02 fevereiro, 2008

Se o Porto seguisse Gaia...

A atitude relativamente ao destino a dar a velhos imóveis ou quarteirões, consubstanciada na alternativa "conservar beneficiando", ou pelo contrário "demolir", tem tido oscilações pendulares nos últimos decénios. Houve a fase "deita abaixo porque é velho" a que se seguiu a actual fase "se é velho é para conservar", sem que haja um criterioso exame prévio que defina os motivos ( históricos, estéticos, ou outros) que justifiquem a decisão de recuperar. Dado que já ouvi um ilustre arquitecto portuense exprimir este mesmo queixume, sinto-me bem acompanhado.

Vem isto a propósito da decisão da CM de Gaia de demolir as casas e casebres na encosta do mosteiro da Serra do Pilar. Pessoalmente esta medida enche-me de satisfação. Faço parte das pessoas que adoram bairros ou cidades antigas, desde que apresentem dignidade, beleza estética, limpeza e, se possível, um ambiente histórico. Tenho feito milhares de quilometros unicamente com essa finalidade. Quem negará a beleza indescritível que se respira nas ruelas de Compostela, Salamanca, Toledo, Córdoba ou Guimarães, ou em pueblos pouco conhecidos como Pedraza de la Sierra, La Alberca, Baeza, Covarrubias, Santillana del Mar, nomes a que se poderá acrescentar as portuguesas Sortelha, Monsanto, Linhares da Beira, e tantos outros?

O estado actual das escarpas sobre o Douro, no Porto e em Gaia é, em minha opinião, uma vergonha. Geológicamente impróprias para construções incipientes, esteticamente um desastre, e socialmente uma chaga.

Sonho em ver requalificadas as duas marginais do Douro, oferecendo um "estojo" adequado a um rio fantástico como esse. Fico com a esperança que esta demolição seja o "pontapé de saída" para a concretização desse sonho. Se arquitectos, paisagistas, autarcas (dos dois lados do rio), instituições, sociedade civil de um modo geral, focassem a sua atenção nessa área, reconhecendo a necessidade de mudança, alvitrando soluções, discutindo alternativas, talvez daqui a uma dúzia de anos nos pudéssemos sentir orgulhosos da nossa marginal.

01 fevereiro, 2008

As víboras do "compadrio" já começaram o cerco!

Esta irritante agitação, à volta das declarações do actual Bastonário da Ordem dos Advogados, com a (previsível) vinda a terreiro das primas-donas da corporação, manifestando-se "ofendidas" com o seu teor, sem que nada o justifique, tem apesar disso, uma serventia: a de, eventualmente, mostrar o verdadeiro rosto de quem teme a revelação pública dos seus próprios "rabos de palha". Estranhamente, há demasiada gente incomodada quando, afinal, devia manter-se tranquila, se não mesmo animada com alguém que finalmente põe o dedo na ferida e revela vontade de acabar com esta paz podre em que tem vivido a justiça portuguesa.

Quantos de nós, terão já pensado como a vida da maioria dos portugueses seria muito mais rica, justa e equilibrada, se todos, em todas as áreas da sociedade, tivessem um pouco mais de cuidado com a forma como se relacionam com os outros? Por que raio exigimos o respeito de terceiros, sem muitas vezes nos empenharmos em manter sempre uma conduta correcta, de maneira a afastar a mínima suspeita sobre a nossa idoneidade aos olhos da sociedade? E quem mais do que os magistrados, polícias, procuradores, juristas, políticos e advogados, têm o dever de colocar em prática esses princípios? Será de páraquedas avulsos que vai cair no Mundo dos grandes negócios (mem sempre claros) gente da política?


Ora, sendo público e factual, que no nosso país, os raros julgamentos envolvendo 'grandes' figuras da finança e da política, nunca chegam propriamente a sê-lo, acabando invariavelmente por prescrever, como é que ainda assim, há quem tenha o despudor de vir para os jornais e televisões armar-se em virgem ofendida quando, realmente os ofendidos são os cidadãos que assistem impotentes a esta pouca vergonha? Só falta dizer também, que a culpa (como agora gostam de dizer), é de todos nós! Uma ova!


