04 fevereiro, 2015

Não percebo. Nós é que somos os provincianos...

Alguma coisa está errada neste país. Corrijo! Alguma coisa não, tudo está errado neste país! Para aquela gente de Lisboa, nós não passámos de uns provincianos, nós é que temos complexos de inferioridade, eles é que são os cosmopolitas, os centros-mor da cultura avançada...

O curioso é que as notícias relevantes do país estão precisamente no Norte, e no Porto, e estão frequentemente a acontecer, saídas das várias universidades, seus principais berços.

Outro dia, falava-se que uma equipa do Porto tinha vencido um concurso internacional para levar vida a Marte. Hoje, foram notícia três investigadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto por venderem à Austrália nova tecnologia para a produção de painéis fotovoltaicos no valor de 5 milhões de euros... 

Não querendo puxar pelo meu "bairrismo" que não refuto e de que me orgulho, a verdade é que não somos nós quem se auto-promove, como acontece com Lisboa pelas razões mais comezinhas, mais ridículas até;  são entidades respeitáveis de outros países que nos reconhecem o valor, que nos honram e respeitam.

Para os nortenhos, é caso para dizer que de Lisboa, nem bons ventos nem bons casamentos...  

03 fevereiro, 2015

Assassinos da Democracia



Não sei se é por nunca terem chegado ao poder, ou se por uma questão de ética política, o certo é que não me lembro de ver alguém ligado a partidos à esquerda do PS [PCP, BE,PEV], que tenha participado em programas de televisão para falar de arbitragens, como fazem a SIC, a TVI e a falsa pública RTP. Se a razão dessa postura é deliberadamente ética, só posso aplaudir.  Se isso bastasse para me convencerem a dar-lhes o meu aval para governar, podem ter a certeza que o faria. Não tenho é culpa que esses partidos não façam mais para persuadirem o eleitorado das suas competências governativas. Ficar no conforto da oposição não é suficiente para chegar ao poder, é preciso persuadir, insistir, apresentando propostas credíveis e uma forte ambição de se constituirem como alternativa ao déjà vu governativo.

Paradoxalmente, ou talvez não,  são os políticos do PSD (Rui Gomes da Silva, Fernando Seara e Guilherme Aguiar, Bagão Félix) que mais se destacam nessa antagónica e desprestigiante actividade de comentador de futebol. Antagónica, porque um político honrado (onde estarão eles?) deve inspirar confiança a todos os cidadãos, de todas as religiões, de todos os clubes e condições sociais. Desprestigiante, porque sob a capa de adepto comum, "igual" a tantos outros, pronto a defender o seu clube, certos políticos deixam transparecer a sua verdadeira índole, de crápulas e fanáticos, dando um péssimo exemplo aos governados. Uns mais contidos que outros, a verdade é que nunca seria capaz de votar para um cargo de responsabilidade pública, por mais modesto que fosse, em nenhum desses comentadores, porque demonstram o que há de mais odioso num ser humano: o fanatismo e o ódio. Rui Gomes da Silva, não está só nessa moldura, mas é talvez o paradigma máximo do que há de pior, quer como político, quer como ser humano. Como se não lhes bastasse liderarem o tabela dos comentadores políticos, invadiram o terreno reservado ao futebol, minando o resto de fair play que ainda restava, influindo normas editoriais de comunicação, na rádio e televisão, e nos próprios jornais desportivos. 

Não sei se haverá outro país onde o descaramento dos políticos tenham ido tão longe como em Portugal, onde se atrevem a desafiar e contestar as preferênciass clubistas dos eleitores, passando anos a mostrarem um profundo desprezo por tudo o que não seja vermelho, dando como garantidos os votos de milhões (seis, dizem eles) num supremo abuso do poder. O que sei, é que programas como os que vemos em Portugal só são possíveis num país centralista e desigual como o nosso. A falta de seriedade e a discriminação são gritantes. 

