21 janeiro, 2015

Basta, sr. Pinto da Costa!

Quem acompanha o Renovar o Porto com regularidade, sabe quanto apoei e defendi Pinto da Costa dos abutres que o quiseram linchar na praça pública, mesmo não precisando da minha defesa para efeitos jurídicos, porque não sou advogado. Mas fiz o melhor que pude, dentro das condicionantes de um blogue, para provar ao país que o que lhe estavam a fazer era uma infâmia.

Convém entretanto lembrar, que durante o longo processo do Apito Dourado houve certa gentinha famosa da política (e não apenas) que se manteve calada e queda, a ver para que lado caíam os acontecimentos, e que não fez o que podia e devia para o moralizar, como agora fazem com o Sócrates (por exemplo). Se me solidarizei com Pinto da Costa foi por convicção profunda de que num Estado de Direito a valer, para ser levado a sério aquilo de que o acusavam, teria obrigatoriamente de implicar a abertura de processos idênticos a todos os clubes portugueses, principalmente aos dois mais populares da capital, Benfica e Sporting, coisa que nunca aconteceu, ou se aconteceu, foi logo bloqueado.

Foi portanto essa a minha grande motivação para o apoiar, além da certeza de ser a inveja, a par da cobardia dos dois clubes de Lisboa, os principais responsáveis pela maior pouca vergonha do futebol português a que alguma vez pude assistir.

Há hora a que escrevo este post está a passar na TVI o Braga-FCPorto, e o resultado está em 1-1, com o FCP a jogar com 9 unidades... Escuso-me a falar-vos do meu estado de espírito relativamente ao gangster do árbitro que a mafiosa FPF do traidor Fernando Gomes seleccionou para este jogo. A tarefa está meia concretizada, veremos se a pouca vergonha fará o resto que falta.

Mas, o que eu quero dizer hoje é isto: Pinto da Costa, com o seu silêncio teimoso, incompreensível e suicida, é co-responsável por todos os abusos que estão a cometer contra o FCPorto, e por conseguinte, pelo desânimo que se possa instalar nas estruturas e modalidades competitivas do clube.

Se o FCPorto é o que é hoje, deve-se a Pinto da Costa, à sua combatividade, ao seu inconformismo, à sua irreverência. É verdade! Só que, esse Pinto da Costa já não existe.

Se quando decide falar, é apenas para constatar factos, então, como adepto, serei eu a fazer ouvidos moucos.

PS-O jogo ainda não acabou, está empatado, mas seja qual fôr o resultado, os jogadores e o treinador foram uns heróis. Orfãos!

Antes que o rescaldo da miserável arbitrariedade de ontem se apague da memória dos distraídos, e porque é nestes momentos que devemos confrontar os paladinos da paz e da liberdade (políticos e comentadores) com as suas demagogias, obrigo-me a colocá-los perante o trabalho vergonhoso da Comissão de Arbitragem da FPF, para lhes perguntar o seguinte:

  1. Se amanhã um adepto do FCPorto decidir partir os dentes a um qualquer destes lacaios do centralismo, travestidos de árbitros, ainda terão a desfaçatez de o condenar?
  2. Adivinhando a resposta, natural, politicamente correctas, mas eticamente cínicas e provocadoras, questiono: lembram-se de um autocarro do FCPorto queimado, e da fractura craneana provocada a um adepto de hóquei em patins desse mesmo clube, por uma seita de energúmenos benfiquistas? Não, não se lembram, certamente. Se calhar, isso nem sequer aconteceu. Não é assim como essas cabecinhas pensadoras funcionam?
  3. Pensam mesmo que estas e outras ocorrências, que a comunicação social centralista branqueia religiosamente, ou omite, fomentam a paz e dão credibilidade à classe de jornalistas que as praticam? Acham que é dessa maneira que dão bom uso à sacro-santa Liberdade, sob cujo guarda-chuva abrigam a falsidade, e a aridez de carácter? Acham, não acham? Claro, que sim.
  4. E sem dúvida que têm também como correcto e natural, o encolher de ombros das instituições de segurança e de Justiça, e do próprio Presidente da República relativamente a essas situações, não é verdade? Isto é, consideram apropriada a reacção á posteriori, depois de ateado o fogo, sem ousar prevenir, preferindo ouvir discursos moralistas e de horrorosa desonestidade intelectual. Não será assim?
  5. Pois fiquem sabendo que, se isto continuar assim, se a vossa Liberdade é esmagar a Liberdade dos outros, talvez não vos assente mal uma tareia à moda antiga. Creio mesmo que é isto que vos anda a faltar. De outro modo, ninguém segura a vossa vilania. Porque, antes de mais, há o realismo, e o que ele nos diz, é que em Portugal a Justiça é uma miragem.  Por isso, a de Fafe talvez seja a que nos resta.
  6. Ah, não se esqueçam nunca de continuar a apregoar a causa do "Je suis Charlie". Fica-vos bem.