Neste Estado de Direito torto, de "respeitáveis" répteis bem falantes, Marinho Pinto é uma rara excepção de carácter, e só espero é que não arranjem forma de o remeter ao silêncio, porque com ele, talvez possamos ter esperança de que alguma coisa mude, na forma e no conteúdo da Justiça, em Portugal. Os seus poderes são limitados, mas pode ser que, pelo menos, possa dar um bom contributo à nova geração de advogados. O que, no estado a que chegamos, já não seria mau.

31 janeiro, 2008

PACHECO PEREIRA

Como aqui previ (ah, se fosse tão fácil acertar no euromilhões), Pacheco Pereira, cegou.

Não viu, não ouviu e não quer saber.

As barbaridades (crimes) praticadas por alguns marginais, só o acordam e incomodam quando acontecem no Porto. Ontem, na "Quadratura do Círculo",não tossiu nem mugiu. Nada.

O costume. Aprendam a conhecê-lo, meus senhores.

Litério Marques


Homem simples, frontal e lutador, deu uma lição a muitos dos seus petulantes pares, que confundem a cadeira da Câmara com poleiros para soberanias mais pomposas...
Mostrou, sem complexos ou clichés intelectualóides, como se deve representar e lutar pelas populações que lhe deram o mandato da Presidência da Câmara de Anadia, e protestou ao seu lado, mesmo submetendo-se ao ferrete do labéu "demagógico" dos "politicamente correctos". E venceu.
Não é, mas se a sua actuação fosse realmente populista" (adjectivo
muito útil), seria caso para dizermos: "bendito populismo"


Litério Marques

Cuidado com as metamorfoses...








DOIS EXEMPLARES DE POLÍTICOS DE 'GRANDE VISÃO'...
SEMPRE FORAM ANTI-REGIONALISTAS, ENQUANTO ESTIVERAM EM LISBOA.
PORÉM, A MUDANÇA DE ARES PARA O PORTO FAZ DESTES MILAGRES:
AGORA, "SÃO" DOIS IMINENTES REGIONALISTAS.
ADIVINHA: POR QUE SERÁ?

30 janeiro, 2008

Corrupção!

Embora o título nos possa levar ao engano, não se trata do filme que retrata um suposto desenlace litigioso de duas conhecidas personagens.

Os protagonistas aqui são outros. Doutra estirpe. Uma estirpe muito mais "elevada", “uma criminalidade do mais nocivo para o Estado e para a sociedade” que “é praticada por intocáveis no poder”

Com estas palavras Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, embora não citando nomes ( parece-me que também não era necessário ) denunciou um conjunto de pessoas e situações que todos sabemos serem verdadeiras. Muitas virgens mostraram-se ofendidas.

O jornal 24 horas hoje fez-nos o favor de nos mostrar as (mais do que conhecidas) caras de alguns senhores que, segundo a interpretação do citado jornal, são os acusados por Marinho Pinto. Eu cá acho que o jornal é capaz de ter acertado.

Mas há mais, muitos mais dos que aqui aparecem. Estranhíssimo é que não apareçam caras de autarcas do Norte. Não é que não haja corruptos entre eles, porque os há, mas pela fama que têm eu estava à espera de pelo menos um entre os tubarões.

Hoje, novamente, Marinho Pinto voltou a fazer acusações claras. Só não as entende quem não quer.

António Alves

A "ABRUPTURA" DO PACHECO PEREIRA

Este intelectual/político/ex-político-quando-quer, reputado e bem remunerado, costuma ter os holofotes das suas preocupações apontados para uma cidade especial que, por mero acidente da natureza, foi a que o viu nascer: o Porto.

