A atitude relativamente ao destino a dar a velhos imóveis ou quarteirões, consubstanciada na alternativa "conservar beneficiando", ou pelo contrário "demolir", tem tido oscilações pendulares nos últimos decénios. Houve a fase "deita abaixo porque é velho" a que se seguiu a actual fase "se é velho é para conservar", sem que haja um criterioso exame prévio que defina os motivos ( históricos, estéticos, ou outros) que justifiquem a decisão de recuperar. Dado que já ouvi um ilustre arquitecto portuense exprimir este mesmo queixume, sinto-me bem acompanhado.
Vem isto a propósito da decisão da CM de Gaia de demolir as casas e casebres na encosta do mosteiro da Serra do Pilar. Pessoalmente esta medida enche-me de satisfação. Faço parte das pessoas que adoram bairros ou cidades antigas, desde que apresentem dignidade, beleza estética, limpeza e, se possível, um ambiente histórico. Tenho feito milhares de quilometros unicamente com essa finalidade. Quem negará a beleza indescritível que se respira nas ruelas de Compostela, Salamanca, Toledo, Córdoba ou Guimarães, ou em pueblos pouco conhecidos como Pedraza de la Sierra, La Alberca, Baeza, Covarrubias, Santillana del Mar, nomes a que se poderá acrescentar as portuguesas Sortelha, Monsanto, Linhares da Beira, e tantos outros?
O estado actual das escarpas sobre o Douro, no Porto e em Gaia é, em minha opinião, uma vergonha. Geológicamente impróprias para construções incipientes, esteticamente um desastre, e socialmente uma chaga.
Sonho em ver requalificadas as duas marginais do Douro, oferecendo um "estojo" adequado a um rio fantástico como esse. Fico com a esperança que esta demolição seja o "pontapé de saída" para a concretização desse sonho. Se arquitectos, paisagistas, autarcas (dos dois lados do rio), instituições, sociedade civil de um modo geral, focassem a sua atenção nessa área, reconhecendo a necessidade de mudança, alvitrando soluções, discutindo alternativas, talvez daqui a uma dúzia de anos nos pudéssemos sentir orgulhosos da nossa marginal.
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Completamente de acordo consigo.
ResponderEliminarHá outro espectáculo do mesmo tipo, mas em maior escala, na escarpa da margem direita do Douro. Quem vem do sul e atravessa a ponte do Freixo, o casario desqualificado que se pode observar é outra vergonha. São estas permissividades que não se compreendem e nos fazem questionar o que é que as autoridades andaram a fazer todos estes anos para deixarem as coisas chegar a este ponto.