Esqueçam a Jihad islâmica. Há terrorismo em Portugal? Há! Quem são os terroristas? Todos os que governaram Portugal desgovernando-o, individando-o, ignorando aquilo que todos vêem como se não fosse nada com eles. Se fosse eu a escrever a história homenageava-os numa lápide com estas palavras: aqui jazem os assassinos da democracia portuguesa.    


02 fevereiro, 2015

Lopetegui e os seus pupilos

Julen Lopetegui
Gosto de Lopetegui. Mais pela sua personalidade de líder do que pela sua maturidade técnica. Neste capítulo creio que ainda tem muito que aprender. Tem de aprimorar alguns ensinamentos técnicos aos seus jovens jogadores, aspecto que abordarei mais adiante. Mas, é na forma assertiva como vem lidando com a comunicação social do regime que me enche as medidas. Ontem, quando um desses parvalhões lhe perguntou por que não punha o Gonçalo Paciência a titular (como se a sua opinião fosse relevante), Lopetegui deixou-o de queixos caídos respondendo: fui eu quem disse a G.Paciência para ficar no clube, fui eu quem chamou Ruben Neves à equipa principal e sou eu quem decide quem deve ao não jogar. Ainda teve ensejo de responder  a outra provocação de outro palerma quando foi buscar uma declaração infeliz do treinador do clube do regime que afirmou que o FCPorto "ainda tinha de olhar para cima", referindo-se aos 6 pontos de traso da equipa portista face aos vermelhos, com este brilhante: "nós ainda podemos lá chegar (ao título), mas eles ficaram a olhar para a Europa do lado de fora". 

É bom que Lopetegui comece a perceber em que país está, como funcionam os organismos do futebol português e da comunicação social.  Precisa de saber que em Portugal não  há democracia desportiva. Qualquer treinador estrangeiro que  venha para o FCPorto devia ser devidamente instruído sobre essa realidade,  sob pena de ver o  seu  trabalho destruído  dentro e fora  do campo,  antes que se aperceba. Dantes, tínhamos um presidente que tratava disso pessoalmente, agora, vá-se lá saber porquê, rendeu-se ao silêncio. Por isso, tem de haver alguém no seu lugar que desempenhe essa função.

Agora, passando aos aspectos técnicos que Lopetegui devia refinar no seu grupo de atletas e que na minha opinião ainda não estão bem resolvidos, gostava de salientar:
  • Pressão alta. Um facto: sempre que a equipa consegue fazê-la a preceito, os resultados são positivos. O que acontece é que nem sempre o consegue, e há mesmo jogos que, quando pressiona, é defeituosamente. Pelo que me apercebi essas deficiências devem-se a uma inadequada temporização nos momentos de atacar a bola na posse do adversário. Ou é prematuro, ou tardio, o que impede a sua recuperação. Por vezes, são vários jogadores a falhar sucessivamente estes movimentos, gerando situações perigosas para o sector defensivo. O jogo (e o resultado) de ontem é um bocado enganador, porque o Paços de Ferreira não foi para o Dragão jogar muito fechado nem fez tanta pressão como costumam fazer as equipas que nos visitam.
  • Qualidade do passe. Tal como a temporização dos movimentos de pressão, o passe é um dos aspectos a melhorar. Ainda se fazem muitos passes demasiado longos ou demasiado curtos. Considero que isto nada tem a ver com a qualidade técnica dos jogadores, porque ela está lá, tem a ver sim com a juventude e a ansiedade  que ainda não está dominada, de querer fazer tudo bem, e depressa. E importa  resolver esta situação. Penso que Lopetegui devia moderar alguns jogadores dos excessos de passes para trás de calcanhar, que muitas vezes vão parar aos pés dos adversários, e instruí-los para a importância da concentração, que passa naturalmente por olharem muito bem a quem vão passar a bola. Estes detalhes são relativamente fáceis de corrigir, só dependerá, penso eu, da intensidade do treino.  
  • Motivação. Nas equipas de hoje, agrupam-se jogadores oriundos de vários países e continentes. A  Net e a globalização ainda não fazem milagres, ainda não têm capacidade para transmitir aos jogadores estrangeiros a mística, a realidade dos clubes onde ingressam. Outrora, havia mais jogadores regionais e nacionais, o que facilitava a adaptação aos clubes. Actualmente é preciso acelerar esse processo de adaptação. Os jogos no Dragão com o Benfica, e com o Sporting para a Taça, ocorreram prematuramente no calendário competitivo e são o paradigma dos 3 aspectos aqui focados, que para além da juventude do plantel podem ter sido determinantes para os resultados desfavoráveis em casa. Continuando alheados desta realidades, teremos muitas dificuldades em manter o nosso clube nos patamares de sucesso a que estamos habituados.
Como não podia deixar de ser, esta é uma opinião muito pessoal dos prós e contras do FCPorto, e do seu treinador, sendo a mais preocupante delas - como venho relevando ultimamente -, a estranha metamorfose ocorrida com Pinto da Costa.