É contra a Regionalização, o que faz dele o portuense mais paciente e ingénuo que se conhece. Paciente, pela capacidade intemporal de esperar que a descentralização caia do céu. Ingénuo, por não se importar de passar por estúpido e por nos querer convencer que acreditamos na sua ingenuidade.

Por hábito (ou cisma), as suas preocupações com o Porto e suas instituições mais populares (ó, palavrão horrível) estão direccionadas para a crítica fácil. Detesta o futebol, mas com especial azedume um clube, que por acaso e para vergonha da classe política a que pertence, tem sido a única fonte de alegria e orgulho dos portuenses nos últimos 30 anos.

Pelos seus olhos de falcão, não escapa o menor acto de vandalismo que ocorra no Porto ou, de preferência no Futebol Clube do Porto. Quando tal acontece, já sabemos que os seus pregões moralistas vão ocupar uma boa parte do tempo de antena na "Quadratura do Círculo".

Estejamos portanto atentos, logo à noite, às 23h, na SICNotícias, para testarmos o estado de saúde dos seus olhos rapinantes e para ficarmos a saber se são indiferentes à presa, ou se cegam conforme a côr da dita...

Num recente jogo de futebol entre o Guimarães e o Benfica, depois de várias acções de violência provocadas por benfiquistas, um adepto do Guimarães foi apunhalado por um outro do Benfica.

Também na capital, um jovem assassinou a tiro outros dois. Vejamos, se o senhor Pacheco, vai abordar o assunto ou se, no mínimo, irá reclamar um sugestivo nome de baptismo para o processo em causa. Por exemplo: "Noites Encarnadas".

Aqui fica a sugestão.

29 janeiro, 2008

O paradoxo da prostituta

Na caixa de comentários do Avenida Central, a propósito deste post, e também do comentário do intitulado "Degolador", que é um bom exemplo duma espécie de pensamento que, a meu ver, é recorrente nestas questões da Regionalização, escrevi, por minha vez, o comentário que aqui reproduzo.

15:47Degolador disse...Pois pois...estes gajos do Porto nunca me enganaram!A falar de regionalização nuns encontros denominados "Porto: Cidade Região" ... o que eles querem sei eu.Cada vez menos me sinto inclinado a deixar cair a bandeira das 2 ou 3 regiões a norte do Douro ... é que o Porto não me está a inspirar nenhuma confiança. Para ser dependente (e explorado) por alguém, sempre prefiro ser chulado directamente por Lisboa, que já sei com funciona.

16:21António Alves disse...Rui Rio nunca foi regionalista e nunca o será. Rui Rio é apenas um oportunista profissional que vê as coisas a andar para trás (Eleição de Menezes a líder do PSD) e agora quer ser reeleito para a Câmara, pois não tem para onde ir. Como no Porto já começam a descortinar a fraude que ele é convém agora mostrar-se regionalista. Com o tempo, se for necessário, até será capaz de ir ao Dragão assistir a uns jogos.
Agora quanto ao "degolador": continue com esse pensamento e o melhor que poderá acontecer ao seu Minho será o caminho da extinção tal como está a acontecer a Trás-Os-Montes. A sua declaração de amor ao "chulo" é eloquente. É esse o paradoxo da prostituta: o chulo bate-lhe e explora-a, mas ela não o deixa porque pelo menos esse ela já conhece. Como paradigma de pobreza intelectual não podia ser melhor.17:22

Douro, Maravilha da Natureza

Tive o privilégio de conhecer de muito novo, os encantos do Douro vinhateiro. O meu avô materno tinha uma quinta perto do Pinhão e desfrutei de gloriosas jornadas de caça nos socalcos bravios da Quinta dos Canais, junto à Senhora da Ribeira, em Carrazeda de Ansiães.

Acho que nenhum nortenho ou português se deveria sentir dispensado de ver, como tantas vezes vi, o nascer do Sol no alto dos fraguedos transmontanos, adoçados por um luxuriante tapete de socalcos que nos alonga o olhar até aos tranquilos meandros do Douro.

