo para a inteligência dos mais simples. No entanto, antigamente havia mais pudor, havia mais empenho pela honra, mais gosto em se sentir respeitado pela pessoa que se era.

Hoje, há mais diplomados em quase tudo. Só para dar dois exemplos, na Justiça e na Medicina, não faltam licenciados, mas poucos, em consciência, se podem orgulhar de ser verdadeiros  juízes e médicos na acepção social e deontológica da palavra. A maioria deles, contenta-se em absorver a componente técnica, cientifica e jurídica das suas profissões, em prejuízo do mais importante, que é a sua relação com as pessoas. Talvez por motivos de ordem prática, talvez por falta de tempo, talvez por ambicionarem enriquecer depressa, assimilaram arbitrariamente uma auto-confiança desproporcional às suas reais capacidades, e esqueceram-se que só as pessoas que julgam ou tratam estão à altura de os qualificar com isenção.  Quando na actualidade é esta a postura mais comum destas classes e paralelamente aumentam os casos de corrupção e de mau profissionalismo, não faz sentido, nem tolera, tanta soberba.

Uma das várias consequências de tudo isto é a intensificação das fragilidades auto-entendidas como forças. A hipocrisia tende a adensar-se, e a boa consciência a evaporar-se. Depois, assistimos a fenómenos e reacções curiosas, semelhantes às presenciadas em criminosos de delito comum que, mesmo perante provas factuais dos seus actos ilícitos se sentem ou dizem sentir-se ofendidos e até inocentes... É uma chatice, quando a máscara do prestígio social atraiçoa a do carácter por falta de comparência deste.

É claro que essa "história" dos médicos estarem envolvidos em esquemas enigmáticos, como dar consultas no mesmo dia em locais diferentes, é uma mentira pegada... Que eles nada fazem para empurrar os doentes dos centros de saúde para as suas clínicas privadas, que tudo não passa de má língua. Claro é, também, que na Justiça não há cordeiros maus, tudo é feito com o maior rigor e rectidão. Duarte Lima, está em prisão domiciliária apenas porque não há indícios de prova criminal suficientes para o meter numa prisão a sério. Nos processos Face Oculta e BPP/BPN, tudo "foi" resolvido exemplarmente. Jardim Gonçalves "foi julgado" celeremente (em 8 anos) mas o processo prescreveu por causa do mau tempo... A Justiça funciona, não há como negá-lo, temos de acreditar nisso.

Mas estes são apenas 2 simples exemplos de  profissões de prestígio em estado de falência "técnica". Os políticos carreiristas são ainda pior e os jornalistas não lhes ficam atrás. Catarina Martins disse na Assembleia da República, na cara de Passos Coelho, que "a sua palavra  não valia nada". Não é novidade que nenhum português não saiba. Mas Passos puxou logo dos galões da honra teatral, amuou, e deixou-a sem resposta.

É assim que eles cultivam o carácter: simulando que o têm. Eu, chamar-lhe-ia vigarista, ou hipócrita, e teria de saber pela boca de um Juiz a sério, onde é que estava o insulto, se me tinha limitado a colocar o adjectivo com comprovadíssima pertinência.

Que Mundo tão plástico!
 



10 março, 2014

Um Rui algo diferente do Rio...

Não há como negá-lo, sou bastante crítico para com a classe política. E pelo andar da carruagem vou ter que continuar nessa onda. Há quem critique por criticar, eu critico tudo o que é criticável e não merece tolerância. Em Portugal, há demasiados políticos incompetentes a enriquecer depressa demais para a qualidade dos seus desempenhos. Não tolero tal coisa, para mim é inaceitável. Num país onde se rouba e reclama austeridade ao povo e se vê descaradamente os "governantes" a deslocarem-se em carros topo de gama, isso não é populismo não senhor, é aridez de carácter, é a desonra do poder, é a imoralidade absoluta. Aquele tipo de imoralidade que fomenta as revoluções.

Apesar disso, consigo ser mais tolerante com o poder autárquico, e isso é simples de compreender. Ao contrário de quando estão nos Governos, os políticos nas autarquias precisam de ter uma relação de proximidade com as populações  (excepções como Rui Rio são pouco frequentes) e os seus problemas, o que esbate a frequente arrogância e o distanciamento habitual dos primeiros com os segundos e que, em certos casos, até consolida laços de alguma cumplicidade. É claro que há sempre Isaltinos Morais e Valentins Loureiros a borrarem a escrita dos que procuram honrar o seu trabalho em prol da comunidade. Nas Câmaras Municipais ainda conseguimos detectar casos de empenho e de razoável gestão, contrariamente aos governos centrais que em 40 anos de "mentirocracia" (esta tem direitos de autor...) pouco fizeram de relevante. E se falarmos de corrupção, do descontrolo flagrante com as contas públicas (Banco de Portugal versus BPP/BPN), dos casos com os submarinos onde os corruptores são punidos (na Alemanha) , e os corrompidos perdoados (em Portugal), então nem se fala.    

Por isso, sendo ainda prematuro fazer balanços, já é possível notar diferenças significativas na forma de lidar com os problemas da nossa cidade, entre Rui Moreira e Rui Rio. Enquanto Rio fechava as portas ao diálogo, mal deparava com obstáculos, deixando arrastar-se no tempo a solução, Moreira, contorna, propõe e dialoga. Isto, de per si não é um feito, mas já é uma forma inteligente de o conseguir. Tivemos recentemente a questão da Feira do Livro que os editores resolveram complicar exigindo contrapartidas da Câmara numa altura de "vacas magras". Rui Moreira simplificou. Chamou para si (Câmara) a organização do evento e mudou o local para o espaço do Palácio de Cristal, onde aliás já se realizou. Se juntarmos a estes detalhes outros não menos relevantes, como o da criação da Frente Atlântica em que se aliou à Câmara de Gaia e de Matosinhos no sentido de reforçar o poder da região e de resolver problemas comuns, parece-me justo dizer, sem cometermos o risco de nos enganarmos, que Rui Moreira pouco tem a ver com o seu antecessor. E ainda bem.