Atenuados os constrangimentos de natureza familiar que durante tanto tempo me afastaram deste espaço de opinião, julgo sentir-me com um mínimo de condições psicológicas para reaparecer. E no entanto... tenho dúvidas se devo fazê-lo!
Há tsunamis gigantescos que continuam a ameaçar submergir este desgraçado país onde tive o azar de nascer. O pior de todos, obviamente, é a ameaça de bancarrota. Como disse alguém na TV (não lembro quem) andamos durante anos "a fazer vida de rico mas com carteira de pobre". O resultado só podia ser este, mas o que aconteceu, aconteceu, não adianta chorar pelo leite derramado. O fundamental agora seria reverter a situação, não gastar mais do que aquilo que produzimos. No entanto, o que se verifica? Verifica-se que os nossos pífios governantes, numa clara demonstração de que a sua qualidade se tem vindo a degradar ano após ano, só encontraram uma solução ao nível do mais analfabeto dos merceeiros de esquina : aumentar os impostos, diminuir tudo o que é prestação social, confiscar parte dos salários, aumentar o custo de todos os bens, mantendo todavia a promessa de realizar as obras megalómanas que tinham parido no tempo das supostas vacas gordas, ainda por cima concentradas na capital ou no seu hinterland, aumentando assim as assimetrias regionais. Parece-me que não será necessário ser economista para antever uma enorme recessão, sacrifícios impostos às classes baixas e média, aumento do desemprego.
Permitam-me um parêntese. Nas presentes circunstâncias em que não há uma maioria absoluta na AR, as desastrosas medidas que o partido do governo propõe, serão levemente mitigadas pela indisponibilidade do maior partido da oposição em aceitá-las na totalidade. Se imaginarmos que a presente situação ocorria na altura em que existia uma maioria absoluta, estas medidas teriam sido implementadas no seu estado original. De resto, olhe-se para a actividade legislativa do PS durante os anos de maioria absoluta e veja-se a quantidade de medidas idiotas que nos enfiaram pelas goelas abaixo, materializando a existência de uma autêntica ditadura. É por isso que pessoalmente sou contra a existência de maiorias absolutas, sejam de que partido forem.
Retomo o tema de que me ocupava. Se o estado económico-financeiro do país nos suscita dúvidas sobre a sua sobrevivència como nação independente, os outros pilares de uma sociedade democrática saudável estão como sabemos. A Justiça é um caos, a Educação uma vergonha, e a Saúde que, apesar de tudo, funciona muito satisfatoriamente, está debaixo de ataque e daqui a uns anos não sei como estará.
No meio deste desastre geral, talvez o pior que o país suportou nos últimos séculos, pergunto-me se terá sentido exprimir, através da escrita, preocupações sobre assuntos que acabam por ser secundários, ainda por cima tendo a convicção da inutilidade deste esforço, na medida em que os nossos políticos são incorrigíveis? É verdade que já há muito tempo que sinto esta inutilidade, mas se apesar disso mantive uma colaboração regular neste blogue, foi (para além da amizade para com o Rui Valente) pela necessidade de " lavar a alma". Só que hoje em dia a sujeira é tanta que desconfio bem que não há água capaz de a lavar!