Esta verdadeira impressão digital duriense que nos é dada pelos socalcos torneantes do Douro, é tanto mais impressiva quanto nos apercebemos da rudeza daquele solo agreste e seco, sem acessos que permitam o benefício da tecnologia.

Não conheço melhor demonstração do carácter dos nortenhos – o labor, o engenho, o sacrifício, a generosidade, do que estas incríveis marcas do Douro, arrancadas de forma tão profunda às entranhas de uma natureza indomável e arrebatadora.

Na próxima terça-feira é apresentada pela AETUR a campanha da candidatura do Douro a “Maravilha da Natureza” que coloca o Vale do Douro entre os 150 nomeados àquele titulo junto da “New Seven Wonders Foundation”.

Depois da distinção ditada em 2001 pela Unesco de consideração do Douro Vinhateiro como Património Mundial da Humanidade, julgo ser obrigação dos nortenhos e dos portugueses amplificarem os efeitos de divulgação desta campanha e desta candidatura.

O Jornal Público que hoje dá à estampa esta notícia, publica curiosamente na página seguinte uma entrevista com o Presidente da CCDRN, Carlos Lage em que este reconhece que aquela instituição (que tantas vezes, por critérios próprios, condiciona ou prejudica investimentos privados de qualidade) não foi sequer ouvida acerca da construção na região da nova barragem do Tua.

Antes que o assunto ganhe os patéticos contornos de Foz Côa, vale a pena que nos assegurem que a preservação do Douro e a qualificação do seu património, serão sempre um pressuposto desta ou de qualquer outra intervenção.

Ou será preciso pedir a Rui Moreira e a Francisco Vanzeller que façam eles o trabalho de casa?

António de Souza-Cardoso


Nota de "Renovar o Porto":


Para alguém que, como António de Souza Cardoso, descreve de modo tão sentido os encantos da magnética região duriense, é quase um crime de "lesa-região" divorciar-se dela noutros contextos... Parabéns, assim mesmo.

Graves crimes, branda justiça

"uma sociedade 'off shore' comprou, em 7 de Dezembro passado (quando já eram conhecidas por alguns "happy few" bem colocados, as conclusões do LNEC sobre Alcochete), uma herdade na zona onde vai ser construído o novo aeroporto por 250 milhões de euros - 6,52 € o m2 -..."

Tenho de voltar à carga. Afinal, para onde querem levar este país?

Se o receio das entidades ligadas à Justiça, é o da generalização das suspeitas, então, só têm é de arrepiar caminho e tratar do mal à nascença, com uma actuação mais célere e competente face à criminalidade. Se não sabem, ou não lhes são facultadas as condições necessárias para o fazer, protestem, ou então, demitam-se! A lei do silêncio não resolve nada, apenas paraliza a prática eficaz da Justiça e estimula a criminalidade.

Andámos nós, a discutir a Regionalização, a centralização abusiva do Estado, convencidos que se trata apenas de uma questão de autismo político, mas a realidade é que o problema é muito mais grave e profundo do que se imagina.

As declarações do bastonário da Ordem dos Advogados, apesar de nada terem de insólitas, relativamente ao que é do conhecimento público, continuam a agitar de forma estranha as águas mansas em que, preferencialmente, gostam de nadar as elites do sistema judicial. Por que será?

Marinho Pinto terá, subitamente, inventado a "pólvora" da corrupção, ou a magistratura portuguesa andará convencida que o mundo do crime no nosso país se resume aos processos do "Apito Dourado" e da "Noite Branca" confinado a um clube e a uma cidade específicos? Ontem mesmo, houve dois crimes mortais na região de Lisboa e, até ver, não consta que a Procuradoria tenha atribuído um nome de "baptismo" à infracção com o aparato que dedicou a casos similares ocorridos no Porto.