01 fevereiro, 2015

INÊS CARDOSO
(JN)
Precisamos de mais Quixotes
Pablo Iglesias comparou o seu sonho ao de D. Quixote, mas em vez da companhia solitária de Sancho Pança teve cerca de 100 mil pessoas a rodeá-lo. O novato Podemos mostrou músculo, ontem, e encheu a emblemática Porta do Sol, em Madrid. Numa Europa que viveu uma semana cheia de anúncios, surpresas e oscilações entre esperança e medo com a viragem histórica na Grécia, chega um novo aviso de que 2015 poderá ser um ano de mudança.
Se a capacidade de mobilização do Podemos se explica, como escrevem em Espanha analistas políticos, pelo sentimento de "vergonha" que atravessa a sociedade, também em Portugal não faltam motivos para questionarmos o legado social da austeridade. O retrato do país foi esta semana sendo desvendado em sucessivos números negros: um em cada quatro portugueses está em risco de pobreza ou exclusão social e o desemprego jovem aumentou para níveis comparáveis aos do pico da crise, em 2012.
O ruído das ruas foi ensurdecedor precisamente nesse ano, a 15 de setembro, mas a impressionante mobilização de pessoas foi arrefecendo e o balão do protesto popular esvaziou-se em tentativas posteriores de contestar o programa da troika. Desde então, surgiram novos partidos e ensaios de movimentos de cidadãos que parecem desfazer-se à nascença. Em Portugal, é difícil acreditar que algo de profundamente novo irrompa na política e quebre o tradicional ritmo de alternância entre os maiores partidos.
Essa impossibilidade é encarada com alívio pelos céticos que anteveem a ruína da Grécia e olham para Pablo Iglesias como um fenómeno resultante de ligações emocionais. O que é novo assusta e ainda bem, suspiram nesta altura tantos portugueses, que podemos assistir a uma distância segura ao experimentalismo que se anuncia em Atenas.
A verdade é que estamos há muito a demitir-nos do direito a sermos protagonistas ativos do sistema e a lutar por fazer cumprir a definição de que todos temos uma palavra a dizer em democracia - e que essa palavra deve ser audível para além dos dias de ir às urnas.
A vontade de algo novo não pode ser vista como mero idealismo inconsequente, num discurso que acaba sempre a recordar os compromissos, o défice, a dívida e as taxas de juro. Mal de nós quando deixarmos de acreditar que tudo pode ser reinventado. O grande problema dos partidos políticos é precisamente essa dificuldade em se renovarem nos programas com que se apresentam ao eleitorado e nos mecanismos para ouvir e envolver os cidadãos. Precisamos de quixotes, sim - sobretudo de quixotes cujas fantasias não sejam desmentidas pela realidade 
Nota de RoP: O negrito do texto é meu, e subscrevo-o literalmente. Aliás, já aqui apresentei o mesmo pensamento à minha maneira.