Segui com natural interesse e razoável expectativa o 3º Encontro Porto Cidade Região, uma muito louvável iniciativa da Universidade do Porto que assim assume o seu insubstituível papel de catalizador de reflexão e de procura de novos caminhos para o desenvolvimento regional.
Teremos naturalmente que esperar pela redacção das suas conclusões para uma percepção clara do peso que algumas extracções entretanto feitas pelos órgãos de comunicação social terão no relatório final, desde logo o relatado consenso à volta da necessidade da Regionalização que, com a completa conversão de sectores anteriormente renitentes, como é o exemplo de Rui Rio, daqui só pode sair reforçada.
O que motiva este meu impulso para intervir no espaço público é a ausência deste encontro de um tema que penso incontornável, quer pensando no desenvolvimento económico e social strictu sensus da região quer na Regionalização: o da informação/comunicação social.
Tenho a certeza de que é um sector absolutamente estratégico, custa-me perceber que ele não tenha estado no centro das reflexões deste considerável conjunto de “massa crítica” reunido para debater o futuro regional, o nosso futuro.
Dois vectores, entre outros, possíveis de avocar para perceber a importância da informação/comunicação para o desenvolvimento regional.
A identidade. A comunhão de interesses, a proximidade social e uma definição cultural mínima são pontos centrais para se ganhar a opinião pública para um projecto tão estrutural e ao mesmo tempo polémico como é a Regionalização. Explicar as vantagens económicas e sociais da constituição em Região, relevar o conjunto de características e de costumes que unem as populações e aprofundar a cultura que faz a diferença com outras regiões não podem deixar de ser objectivos dos defensores do processo político que levará até à Regionalização (com ou sem referendo).
A propriedade e os conteúdos: Em que terreno se fará esta autêntica batalha ideológica em prol da Região Norte? Claramente na comunicação social. E quem domina a comunicação social, na sua propriedade na opinião publicada? Não são claramente adeptos da Regionalização ou sequer de uma descentralização políticio-administrativa minimamente séria.
Este tem sido um terreno (a par do sector bancário) em que o centralismo nunca facilitou.
Desde a atribuição das rádios regionais, com a derrota da Rádio Nova em favor de uma Rádio Press que não passou de um instrumento para chegar ao que é hoje a cadeia TSF, que nunca cumpriu o espírito de uma Lei que na sua origem apontava para a existência de uma emissora regional (onde está ela?); passando pela privatização do “Jornal de Notícias”, primeiro negado ao comendador Gonçalves Gomes que quis comprá-lo e de pois literalmente “roubado” à cooperativa dos seus jornalistas que tinha o apoio do Grupo Amorim; pela atribuição das licenças de TV privadas, com a Sonae a ser preterida em favor da Igreja, que depois, como era previsível, não aguentou o projecto e passou-o a terceiros; o fecho da NTV, em que a opção política se sobrepôs claramente ao interesse regional; com a recente venda do conjunto de publicações do grupo Lusomundo em que uma vez mais a Sonae ficou para trás…
E se formos aos conteúdos, onde está a expressão regionalista nas colunas ou nos espaços opinativos das rádios e das televisões? Contam-se pelos dedos os colunistas claramente comprometidos com opções regionalistas e a muitas vezes acantonados em edições locais… Passemos mentalmente em revista jornais, rádios e televisões nacionais (é claro que o conceito “nacional” se confunde com sede em Lisboa) e é fácil concluir que o Porto e Norte estão esmagadoramente arredados desses espaços e as poucas excepções a este 3º Encontro Porto Cidade Região,ostracismo estão confinadas ao futebol ou a programas de entretenimento fora dos horários nobres.
E lembremos o que foi acontecendo com as em tempos poderosas delegações do “Expresso” ou do “DN”, ou das hoje inexistentes representações institucionais do “Semanário” ou do “Sol”; da não surpreendente falta de peso nos noticiários nacionais das delegações da SIC ou da TVI e mesmo da incerteza do que será a produção informativa da RTP (seja para a “N” ou para os jornais nacionais)… O “Público” é um jornal com natural vocação nacional com espaço reduzido para a informação local ou regional e o “JN”, com o respeito devido ao seu êxito comercial, perde-se entre o seu mercado natural (regional) e uma ambição nacional que o próprio mercado se vai encarregando de negar todos os dias (já agora, será natural que o actual paradigma do jornal do Norte esteja em simultâneo desavindo com o presidente da Câmara e da Área Metropolitana do Porto e tenha tão “má consciência” em relação ao FC Porto?).
E a questão que fica para os intervenientes no 3º Encontro Porto Cidade Região é simples: em que meios vão ter espaço para explanar e expor consistentemente as suas ideias? Não foi o Norte pujante quando tinha o “Jornal de Notícias”, “O Comércio do Porto” e “O Primeiro de Janeiro” interventivos, sem complexos e claramente ao serviço da população do Porto e da Região? No preâmbulo da República, durante o Estado Novo ou no “Verão Quente” foi nas suas páginas que as principais figuras portuenses encontraram espaço para a sua opinião e para as sementes da mudança ou da resistência.
Em que jornal, rádio ou televisão não é preciso mendigar espaço para defender a Regionalização ou ser “politicamente incorrecto” para com o centralismo? E as autarquias? As suas iniciativas, o seu dia a dia, que é o do cidadão comum, não merecem espaço digno, mais do que as parcas colunas das “Regiões” ou da “Província” onde sai arrumadas para não parecer mal?
O exemplo da comunicação social regional por toda a Espanha devia ser um exemplo e uma prova da vitalidade de projectos absolutamente viáveis e, repito, indispensáveis à afirmação regionalista.
Rogério Gomes
(texto publicado no Local/Porto do "PÚBLICO" de 01.02.2008
NOTA:
considero este tema da "Comunicação Social/Informação" sempre actual e pertinente. É, um dos principais responsáveis pela perda de protagonismo do Norte do país e do Porto, a nível nacional e internacional.
Em todos os espaços de debate público em que participei, nunca deixei de enfatizar este problema, por ter estado sempre seguro do pêso e da influência que teve na decadência social e económica da região.
Por isso, não me entusiasmo por aí além, com as benfeitorias empresariais dos Belmiros e dos Amorins, que descuraram completamente este "furo" na economia local e não lhe souberam dar o "combustível" (capital /autonomia) e o apoio exigíveis...
Joaquim Oliveira, um "homem do Norte", fê-lo, mas para seu próprio proveito na direcção errada, com a maioria das sedes e dos centros de decisão das suas empresas de comunicação reforçados em Lisboa. Por aqui se comprova, que a iniciativa privada não é de todo remédio garantido, quando o Estado é doente.
Ontem, como hoje, o carácter dos homens é a melhor garantia de sucesso para as grandes causas , a única que realmente conta. Nem a iniciativa privada, nem o Estado contam para grande coisa se despojados de ideais.
Rui Valente
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