Num regime, tido como democrático, ninguém pode ser ameaçado por denunciar situações desta gravidade, de mais a mais, quando somos diariamente confrontados com escândalos envolvendo gente ligada ao poder, cujo comportamento dúbio nada de honesto prenuncia.

Este artigo de Manuel António Pina, à luz do últimos acontecimentos, pode muito bem vir a merecer-lhe (e a nós também) um processo crime ou intimação para se remeter prudentemente ao silêncio, porque o seu conteúdo - mais do que estas peneirices corporativistas da justiça - devia, esse sim, merecer uma investigação empenhada da Procuradoria Geral da República, de forma célere e com nobre desfecho.

Na Justiça, subsiste uma estranha e comprometedora parcimónia, quanto se põem em causa figuras ou instituições de relêvo, o mesmo não sucedendo quando os visados são gente comum ou pequenas associações, deixando desde logo, a ideia de juízos diferentes para estatutos diferentes, o que, vem ferindo de morte a confiança que devia merecer a todos os cidadãos.

PS-Depois disto, ainda há quem tenha a "lata" de dizer (e vender a ideia), que passamos a vida com lamúrias. Estes seres bem pensantes só podem (também eles) estar cheios de rabos de palha...

28 janeiro, 2008

As 'sábias' declarações de Augusto Mateus

A propósito deste artigo do Jorge Fiel publicado no "Bússola", não posso deixar de fazer uma observação às declarações de Augusto Mateus.

"O Porto?Esqueça o Porto! O Porto não vai a lado nenhum. Quer ser igual a Lisboa. As pessoas do Porto não se entendem umas com as outras e só sabem estar a lamentar-se. Esqueça o Porto!"

Independentemente da pouca razoabilidade evidenciada nestes comentários, o estilo de discurso deste deputado socialista, não deixa de alinhar pelo mesmo diapasão, armadilhado de verdades absolutas, típicas do discurso centralista.

Vamos lá a ver: o Porto foi sempre assim? Foi? Nunca teve vida própria? Esteve sempre dependente da mamã (madrasta) Lisboa?

Nunca teve comércio, serviços, nem indústria próprios ? E Bancos, também não? E as pessoas do Porto? Sofreram de alguma súbita e profunda alteração genética para agora não conseguirem entender-se entre elas? Mas que mistério é esse do Porto querer ser igual a Lisboa? O que se passa afinal? Agora, também já nos querem transformar em invejosos de mau gosto?

Admitindo que sim, o que terá provocado tal mudança? Talvez o Centralismo "Democrático", não? Que me diz senhor Augusto Mateus, será isso que nos quer dizer, mas não tem coragem para o assumir com palavras simples? Quererá Vossa Senhoria comprometer as valências da democracia contemporânea em prol das do Estado Novo, caduco e repressivo? Compreende-se que não queira, porque isso levar-nos-ia a somar mais dúvidas ao oásis político actual (igual ao que já 'vivemos' na dinastia Guterres), não é?

Por que será, que em mim não pega esta lenga-lenga masoquista com que pretendem etiquetar os portuenses para explicar uma crise, da qual, nunca foram os primeiros e principais responsáveis?

Que os políticos do regime, usem e abusem desta autêntica pomada milagreira como argumento, é repulsivo, mas dada a sua subida qualidade, até podemos compreender. Agora, o que já custa compreender, é que muitos cidadãos do Porto se deixem confortar por estes "agasalhos" moídos de traça e dancem ao som da mesma melodia.

Declarações deste tipo, são autênticos atestados de menoridade que nos deviam indignar e revoltar, por isso, as rejeito com toda a veemência. A elas e aos seus autores.

ANTÓNIO MARINHO PINTO (O BASTONÁRIO)

Longe de mim, pôr em causa ou sequer insinuar, a utilidade daqueles, que pelos meios mais variados, procuram apresentar soluções melhor ou pior sustentadas, para os imensos problemas que atravessam o país de Norte a Sul, com gravidade acrescida e comprovada no Porto/Norte Interior.

