18 janeiro, 2015

Haverá Democracia sem Liberdade ?



E  Liberdade  sem Democracia? Era a esta última questão que gostava de ter uma resposta, mas também ela honesta, sem subterfúgios, da parte de alguns fanáticos da Liberdade. Pela parte que me cabe, considero que para ambas funcionarem não devem ser nunca separadas, de contrário é como esbarrar numa parede. Foi por essa razão que ontem falei dos jornais desportivos e do péssimo serviço que prestam à Liberdade, e por conseguinte à Democracia. Paradoxalmente,parece que nem todos levam a sério aquela eloquente máxima que sugere barrar a nossa liberdade sempre que começa a liberdade de outrem. Quase toda a gente gosta de a evocar, mas lá está, mesmo quando se trata de discutir a liberdade, a eloquência depende do momento. Quando as belas frases colidem com certas conveniencias, tudo se esfuma da memória. A isto, chama-se corrupção intelectual consciente.

Há quem pense que o futebol é coisa de gente menor, de analfabetos, de grupos socialmente desinseridos que encontram nesse desporto um veículo para transferir as frustrações do quotidiano, para o bem, e para o mal. Não posso negar em absoluto esta ideia, porque contém alguma parte de verdade, o que não deve e não pode, é ser generalizada, porque isso seria refutar a realidade, seria negar o cada vez maior envolvimento no futebol de todo o tipo de pessoas, de todas as classes sociais, desde políticos, jornalistas, artistas, a grandes empresários. Mas o futebol, pelo menos em Portugal, é antes de tudo, um barómetro perfeito para medir a marcha da Democracia e da Liberdade. Por isso, há na comunidade intelectual contemporânea um tremendo fosso preonceituoso que os afasta da realidade quando se trata de debater os valores da Liberdade. Ao "esquecerem-se" do futebol e sobretudo de tudo o que gravita à sua volta, os intelectuais honestos cometem um erro crasso, porque é nele, mais do que na sociedade em abstracto, que podem detectar as maiores contradições e hipocrisias na discussão da Democracia, já que nunca é possível dissociá-la da Liberdade.  

Programas ditos desportivos, onde pouco se fala de desporto e muito se promove a clubite fanática de uma determinada região/cidade (Lisboa) do país, jornais igualmente intitulados como desportivos com iguais objectivos, onde encaixa a difamação e os julgamentos na praça pública, são uma parte importante do que gravita à volta do futebol que os intelectuais, por soberba ou cobardia, desprezam, mas  que os ajudaria muito a analisarem a sociedade real em que vivemos, assim como a aprofundar os valores da Democracia, e a aceitar, sem fundamentalismos nem receios, algumas condicionantes à Liberdade de expressão. Se o fizessem, talvez hoje a intelectualidade nacional tivesse gerado massa crítica capaz de bloquear qualquer fluxo de jornalismo fundamentalista travestido de programa desportivo como os que conhecemos, ou quem sabe, tivesse contribuído seriamente para a descentralização do país com a promoção de dabates políticos sobre a regionalização. Como sabemos, esta temática tem sido recorrentemente ignorada pelos políticos e jornalistas, e só nos é prendada por altura das eleições, como aliás o integríssimo Rui Rio e ex-anti-regionalista começa a considerar seguramente sem fins eleitoralistas... Claro que, no que me diz respeito já não vou em promessas, vou mais em garantias. Sérias.

Resumindo e concluindo: eu que amo a Liberdade como poucos, que não dou recados a ninguém para dizer o que penso, que não tenho medo de represálias, e não o tive, mesmo no tempo da outra senhora, não consigo abranger esta ânsia absolutista de Liberdade sem a implementação de algumas regras, sem a colocar nunca em perigo. Todo o abuso à liberdade de expressão é condenável, como o excesso de qualquer outra coisa. Ah, e não me venham com a verborreia lírica do recursos aos tribunais, quando  atentarem contra a nossa dignidade, porque isso é outra demagogia, outra miragem intelectual de quem ignora o preço da Justiça neste país.

Quando alguém me provar que o que se produz em jornais desportivos e em certos programas de televisão são puro exercício de Democracia, e que alguns comentadores participantes não são condicionados na sua Liberdade pelas chorudas avenças que lhes pagam, talvez eu mude de opinião. Mas, não vão poder fazê-lo, porque os próprios jamais terão coragem de o admitir, e lamentavelmente a minha opinião será a mesma de sempre.  

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