Caro Snowball [desculpe, mas não sei o seu nome],
Optei por responder por post ao
seu comentário, por ser mais prático para mim e porque acho que as respostas que lhe quero dar o justificam.
Há algumas coisas que o senhor diz, que me fazem alguma confusão. Primeiro, considera que eu não tenho razão por ter escrito que o Estado promove a omnipresença do Benfica, mas logo a seguir "reconhece" que o Benfica é um clube invejoso do sucesso dos outros, arrogante e convencido. O que eu quero saber então, é que me diga, preto no branco, se a RTP é, ou não, uma estação do Estado. É que se me disser que sim, fico sem perceber porque não me dá razão.
A seguir, fala da
falta de fair play do FCPorto, embora logo componha o ramalhete, concordando que é
rara. Como não gosta de futebol, não é do Benfica e é portuense, deduzo que não tenha simpatia por nenhum clube. Estarei a raciocinar bem? Ou será um desses tímidos "Lordes" sportinguistas? Esteja à vontade, porque ninguém o prenderá [até ver] por assumir o seu clube.
Curiosamente, o seu estilo faz-me lembrar o de alguns moralistas mediáticos que só atiram para cima de terceiros as normas dos bons costumes. Fair play? Diga-me quem o tem no futebol e dou-lhe um chocolate [se for guloso]. Porque carga de água é que o FCPorto
tem de ser um clube exemplar, uma espécie de menino de coro dentro de uma multidão heterogénea? Você é portuense, não é portista e está-se nas tintas para o futebol, mas gostava que o FCPorto fosse uma espécie de árvore com ramos viçosos e sadios no meio de uma floresta perigosa e poluída. Coitada da árvore, morria à nascença, se procurasse antídotos para a contaminação da floresta com puritanismos ingénuos. O futebol é uma paixão para a grande maioria dos europeus e não adianta nada negá-lo, mas é também um negócio que desperta inveja e urdiduras como a dos Apitos e similares.
Depois chega à conclusão de que eu não partilho o espírito de fair play dos portuenses [outra contradição] por ter feito um post com o título
"Um vómito chamado Benfica" e ter dito
"que queria ver Lisboa a arder!" Não há dúvida que a sua hiper-sensibilidade comove. A tal ponto que viu no que eu escrevi uma espécie de grito de guerra, que afinal, foi textualmente isto: "se isto acontecer, meus caros, só nos resta levar à letra o
inofensivo chavão,
nós só queremos Lisboa a arder!"
O que é espantoso, é que o seu moralismo é típico dos anti-portistas que por norma calam toda a espécie de grosserias e mesmo os crimes de morte praticados pelos clubes da capital. É típico também da comunicação social centralista, tanto da privada como da do Estado. No tal Estado que o amigo acha que não anda ao colo com o Benfica nem lhe dá a mama. Enfim, serão dificuldades oftalmológicas ou pura vontade de negar os factos?
Não sei porquê, mas talvez possa fazê-lo rever os seus pergaminhos se lhe recordar alguns "exemplos" paradigmáticos do civismo made in Lisbon. Responda-me: foram os portuenses que assassinaram com um very-light, um adepto sportinguista numa célebre final Sporting/Benfica?
Fomos nós quem fracturou o crâneo [com um stick], de um jogador do FCP de hóquei em patins e o despachou de ambulância para o Hospital?
Fomos nós quem incendiou, totalmente um autocarro em Lisboa, de adeptos do FCPorto?
É o presidente do FCP que se faz acompanhar de gorilas, que agridem em pleno Aeroporto frente às Câmaras de Tv um empresário de um guarda-redes?
Somos só nós que escrevemos "mimos" em cachecóis desportivos como este: "O Porto é merda"!
É do Porto, ou de alguma televisão de algum governo fantasma local, a responsabilidade de denegrir sistematicamente a imagem do FCP? Somos nós quem damos ordens editoriais para falar mal de nós próprios? Afinal, você quer-me atirar areia para os olhos, ou enganou-se no planeta em que está a viver?
Para terminar, não me venha com essa lengalenga do
"nós portuenses sermos superiores a essas merdas que querem fazer ao FCP", porque, nem o FCP é nenhuma merda, nem a
superioridade está naqueles que comem e calam, e não fosse Pinto da Costa ser como é, duvido que fossem os portuenses politicamente correctos a socorrê-lo, caso viesse a necessitar. A dado momento, temi o pior e cheguei a pensar que aquela tropa que vive em Lisboa e que o amigo acredita estar inocente, a esta hora estivesse a abrir garrafas de champanhe por terem conseguido o troféu de caça que tanto ambicionaram.
Partir directo para o queixo, acertou, é isso mesmo que a partir de certa altura me apetecia fazer, porque a Justiça em Portugal promove a de Fafe, e entre a injustiça e a justiça de Fafe, então que venha a de Fafe.
Meu caro, não sei que idade tem, mas uma coisa lhe garanto, quando os militares de Abril combinaram o golpe que
nos abriu para a Democracia, tiveram de se preparar para tudo, incluindo para "partir os queixos" a alguns. Se calhar, foi por não haverem queixos partidos que a Democracia portuguesa se prostituiu e o país se transformou no charco de lama que se vê. Deixou de haver respeito e os governantes são os primeiros a demonstrá-lo. Por isso, vou mesmo continuar a cascar, enquanto sentir que estão a cascar em mim, na minha cidade, ou no meu clube. Espero agora que tenha ficado devidamente esclarecido.