Nos jornais, rádios, televisões e blogues, não falta quem dê o seu melhor, para tentar mudar o país. Como num fastidioso jogo de xadrês, movem-se pessoas como se de pedras de tabuleiro se tratasse, sugerem-se novas lideranças, criticam-se e duvida-se de muitas outras. Em vão?

Frequentemente, o excesso de voluntarismo leva-nos a eleger para certas "missões", personalidades que nos parecem credíveis, mas depressa nos vemos compelidos a moderar os ímpetos, por efeito das suspeitas que sobre elas, de repente, se abatem. É incontornánel.

Se na justiça, na saúde, na educação, na economia e na própria actividade política, pouco ou nada funciona, como poderemos nós alterar a situação, dentro da chamada legalidade democrática? Será justo para as populações, condicionar a sua acção interventiva na vida política aos mecamismos "legais" e constitucionais vigentes e obrigá-las a tolerar intemporalmente o desgaste provocado nas suas vidas por actuações desastrosas de políticos irresponsáveis?

Os últimos acontecimentos que rodeiam a classe política situada nas esferas do poder (PS e PSD), torna-lhes cada vez mais difícil esconder o "rabo", e os exemplos de seriedade que têm dado ao país não são propriamente recomendáveis, tanto na aparência, como na substância. O que nos resta então fazer em relação a estas realidades? Suportá-las? Em nome de quê? De uma liberdade de bolso rôto, que nos vai "deixando" desabafar, mas que impede os nossos filhos ou netos de arranjar emprego e planificar o futuro, mesmo que tenham formação técnica e académica?

Em vez de andarmos para aqui, em blogues temáticos, entretidos a discutir o sexo dos anjos, obrigados a mudar de opinião à velocidade da luz, não seria mais inteligente procurarmos e exigirmos novas regras para o fortalecimento do regime democrático? Falando em sentido figurado, será própria de uma sociedade democraticamente evoluída, a nossa permissividade face aos sinais evidentes de corrupção e de tráfico de influências patenteados por aqueles que, por mandato nosso, detêm e abusam do Poder?

A coragem (que, indignada e categoricamente me recuso a rotular como "populista"), revelada pelo bastionário da Ordem dos Advogados, é a todos os títulos louvável, tanto mais, quanto é publicamente conhecida a hipocrisia corporativista deste tipo de instituições, que mais do que para servir os interesses dos seus membros, servem os interesses inconfessáveis dos mais poderosos e comprometidos com os vícios do regime.

Não será por acaso, que são os partidos do poder que mais se melindram com as declarações de Marinho Pinto. O que vai ser interessante saber, é como será conduzida a investigação delas decorrentes e, sobretudo, como irão acabar. Se a tradição continuar a ser o que é, o destino deste processo será a sua prescrição temporal ou então (o que não seria surpresa) o afastamento compulsivo do actual bastonário dos advogados. Estejamos atentos, e vamos lá a ver, se não iremos, mais uma vez, ter uma nova versão do significado da palavra "populismo" - muito útil na velha argumentação política -, que em puro e bom português quer dizer: "falar de mais", ser "inconveniente", falar verdade".

Por isso, Marinho Pinto, não tem que provar coisa nenhuma. Disse (seguramente com conhecimento de causa), apenas o que todos já sabem mas não têm seriedade para o admitir. Investigar, é a função das polícias e das procuradorias competentes.

Se há por aí, quem considere populista, denunciar estas desprezíveis ocorrências, seria bom que percebessem que a tentativa de as silenciar pode ser considerada ou interpretada como manifesta cumplicidade criminal, o que, saliente-se, é muito mais grave.

Do que precisamos, antes de tudo, é de gente comprovadamente digna, para os cargos públicos, mas para tal, será imprescindível que o cidadão disponha de outros mecanismos legais, capazes de acompanhar e examinar o seu desempenho de modo mais interventivo e eficaz, em tempo útil.