CMPorto e FCPorto

REMODELAÇÃO DAS PISCINAS DE CAMPANHÃ AVALIADA EM 2,3 ME


O presidente da Câmara do Porto disse segunda-feira à noite que a remodelação das piscinas municipais de Campanhã, que a autarquia acordou a ceder ao FC Porto por um prazo de 25 anos, custará cerca de “2,3 milhões de euros”.

Rui Moreira falava na sessão extraordinária da Assembleia Municipal que aprovou, com a abstenção da CDU e do Bloco de Esquerda, a proposta do executivo camarário de cedência gratuita daquele complexo.
“Aquele equipamento é utilizado maioritariamente pelo FC Porto e a cidade precisa desesperadamente de equipamentos desportivos. Temos de encontrar uma forma ágil de intervir e de encontrar equipamentos”, cuja construção não está prevista no próximo quadro comunitário, disse o autarca.
Neste caso, a Câmara falou com o FC Porto também no âmbito da “normalização das relações” entre as 2 instituições, que foram tensas e quase nulas nos 3 mandatos sob a liderança do social-democrata Rui Rio.
As 2 partes entenderam-se sobre a utilização das piscinas, “a Câmara encomendou o projeto” e o FC Porto comprometeu-se a executá-lo através de uma candidatura em seu nome a verbas disponíveis ainda no atual quadro comunitário de apoio.
Rui Moreira referiu que o “FC Porto terá de pagar a fatia nacional”, que equivale a 30% do investimento previsto, uma vez que apenas 70% são candidatáveis.
“Se assim não for, ficaremos com o projeto e teremos de encontrar outra forma de o pagar”, referiu.
Se correr bem, o FC Porto ficará com o equipamento à sua disposição e faz o investimento que ao fim de 25 anos reverte para a Câmara, referiu também o autarca.
“Julgo que esta é uma excelente parceria”, concluiu, salientando, contudo, que o FC Porto terá de apresentar a candidatura “até ao fim do mês”.
O PSD aprovou o acordo frisando que “a cidade tem falta de equipamentos” desportivos e “a Câmara poupa uns milhares”, sendo este um aspeto que Rui Moreira também valorizou.
O social-democrata Luís Artur realçou ainda “o normalizar” da relação com “uma grande instituição, que se chama FC Porto”.
“Politicamente, isto é de saudar”, reforçou.
O deputado bloquista José Castro também referiu que o município é deficitário em infraestruturas desportivas e aplaudiu “a rutura com a hostilização ao FC Porto”.
“Saudamos este enterrar do machado de guerra”, acrescentou, considerando, contudo, que o acordo com o FC Porto devia ter “mais garantias para a utilização pública daquele espaço”.
Para José Castro, “não é garantida à população a sua fruição”.
A CDU manifestou igualmente “algumas reservas” sobre o acordo, considerando que “não estão salvaguardadas” garantias de que a população poderá continuar usufruir das piscinas de Campanhã.
Rui Moreira respondeu que as contrapartidas e obrigações assumidas pelo FC Porto “são mais do que suficientes” para a Câmara.
“Não podíamos encontrar melhor pareceria”, aprovou, por seu lado, o PS, através de Rodrigo Oliveira.

(do jornal online Porto24)

Pois bem. Mas, qual será a resposta para tanta hipocrisia?

