13 março, 2014

As classes desclassificadas

Passos não fala, logo não tem palavra
Já aqui o escrevi várias vezes e volto ao mesmo, hoje em dia não há profissões de prestígio. Há medida que o tempo avança e a tecnologia aparentemente facilita a nossa vida, as pessoas perdem a noção das suas responsabilidades. Não direi a lengalenga passadista que "antigamente é que era bom", porque na realidade em Portugal o povo (Portugal, é antes de mais, povo) nunca teve a suprema alegria de gozar de um nível de vida semelhante ao dos países do norte da Europa. Realisticamente, Portugal, nunca, mas nunca mesmo, teve o privilegio da boa governabilidade. Pelo contrário, sempre estivemos na cauda dos mais pobres. Negá-lo, é ofensivo para a inteligência dos mais simples. No entanto, antigamente havia mais pudor, havia mais empenho pela honra, mais gosto em se sentir respeitado pela pessoa que se era.

Hoje, há mais diplomados em quase tudo. Só para dar dois exemplos, na Justiça e na Medicina, não faltam licenciados, mas poucos, em consciência, se podem orgulhar de ser verdadeiros  juízes e médicos na acepção social e deontológica da palavra. A maioria deles, contenta-se em absorver a componente técnica, cientifica e jurídica das suas profissões, em prejuízo do mais importante, que é a sua relação com as pessoas. Talvez por motivos de ordem prática, talvez por falta de tempo, talvez por ambicionarem enriquecer depressa, assimilaram arbitrariamente uma auto-confiança desproporcional às suas reais capacidades, e esqueceram-se que só as pessoas que julgam ou tratam estão à altura de os qualificar com isenção.  Quando na actualidade é esta a postura mais comum destas classes e paralelamente aumentam os casos de corrupção e de mau profissionalismo, não faz sentido, nem tolera, tanta soberba.

Uma das várias consequências de tudo isto é a intensificação das fragilidades auto-entendidas como forças. A hipocrisia tende a adensar-se, e a boa consciência a evaporar-se. Depois, assistimos a fenómenos e reacções curiosas, semelhantes às presenciadas em criminosos de delito comum que, mesmo perante provas factuais dos seus actos ilícitos se sentem ou dizem sentir-se ofendidos e até inocentes... É uma chatice, quando a máscara do prestígio social atraiçoa a do carácter por falta de comparência deste.

É claro que essa "história" dos médicos estarem envolvidos em esquemas enigmáticos, como dar consultas no mesmo dia em locais diferentes, é uma mentira pegada... Que eles nada fazem para empurrar os doentes dos centros de saúde para as suas clínicas privadas, que tudo não passa de má língua. Claro é, também, que na Justiça não há cordeiros maus, tudo é feito com o maior rigor e rectidão. Duarte Lima, está em prisão domiciliária apenas porque não há indícios de prova criminal suficientes para o meter numa prisão a sério. Nos processos Face Oculta e BPP/BPN, tudo "foi" resolvido exemplarmente. Jardim Gonçalves "foi julgado" celeremente (em 8 anos) mas o processo prescreveu por causa do mau tempo... A Justiça funciona, não há como negá-lo, temos de acreditar nisso.

Mas estes são apenas 2 simples exemplos de  profissões de prestígio em estado de falência "técnica". Os políticos carreiristas são ainda pior e os jornalistas não lhes ficam atrás. Catarina Martins disse na Assembleia da República, na cara de Passos Coelho, que "a sua palavra  não valia nada". Não é novidade que nenhum português não saiba. Mas Passos puxou logo dos galões da honra teatral, amuou, e deixou-a sem resposta.

É assim que eles cultivam o carácter: simulando que o têm. Eu, chamar-lhe-ia vigarista, ou hipócrita, e teria de saber pela boca de um Juiz a sério, onde é que estava o insulto, se me tinha limitado a colocar o adjectivo com comprovadíssima pertinência.

Que Mundo tão plástico!
 



3 comentários:

  1. Manuel da Silva Moutinho13/03/14, 17:42

    Estamos desgraçados com estes governantes, enquanto não dermos uma vassourada nestes políticos que nos têm governado, o país vai continuar a empobrecer. Ontem o Menezes júnior, filho do Filipe, até espumava pela boca, só por causa do daquele documento assinado por 70 personalidades, a defender a restruturação da dívida," homem pequenino ou velhaco ou dançarino", consta que o gajo não sabe dançar.
    Para esta canalha, qualquer coisa que seja para defender o país, nunca é o momento oportuno, já foi assim com a regionalização, porque será que estes políticos do norte são tão fascistas?
    Abraço
    Manuel Moutinho

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  2. É voz corrente que cada povo tem o (des) governo que merece. E não há dúvida, o eleitorado português tem pelos vistos: falta de memória, muitos preconceitos (fantasmas no sótão) e ainda bastantes analfabetos ou semi-analfabetos, com capacidade de votar. Só assim se compreende que ao fim de quarenta anos de Democracia, muita gente ainda não saiba distinguir os conteúdos sérios e honestos das promessas eleitoralistas daqueles que visam unicamente aceder ao poder para depois fazerem precisamente o contrário daquilo que prometeram. Se bem que também existe um certo tipo de clientelas que se recusa a reconhecer os erros da governação e, na sua cegueira política, justifica os governantes afirmando: tem de ser assim não existe outra via! Ou porque os outros é que deixaram o país na banca rota, ou porque não há dinheiro, enfim a solução é a que está em vigor e não se pode questionar. Conclusão: "o maior cego é o que não quer ver"!

    Cumprimentos,
    Armando Monteiro
    PS - FC Porto 1 Nápoles 0. Mas uma saborosa vitória dos Dragões, que agora parecem estar no rumo certo.

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  3. Bom para os cínicos, hipócritas e salta pocinhas, mau para quem não é capaz de se rir quando tem vontade de chorar.

    Abraço

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