30 outubro, 2010

Valerá a pena continuar?

Atenuados os constrangimentos de natureza familiar que durante tanto tempo me afastaram deste espaço de opinião, julgo sentir-me com um mínimo de condições psicológicas para reaparecer. E no entanto... tenho dúvidas se devo fazê-lo!

Há tsunamis gigantescos que continuam a ameaçar submergir este desgraçado país onde tive o azar de nascer. O pior de todos, obviamente, é a ameaça de bancarrota. Como disse alguém na TV (não lembro quem) andamos durante anos "a fazer vida de rico mas com carteira de pobre". O resultado só podia ser este, mas o que aconteceu, aconteceu, não adianta chorar pelo leite derramado. O fundamental agora seria reverter a situação, não gastar mais do que aquilo que produzimos. No entanto, o que se verifica? Verifica-se que os nossos pífios governantes, numa clara demonstração de que a sua qualidade se tem vindo a degradar ano após ano, só encontraram uma solução ao nível do mais analfabeto dos merceeiros de esquina : aumentar os impostos, diminuir tudo o que é prestação social, confiscar parte dos salários, aumentar o custo de todos os bens, mantendo todavia a promessa de realizar as obras megalómanas que tinham parido no tempo das supostas vacas gordas, ainda por cima concentradas na capital ou no seu hinterland, aumentando assim as assimetrias regionais. Parece-me que não será necessário ser economista para antever uma enorme recessão, sacrifícios impostos às classes baixas e média, aumento do desemprego.

Permitam-me um parêntese. Nas presentes circunstâncias em que não há uma maioria absoluta na AR, as desastrosas medidas que o partido do governo propõe, serão levemente mitigadas pela indisponibilidade do maior partido da oposição em aceitá-las na totalidade. Se imaginarmos que a presente situação ocorria na altura em que existia uma maioria absoluta, estas medidas teriam sido implementadas no seu estado original. De resto, olhe-se para a actividade legislativa do PS durante os anos de maioria absoluta e veja-se a quantidade de medidas idiotas que nos enfiaram pelas goelas abaixo, materializando a existência de uma autêntica ditadura. É por isso que pessoalmente sou contra a existência de maiorias absolutas, sejam de que partido forem.

Retomo o tema de que me ocupava. Se o estado económico-financeiro do país nos suscita dúvidas sobre a sua sobrevivència como nação independente, os outros pilares de uma sociedade democrática saudável estão como sabemos. A Justiça é um caos, a Educação uma vergonha, e a Saúde que, apesar de tudo, funciona muito satisfatoriamente, está debaixo de ataque e daqui a uns anos não sei como estará.

No meio deste desastre geral, talvez o pior que o país suportou nos últimos séculos, pergunto-me se terá sentido exprimir, através da escrita, preocupações sobre assuntos que acabam por ser secundários, ainda por cima tendo a convicção da inutilidade deste esforço, na medida em que os nossos políticos são incorrigíveis? É verdade que já há muito tempo que sinto esta inutilidade, mas se apesar disso mantive uma colaboração regular neste blogue, foi (para além da amizade para com o Rui Valente) pela necessidade de " lavar a alma". Só que hoje em dia a sujeira é tanta que desconfio bem que não há água capaz de a lavar!

8 comentários:

  1. Se me permite, a minha opinião é a de que vale a pena continuar!
    Se as pessoas que escrevem em protesto contra este estado de coisas pousarem a pena, estão a prestar um inestimavel serviço a estes corruptos incompetentes que nos infernizam a vida!
    Portanto,havendo disponibilidade as pessoas que sabem escrever e têm conhecimento das coisas não devem desalentar!

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  2. Dizem, do PS, que não vão aumentar impostos para compensar a redução de 500 milhões de euros neste orçamento.

    A afirmação mais parecida que me lembro foi a de Mário Soares, como 1º ministro, na tv em comunicação ao país afirmar que o escudo não iria desvalorizar-se e no dia seguinte a moeda deu logo um tombo. Mentirosos.

    O Sócrates definiu como estratégia o investimento em grandes obras numa altura em que estávamos em plena crise financeira mundial. Segundo afirma, Portugal foi dos primeiros a ultrapassar a crise. A verdade é que os investidores querem é ver se quem lhes deve é capaz de pagar as dívidas. Como Portugal se endividou mais ainda, deixaram de acreditar e agora querem mais garantias.

    A renegociação das chamadas scut (vão ter de passar a ter outro nome) falhou em todas as frentes. O que o estado recebe não chega para pagar aos privados, vai reduzir o número de clientes espanhóis no Norte do país.

    A aposta de Sócrates saiu muito cara ao país. Colocou o país em falência técnica. Só tem um caminho. Demitir-se e afastar-se de vez de qualquer coisa que lide com dinheiro, pois só mete água.

    Temos de arranjar maneira de limpar esta corja. As notícias que vão aparecendo, envergonhadas, mostram cada vez mais o conluio que existe em torno da assembleia, com jogos de interesses instalados.

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  3. Estamos a caminhar a passos largos para políticas de países pobres como os sul-amaricanos, cheios de corrupção, fome, droga, crime e de políticos ladrões.
    Penso que não há Nossa Senhora nenhuma que nos salve desta situação.
    Só quando uma verdadeira Justiça começar a julgar os políticos corruptos, os crimes comuns e as leis serem levadas à letra; o povo vai acreditar... e vamos saír desta possível banca-rota.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  4. Meu caro Rui Farinas,

    Que nunca lhe doa a voz! É pouco, quase patético, mas é a única arma que dispomos para transmitir os nossos sentimentos em relação àqueles que nos desgovernam. Pelo menos, ficam a saber que ainda há uns quantos portugueses que não lhes reconhecem classe e competência para estarem onde estão.

    Um bom fim de semana, e obrigado por ter regressado à "luta"!

    Um abraço

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  5. São 12 documentários, 3:30h de duração total, para ir vendo com calma. Mas evitam-se os disparates e o facilitismo bacôco dos nossos economistas e "especialistas de finanças", mais a demagogia e ignorância dos líderes partidários que nos bombardeiam diariamente nas tvs.
    Legendado em português-br, aqui:


    http://www.youtube.com/view_play_list?p=2C8DD4B022CD2D52

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  6. Farinas, este meu comentário é uma espécie de vaga de fundo e tem por objectivo pedir-lhe, dentro das suas possibilidades, para continuar.

    A sua lucidez e coerência, junto com a sua capacidade de luta, qual Dragão sem medo, são fundamentais, nestes momentos de crise profunda.

    Um abraço e espero reencontrá-lo brevemente.

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  7. Caro Rui Farinas!

    As vozes e a escrita como a do Amigo Rui Farinas fazem muita falta a um país que empobrece diariamente e que caminha a passos largos para o abismo, se nada for feito até lá!

    Só por isso vale a pena pedir-lhe que continue a escrever e a falar sempre que achar necessário fazer, porque é a nossa voz e as nossas opiniões que ajudam a "alertar" para esta "luta" dificil mas que nos mitiga a consciência!

    Um abraço

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  8. José Carlos01/11/10, 21:54

    Compreendo alguma desilusão. O estado das coisas mantém-se e não vemos como possa alterar-se a curto/médio prazo.
    Mas, se me permite uma simples opinião de um leitor assíduo, vale a pena continuar.
    Escrever (e ler) permite-nos reconhecer que há gente que pensa de maneira diferente.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...