25 julho, 2009

Democracia, isto?

Não sei como classificar a nossa democracia. Não posso chamar-lhe "excelente" nem sequer "assim-assim". Talvez de meia-tigela, ou de aviário ou de faz-de-conta. E o pior é que em vez de melhorar com o passar do tempo, só piora. Os exemplos são diários, mas esta época que antecede uma eleição legislativa apresenta um show que me apetece classificar de obsceno. Refiro-me à dança das cadeiras em que se transforma a indicação de candidatos a deputado. O partido, as suas comissões centrais, políticas, distritais, e não sei mais o quê, transformam a elaboração das listas em algo parecido com um mercado árabe. Os lugares são discutidos, regateados, trocados, há ameaças e chantagens. O Sr.X queria, por exemplo, ser o primeiro da lista do Porto? Não pode, porque senão abre-se uma guerra com o militante Y que é elemento fundamental do partido. Mas o partido oferece-lhe um lugar bom nas listas de Braga, de Aveiro, de sei lá donde, cidades com as quais o candidato não tem nada a ver. É assim que aparecem os candidatos "paraquedistas", que já trouxeram para o Porto um autarca de Almodovar, e para estas eleições traz, entre outros, um benfiquista antigo apoiante de Vale e Azevedo, que provavelmente não esteve no Porto nos últimos 10 ou 15 anos.

Entretanto, os cidadãos estão alheios a toda esta traficância, sem a possibilidade de manifestar a sua opinião quanto à validade dos candidatos que lhes são impostos.

Mas, objectar-se-á, os deputados não podem representar as populações que os elegem (como "sabiamente" determina a Constituição) porque após a eleição transformam-se em "deputados nacionais", seja lá o que isso signifique. Nestas condições, será indiferente a sua origem geográfica. Mas se assim é, pode perguntar-se qual a finalidade desta farsa distrital. Porque irei eu votar num sujeito cujas ideias, crenças e princípios eu desconheço e que por sua vez desconhece os problemas e anseios da comunidade em que estou inserido? Então, porquê esta ficção dos deputados distritais? Aliás, derivando um pouco, porquê esta divisão administrativa em distritos, sem substância e sem tradução prática? E porquê tantos deputados, se grande parte deles são simples figurantes que estão ali não mercê dos seus méritos, mas simplesmente em pagamento de favores que fizeram aos seus partidos? A qualidade da nossa democracia certamente não piorava se o número de deputados fosse reduzido a metade ou pouco mais, sobretudo tendo em conta que, por sistema, os deputados votam de acordo com as instruções dos líderes da sua bancada, em total desprezo pela opinão pessoal.

Apetece parafrasear o Eça e dizer que a democracia que temos é uma versão fadista, traduzida em calão, das autênticas democracias europeias.

Mas sendo certo que parece que este sistema não é auto-regenerável, para onde caminhamos nós como Nação?

7 comentários:

  1. Caminhámos para uma gigantesca feira-da-ladra. É a corrida ao Poder, pura e dura.

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  2. Rui, fora do tema -novamente-, aqueles quadros que coloca à direita são cópias feitas por si?...

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  3. Sim, foram feitos por mim, embora alguns deles sejam originais,como o da ponte de Chaves, e outros são cópias dos referidos autores. São todos a óleo.

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  4. Esta Democracia é uma anarquia
    mais ou menos organizada.

    É uma Democracia ora agora comes tu
    amanhã como eu.

    É uma democracia dos Tachos.
    O amigo do político:é um político
    amigo.

    Agora está em moda:
    Não meixas no teu dinheiro; mexe
    sim no dinheiro dos outros.

    Com esta democracia:
    COITADO DO "ZÈPOVO"

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO.

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  5. OK Rui, então já temos um ponto comum...O gosto pela pintura.

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  6. Caro Meireles,

    em matéria de pintura, eu sou só um curioso. Gosto, mas não me considero nenhum "artista". Agora, o blogue rouba-me algum tempo e deixei-me de pinturas. Você também pinta?

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  7. Pinto sim, ou melhor, pintei alguma coisa, mas essencialmente gosto de desenhar, ultimamente tenho sentido uma enorme preguiça e não faço nada...Mas de vez em quando a vontade de realizar coisas é mais forte e lá vou eu de lápis na mão, tentar esboçar qualquer coisa.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...