David Pontes
A palavra proibida
Nunca mais me esqueci de uma apresentadora de televisão que em conversa com um convidado exclamou: "Que horror! Não me fale de regionalização que fico logo maldisposta". A frase instintiva, dita com entoação de "tia" de Cascais, cristalizou para mim a reação que muita gente tem sempre que o tema versa a reorganização do Estado com a criação, prevista na Constituição, de uma estrutura de poder intermédia entre o Governo central e os municípios.
De pouco adianta recordar que Portugal persiste como um dos países mais centralizados da Europa, ou que o princípio da subsidiariedade - a tomada de decisões tão próximas quanto possível do cidadão - é um dos vetores de governação da União. O assunto tem má imprensa em Lisboa e a maior parte dos políticos recusa ter uma discussão razoável sobre o assunto, mesmo que pressionados pela necessidade de reforma do Estado.
Bem pode o presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, lembrar em crónica que "87% da despesa pública está centralizada, assim como a esmagadora parte do monstro da dívida pública", cabendo aos municípios a responsabilidade somente por 2,5% desta dívida. Bem pode porque do lado do seu partido, do PSD, o silêncio sobre o assunto é quem mais ordena.
E, no entanto, foram notáveis do PSD que vieram este fim de semana defender a regionalização, num seminário organizado pela Federação Distrital do Porto do PS, que teve o condão de fazer ouvir de novo a palavra proibida. Rui Rio considerou que a "regionalização podia ser talvez o maior abanão para alterar o sistema político" atual, enquanto Silva Peneda referiu que o desafio passa por "demonstrar que podemos ter com a regionalização um Estado mais barato e mais eficiente".
Na plateia, estava António Costa, que diz ter aprendido com a experiência de autarca e promete, se chegar a Governo, avançar, não com a palavra proibida, mas com uma "descentralização". Se calhar, já não seria mau, mas aqueles que, fora da capital, estão fartos de esperar pela regionalização sabem bem que o mais provável é que, como os seus antecessores, aquele que chegue a ser primeiro-ministro rapidamente passe, como a apresentadora, a exclamar: "Que horror!".
(do JN




                                                                                                         












































                       


Nota de RoP:  
Okey, o diagnóstico está feito há muito, e é o correcto. Agora pergunto: por que é que os homens da comunicação social quando o tema é a Regionalização não vão mais fundo? Por que é que quando estão frente a estes artistas (Rui Rio e António Costa) não os encostam à parede confrontando-os com as suas históricas falsas promessas e não lhes perguntam se estão dispostos a dar garantias aos eleitores e que não recuarão, se forem eleitos? Garantias que, obviamente não passariam pela simples palavra de honra, porque essa, há muita que a perderam, digo eu.










19 janeiro, 2015

Humor é isto. Realista, logo, inatacável.

Cartoon ELIAS O SEM ABRIGO DE R. REIMÃO E ANÍBAL F.

Então, em que ficamos senhores jornalistas, a Liberdade é ou não é incondicional?

