Em abono da verdade, no FCPorto as crises, não chegam a ser crises. Felizmente para os adeptos do clube, infelizmente para os inimigos, como o mal afamado jornalista, conhecido por
benfiquista de Paredes. No FCPorto dos últimos 20/30 anos, as fases negativas não ultrapassaram a perda de um ou outro campeonato, e mesmo assim sempre com uns troféus ganhos pelo meio. Claro que, num país governado por gente de baixo quilate como é o nosso, a comunicação social permite-se ao luxo indecente de tentar humilhar o FCPorto sempre que pode, como é agora o caso. De um simples espirro, prefere chamar-lhe crise profunda, partindo daí para uma ficção capaz de fazer inveja às novelas de
Corin Tellado.
Não estou pois muito preocupado com o futuro do FCPorto, embora deteste pressentir que a breve prazo [espero], o regresso à normalidade lhe vai trazer algumas decepções.
Enquanto houver uma competição para ganhar, e enquanto for conveniente para o clube, os adeptos vão ter de ser pacientes e aguardar os próximos tempos, torcendo para que o ciclo negativo que estamos a atravessar se inverta, ainda com Victor Pereira ao leme, aproveitando [se for capaz] os derradeiros cartuchos que ainda tiver para dar a volta ao texto.
Vai ser um período difícil para os portistas, mas lá terá de ser. Entretanto, descendo à terra do futebol do século XXI, onde os milhões tomaram de assalto o amor à camisola de jogadores e treinadores, gostava de colocar algumas questões que me parecem pertinentes.
Já foram escalpelizadas quase todas as conjecturas sobre o mau momento da equipa senior do FCPorto [os outros escalões, e as modalidades, continuam bem], mas permanece uma que me parece estar a escapar à própria estrutura directiva, que consiste em lidar eficientemente com a fobia dos mercados, e o impacto desestabilizador que ela pode exercer nas prestações dos atletas ao serviço do clube.
Não nos iludemos, hoje, no futebol de alta competição, terminaram os atletas-paixão-clube, já só resta um género, que são os atletas-cifrão-patrão. Sobre isto, suponho não haver dúvidas. Assim sendo, parece-me ter chegado o momento de reconhecer, que o que sobra de verdadeiramente genuíno no futebol de alta competição entre administração, jogadores e público, com todos os seus excessos, são os adeptos, precisamente os únicos que saem a perder desta triologia, em termos económicos e financeiros. Gastam dinheiro em quotas, nos bilhetes e nas deslocações, pedindo apenas em troca o...sucesso. Bem vistas as coisas, há aqui assimetrias um tanto injustas, que só podem ser colmatadas pelo clube de uma única maneira: vencendo. E produzindo melhor futebol.
Dentro das explicações conhecidas para o mau momento do clube, há algumas que na minha opinião tiveram preponderante impacto negativo nos atletas e nas suas prestações, tais como:
Indefinição excessivamente longa das saídas e permanências [Rolando, Fernando, Álvaro Pereira, Fucile e Moutinho]. Recorde-se que até Falcao era para ficar, depois de se ter especulado a saída várias vezes.
Saída extemporânea do treinador, provocando a solução de recurso Victor Pereira
Inadaptação da SAD à agressividade e especulação do mercado
Os dois primeiros pontos já são conhecidos, mas não tanto o último. Recordo-me bem do incómodo que pessoalmente me causou o constante ruído feito em torno das saídas durante todo o defeso e de me interrogar como estaria a Direcção a lidar com este "bailado" de supostas transferências. Não especificamente por causa da Direcção, mas pelo efeito que isso podia produzir no espírito dos jogadores no caso das supostas saídas abortarem [como sucedeu] e terem de continuar no clube...contrariados.
É aqui que pretendo chegar. Estará a SAD devidamente preparada para lidar com esta nova realidade dos mercados? É que, talvez não nos tenhámos apercebido, mas as coisas mudaram mais do que parecem nos últimos anos. Os jogadores hoje estão sujeitos a uma desregrada pressão mediática pouco tempo depois de assinarem contrato, visando o "salto" para outros clubes onde eventualmente poderão ganhar mais dinheiro. Veja-se o que aconteceu com o Falcao, com o Hulk e até com o James Rodriguez, este último que mal tempo teve para se afirmar como titular no clube e já está a ser cobiçado por outros economicamente mais poderosos.
O que era preciso saber, é se há [ou vai haver] alguma estratégia do clube para conviver com isto, ou se consideram simplesmente que nada há a fazer para minorar os estragos. Na minha modesta opinião, o mínimo que devia ser feito em situações como estas, era [o Presidente], reunir com o plantel e a equipa técnica logo no início da época, enfatizando a mística do clube, sensibilizando os atletas novos para essa realidade, lembrando-lhes que a partir daquele momento são sua pertença exclusiva, sendo pagos para o representar com o maior empenho e dedicação, não admitindo desconcentrações ou desmotivações* enquanto a ele vinculados contratualmente.
Reuniões dessas deveriam ter lugar, sempre que se justificassem, sobretudo quando os jogadores denunciassem sintomas de instabilidade com efeitos nefastos nas prestações desportivas. Como já escrevi anteriormente, considero que este papel cabe, em primeira instância, ao treinador [e é também neste capítulo que me parece falhar Victor Pereira], até porque é quem está em contacto permanente com os jogadores, e em casos extremos à Direcção.
Poder-se-à dizer que estas reuniões perdem qualquer eficácia frente a uma pipa de euros, mas para isso é que existem prazos contratuais, e uma vez que os empresários não os respeitam, que sejam obrigados a fazê-lo os jogadores.
*James Rodriguez deu, recentemente, sinais de não estar devidamente 'instruído' para responder às perguntas armadilhadas dos jornalistas. Inquirido se pensava ser transferido para um grande clube, não soube responder como seria suposto a um jogador que ainda mal 'cheirou' o balneário da casa, que era dizer: "mas eu já estou num grande clube!" . Não o fez.
Sendo improvável restaurar o amor à camisola dos velhos tempos aos jogadores, e já que se lhes paga tão bem, então que se lhes exija uma total dedicação profissional ao clube enquanto nele permanecerem.