A entrevista de José Ferraz Alves, à RTV* aqui postada em vídeo, em representação da Rede Norte/ACdP, foi um claro sinal de inconformismo de uma pessoa com ideias interessantes no sentido de influenciar os cidadãos do Porto e Norte a intervirem activamente na vida pública, mas foi também uma manifestação contida de alguma desilusão, o que é perfeitamente compreensível.
Mesmo para alguém carismático e empreendedor, é hoje extremamente complicado conseguir mobilizar as populações para as melhores causas, o que explica, em parte, a tendência para o agravamento da irresponsabilidade de quem nos governa. Até a paixão pelo futebol, a quem muitos atribuem a culpa de todos os males, não conseguiu levar para a rua, os muitos adeptos do FCPorto para se manifestarem contra as insidiosas conspirações movidas pelos clubes do centralismo [Benfica e Sporting], contra o FCPorto, através da figura do seu Presidente [Pinto da Costa]. Os únicos sinais de revolta foram dados por um pequeno grupo de adeptos mais atrevidos, quando Rui Rio tomou posse na Câmara Municipal, depois das provocações que fez ao clube, de que todos ainda se lembram.
As pessoas estão muito desiludidas, cansadas e indignadas, com os resultados e o comportamento dos responsáveis políticos e não se sentem encorajadas para se envolverem em causas cívicas. Perderam a confiança nas causas e em quem as defende. É uma situação controversa e injusta para aqueles que procuram de boa fé contrariar o rumo destas coisas.
As televisões, as rádios e a imprensa, encharcam-nos diariamente com doses maciças de acontecimentos negativos. Portugal é sempre o melhor, nos piores exemplos. A descoberta progressiva de políticos envolvidos em golpes de corrupção é uma espécie de caixa de Pandora, há sempre mais uma pessoa que surge de novo, conectada a negociatas obscuras de quem, até então, poucos ousariam suspeitar. Parece que a bandalhice se transformou em estatuto ou numa epidemia. A justiça, perdeu a pouca credibilidade que ainda tinha. De tal forma, que entre o turbilhão de escândalos que se vão sucedendo, os principais protagonistas são "altas" figuras ligadas à política e à banca. Organismos como a Eurojust, cuja função é investigar o crime em articulação com vários países, estão debaixo de fogo. Há procuradores/investigadores que querem investigar o Presidente e o Presidente acusado de ameaçar as investigações. Ninguém consegue perceber quem fala verdade, se o suspeito, se os investigadores. Ninguém parece inocente.
Os cidadãos, podem e devem, dentro das suas possibilidades, participar activamente nas associações e movimentos cívicos, mas chegará sempre o momento em que esbarrarão contra as malhas contraditórias da burocracia do Estado, e a partir daí o inevitável confronto de interesses acabará por acontecer e será o mais "forte" quem decidirá. Pessimismo, ou realismo? Responda quem souber.
Para fechar e a propósito, leio no Público de hoje que o Bastonário dos Advogados, Marinho Pinto [aquele a quem a máquina corporativa da advocacia apelida de populista], denuncia outra situação vergonhosa para a Justiça. Os juizes queixam-se do atraso dos processos, mas pouco fazem por aparentar estar com a razão do seu lado. As novas regras ditam que os tribunais fechem apenas em Agosto para férias, mas mais uma vez, Suas Exas. resolveram dar o "nobre" exemplo de as contrariar, fechando os Tribunais de 15 de Julho a 15 de Setembro, prazo durante o qual não haverá julgamentos...
"Há profissões, mesmo muito difíceis", diria o Pedro Mendonça, da Porto Canal, no seu programa de publicidade a restaurantes da região que lhe oferecem lautos almoços, de borla [presumo]! Que dizer desta justiça?
Ninguém de paz preconiza a resolução dos problemas com o recurso à violência, mas perante tanta negligencia e aparente falta de sentido de responsabilidade, qual é a saída?
*O Porto Canal, não se mostrou interessado em fazer a entrevista? Sempre teria mais audiências, não?
E a lama não é só em Portugal. Em toda a Europa! Em todo o mundo...
ResponderEliminarO mundo é horrível.
Ana,
ResponderEliminarO sentido da ética e da Justiça está moribundo, ou se calhar, já morreu mesmo. O Mundo podia ser uma coisa fantástica para todos!
Quatro anos e meio
ResponderEliminarPublicado por Gabriel Silva em 21 Julho, 2009
E o sistema eleitoral manteve-se inalterado.
O país divido em esclerosados e fictícios «distritos».
Os deputados nem sequer representam os eleitores do circulo que os elege, mas uma tal de «nação».
Líderes de partidos há, quais caciques, que escolhem pessoalmente dezenas de deputados, no mais puro estilo de favor pessoal.
Nenhum partido (sem que para tal fosse necessário alterar a lei), entendeu ser de realizar eleições directas entre militantes (ou mesmo fora deles) para escolha de deputados.
Os deputados representantes do eleitorado, ao invés de serem livres e responsáveis dando conta do que fazem a quem os elege, aceitam ser assalariados que tem de picar cartão, sujeitam-se ao sentido de voto indicado por meia dúzia de dirigentes partidários iluminados (alguns nem deputados são) e tudo tem de fazer para os contentar (e não a quem os elegeu), se pretenderem ser reeleitos.
Os deputados eleitos, ao invés de se comprometerem com os seu eleitorado, comprometem-se com um líder. Essa personalização política quixotesca e nada democrática vai ao ponto ridículo de numa mesma legislatura poderem ter de prestar vassalagem a 3 ou mais diferentes líderes.
A legitimação do deputado é dependente de quem o indica para a lista (portanto, é a tais pessoas que lhe compete agradar), e não do eleitorado, sendo a votação mero formalismo.
Mais uma legislatura acaba e nada se modificou. Os mesmos dirigentes, a mesma forma autocrática de designação de deputados, os mesmos esquemas.
Acho que já chega.
Blogue blasfemias
O Porto Canal ainda está abalado e a recuperar do abalo que sofreu o Bruno Carvalho. Também quem o mandou meter-se com o império da capital?
ResponderEliminarUm abraço