Estado não cumpre e assobia para o lado
Afonso Camões
O Estado português deixa que se violem sistematicamente o segredo de justiça e o direito de reserva da vida privada, e assobia para o lado. Posso testemunhá-lo. Disse isso mesmo à Senhora Procuradora-Geral da República, de quem se espera que seja a guardiã dos direitos de cidadania. E que faça o que lhe compete.
Explico-me.
Primeiro, o romance de cordel.
Desconheço a dimensão da matilha, mas sei que, ainda que pouco inteligente, obedece ao dono que a mandou ir "chatear o camões". Só percebeu a terminação, mas veio. Literalmente.
Razões sanitárias inibem-me de dizer o nome da Coisa publicada que nas últimas horas, e provavelmente nas próximas, mente com todas as letras, procurando atingir o meu nome, Afonso Camões, e, por esta via, tentar minar os laços de confiança e de credibilidade na relação com os leitores que fazem do Jornal de Notícias um grande jornal nacional, sustentável, vencedor e orgulhoso da sua pronúncia do Norte.
A Coisa publicada - que lidera em Portugal o triste campeonato das condenações e dos crimes por difamação, abuso de liberdade de imprensa, de violação do direito de reserva da vida privada e outras malfeitorias escritas que tais - mente e manipula, sabe que o está a fazer, mas vai ter que responder por isso, mais uma vez. Associa-nos a um fantasioso plano conspirativo para a tomada do poder na comunicação social, a mando do antigo primeiro-ministro José Sócrates. Esse mesmo, aperreado há 59 dias sem culpa formada, detido preventivamente por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
A "novidade" que trazem, de mau "jornalismo", é velha de mais de 40 anos, tantos quantos os da relação de amizade que mantenho, com gosto e desde a minha juventude, com Sócrates.
E dizem que o avisei que ia ser detido. E que terá sido em maio, quando eu integrava a comitiva do presidente da República à China e a Macau. Ora, se o avisei, e se foi em maio, eu era administrador e presidente da Agência Lusa. Logo, não estava jornalista, muito menos diretor do nosso Jornal de Notícias. E, pelos vistos, nem sequer havia processo.
É verdade: disse-me um jornalista do grupo empresarial da Coisa que a prisão de Sócrates estava iminente. Esse mensageiro cometeu um erro: quando se tem uma informação relevante, o primeiro dever de cidadão de um jornalista livre, pesados os seus direitos e responsabilidades, é para com os seus leitores.
Ele deveria ter publicado a informação, que lhe veio, disse-me depois, por um seu camarada, diretamente da investigação, liderada pelo juiz Carlos Alexandre e pelo procurador Rosário Teixeira. Erro maior, criminoso, é ser verdade essa possibilidade: que a fuga de informação veio dos agentes da justiça, ou seja, de onde menos podemos admitir que se cometam crimes de violação do segredo de justiça.
Sim, eles falam com jornalistas!
Durante meses, o caso parecia ter ficado por ali.
Mas basta uma pequena ponta de verdade para sobre ela fazer cair a sombra de uma grande mentira. Depois da detenção de José Sócrates, a 21 de novembro, mas comentada há meses nos meios políticos e jornalísticos, começou a circular nos corredores da intriga que eu teria avisado o antigo primeiro-ministro da sua iminente detenção. Mas, agora, já como diretor do JN, o que configuraria uma grave violação do Código Deontológico. A mentira chegou, plantada, a vários jornais, mas teve sempre perna curta.
O ataque à minha reputação, mas sobretudo à independência e à credibilidade do nosso Jornal de Notícias, levaram-me a pedir uma audiência à Senhora Procuradora-Geral da República. Joana Marques Vidal recebeu-me quinta-feira à tarde, dia 15, na presença do meu diretor-executivo e do diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Amadeu Guerra, que tutela a investigação ao caso Sócrates, liderada pelo procurador Rosário Teixeira e pelo juiz Carlos Alexandre.
Narrei à procuradora parte dos factos aqui descritos. Mostrei-lhe séria preocupação pela intentona em curso, lesiva e violadora dos meus direitos, liberdades e garantias, e, sobretudo, o gravíssimo atentado à credibilidade deste JN centenário, que atravessou regimes e revoluções, mas que não é nem nunca poderá ser utilizado como instrumento de uma qualquer guerra empresarial, na disputa pelo controlo dos média portugueses.
Falei a Joana Marques Vidal das escutas de que estaria a ser alvo, da violação do segredo de justiça, da tentativa de condicionamento da minha liberdade enquanto diretor de jornal e jornalista, e da necessidade de a procuradora-geral, como guardiã dos direitos dos cidadãos, atuar para impedir esta violência e a continuação destes crimes. Disse-nos nada poder fazer e, candidamente, aconselhou-nos a consultar um advogado...
Diz a Coisa publicada que foi Sócrates que me fez diretor do Jornal de Notícias.
Sou honrosamente diretor deste grande jornal, com o voto unânime do seu Conselho de Redação, depois de ter aceitado o convite dos meus administradores, com o apoio do Conselho de Administração deste grupo empresarial. É perante eles que respondo. E é aos nossos leitores que dou a cara, cada dia.
Aqueles que se cruzaram comigo ao longo de 35 anos de carreira, que me orgulha a mim, aos meus filhos e amigos, sabem a massa de que sou feito.
Trabalhei com zelo e lealdade sob Freitas Cruz, Feytor Pinto, Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice, Francisco Balsemão, Cunha Rego, Vasco Rocha Vieira. Nos últimos anos, enquanto administrador da Lusa, trabalhei sob sete ministros, ao longo de três governos de diferentes famílias.
Não sou de deixar ninguém para trás. E guardo em casa, entre outras honrarias, a medalha de mérito da minha terra e a Medalha de Mérito Profissional que me foi atribuída em nome do Estado português.
Mas voltemos à audiência na Procuradoria-Geral da República. O diretor do DCIAP, Amadeu Guerra, considera que "não há política neste caso" e, sem que eu o tivesse questionado, sublinhou a confiança dos seus "homens no terreno" (estou a citá-lo), negando, primeiro, ter ouvido as escutas, mas, depois, confirmando ter ouvido mas não tudo.
No dia seguinte, a 16, a Coisa publicada bradava o primeiro folhetim da fantasia conspirativa, pretendendo atingir o presidente do Conselho de Administração da Global Media, Daniel Proença de Carvalho, e os seus administradores.
Quem é essa gente, que atira a pedra escondendo a mão?!
Há mais de 400 anos, Filipe II de Castela, aquele que residiu em Lisboa, topou-lhes o caráter nos avoengos, em carta enviada à mãe para Madrid: gente rasteirinha, daqueles que "sofrem mais com a ventura alheia do que com a dor própria". Dói-lhes de inveja que sejamos sãos, a crescer e melhores do que eles. E estão outra vez enganados: aqui, na casa, cumprem-se regras herdadas de gerações de grandes jornalistas, ao longo de 127 anos, e gostamos de roçar a nossa na língua portuguesa. Mas antes mortos do que na imundície em que esgravatam.
Mais luz sobre este lance põe a descoberto, também, o mais sujo e antigo dos truques das guerras comerciais que todos conhecemos: atirar lama sobre os produtos e as empresas da concorrência, para ganhar vantagem no mercado. É nessas práticas que se revelam os carateres.
Não disputaremos tal terreno.
A liberdade de imprensa não pode ser utilizada em nome do lucro ou de agendas empresariais. Nada é mais importante do que a liberdade. E são ignóbeis quaisquer tentativas de submeter a liberdade a agendas pessoais - sejam elas privadas, ou mesmo públicas.
Não podemos permitir que, a coberto de um caso mediático, empresas nossas concorrentes utilizem a mentira para tentarem ganhar vantagem.
A meses de duas eleições que convocam os portugueses para importantes escolhas, a quem aproveita a tentativa de condicionamento do JN?
Este jornal tem critérios e depende exclusivamente deles. São os da ética e do rigor profissional. Não tem ambições políticas e é indiferente a quem as tiver. Não deve obediências a partidos, autarquias, clubes, empresas ou qualquer sacristia. Mas não é nem será neutral na defesa das grandes causas, pela liberdade e dignidade do homem como medida de todas as coisas.
Contra o centralismo, a miséria, a ignorância, a inveja e a tirania, não gostamos do jornalismo mole, narcótico ou redondinho. Ao contrário, apreciamos e procuraremos acolher e cultivar a prosa culta, comprometida, por vezes revoltada - e sempre, sempre inconformada. Um jornal são milhões de palavras. E quem as escreve escreve-se a si também, no seu registo histórico.
O JN é um exercício de memória contra o esquecimento. Na batalha contra as desigualdades e na afirmação da solidariedade inclusiva, em primeiro lugar na relação de vizinhança, aí esteve e aí estará sempre o Jornal de Notícias.
Como eu compreendo o Papa Francisco quando, há poucos dias, disse que se alguém lhe ofendesse a mãe "deveria estar preparado para levar um soco". Por mim, hesito em ir às fuças cobardes de quem me quer ofender, porque resisto à ideia de meter as mãos na enxovia.
Até lá, o Senhor lhes perdoe, que eu não posso.



  (do JN)

18 janeiro, 2015

Haverá Democracia sem Liberdade ?



E  Liberdade  sem Democracia? Era a esta última questão que gostava de ter uma resposta, mas também ela honesta, sem subterfúgios, da parte de alguns fanáticos da Liberdade. Pela parte que me cabe, considero que para ambas funcionarem não devem ser nunca separadas, de contrário é como esbarrar numa parede. Foi por essa razão que ontem falei dos jornais desportivos e do péssimo serviço que prestam à Liberdade, e por conseguinte à Democracia. Paradoxalmente,parece que nem todos levam a sério aquela eloquente máxima que sugere barrar a nossa liberdade sempre que começa a liberdade de outrem. Quase toda a gente gosta de a evocar, mas lá está, mesmo quando se trata de discutir a liberdade, a eloquência depende do momento. Quando as belas frases colidem com certas conveniencias, tudo se esfuma da memória. A isto, chama-se corrupção intelectual consciente.

Há quem pense que o futebol é coisa de gente menor, de analfabetos, de grupos socialmente desinseridos que encontram nesse desporto um veículo para transferir as frustrações do quotidiano, para o bem, e para o mal. Não posso negar em absoluto esta ideia, porque contém alguma parte de verdade, o que não deve e não pode, é ser generalizada, porque isso seria refutar a realidade, seria negar o cada vez maior envolvimento no futebol de todo o tipo de pessoas, de todas as classes sociais, desde políticos, jornalistas, artistas, a grandes empresários. Mas o futebol, pelo menos em Portugal, é antes de tudo, um barómetro perfeito para medir a marcha da Democracia e da Liberdade. Por isso, há na comunidade intelectual contemporânea um tremendo fosso preonceituoso que os afasta da realidade quando se trata de debater os valores da Liberdade. Ao "esquecerem-se" do futebol e sobretudo de tudo o que gravita à sua volta, os intelectuais honestos cometem um erro crasso, porque é nele, mais do que na sociedade em abstracto, que podem detectar as maiores contradições e hipocrisias na discussão da Democracia, já que nunca é possível dissociá-la da Liberdade.  

Programas ditos desportivos, onde pouco se fala de desporto e muito se promove a clubite fanática de uma determinada região/cidade (Lisboa) do país, jornais igualmente intitulados como desportivos com iguais objectivos, onde encaixa a difamação e os julgamentos na praça pública, são uma parte importante do que gravita à volta do futebol que os intelectuais, por soberba ou cobardia, desprezam, mas  que os ajudaria muito a analisarem a sociedade real em que vivemos, assim como a aprofundar os valores da Democracia, e a aceitar, sem fundamentalismos nem receios, algumas condicionantes à Liberdade de expressão. Se o fizessem, talvez hoje a intelectualidade nacional tivesse gerado massa crítica capaz de bloquear qualquer fluxo de jornalismo fundamentalista travestido de programa desportivo como os que conhecemos, ou quem sabe, tivesse contribuído seriamente para a descentralização do país com a promoção de dabates políticos sobre a regionalização. Como sabemos, esta temática tem sido recorrentemente ignorada pelos políticos e jornalistas, e só nos é prendada por altura das eleições, como aliás o integríssimo Rui Rio e ex-anti-regionalista começa a considerar seguramente sem fins eleitoralistas... Claro que, no que me diz respeito já não vou em promessas, vou mais em garantias. Sérias.

Resumindo e concluindo: eu que amo a Liberdade como poucos, que não dou recados a ninguém para dizer o que penso, que não tenho medo de represálias, e não o tive, mesmo no tempo da outra senhora, não consigo abranger esta ânsia absolutista de Liberdade sem a implementação de algumas regras, sem a colocar nunca em perigo. Todo o abuso à liberdade de expressão é condenável, como o excesso de qualquer outra coisa. Ah, e não me venham com a verborreia lírica do recursos aos tribunais, quando  atentarem contra a nossa dignidade, porque isso é outra demagogia, outra miragem intelectual de quem ignora o preço da Justiça neste país.

Quando alguém me provar que o que se produz em jornais desportivos e em certos programas de televisão são puro exercício de Democracia, e que alguns comentadores participantes não são condicionados na sua Liberdade pelas chorudas avenças que lhes pagam, talvez eu mude de opinião. Mas, não vão poder fazê-lo, porque os próprios jamais terão coragem de o admitir, e lamentavelmente a minha opinião será a mesma de sempre.