Este gravíssimo problema nacional não está confinado ao mundo do futebol, a essa almofada de conforto daqueles que, talvez para encobrirem os seus próprios pecados, encontraram no futebol o bode expiatório ideal de todos os males da sociedade. Se o Benfica fez o que fez - e tudo aponta para que os indícios conhecidos não deixem dúvidas -, foi porque outros com responsabilidades de Estado o permitiram. A começar, insisto, pela classe política, que paulatinamente se deixou dominar pelos tentáculos corruptores do Benfica, mas igualmente por outras entidades de relêvo como órgãos do Ministério Público, Polícia, e Comunicação Social. Foi sempre a estas entidades que apontei as culpas por tudo de negativo que tem vindo a acontecer e não especificamente ao futebol, porque o futebol não tem, nem pode ter, os poderes que só ao Estado diz respeito. O futebol, como a banca por exemplo, são apenas pedras que mal geridas podem emperrar toda a engrenagem de uma sociedade, engrenagem essa que nem o 25 de Abril conseguiu olear.
Não há dia que não saiam a público casos de corrupção em que figuras, directa ou indirectamente ligadas à política estejam envolvidas em negócios ilegais de milhões. Como podem eles querer ter boa imagem na sociedade se não decidem defender-se desta gente? Como podem sentir-se cómodos com tanta gatunagem sem alterar os estatutos partidários de forma a impossibilitar a promiscuidade entre a política e outras actividades? Que credibilidade pode merecer um deputado/advogado com assento no Parlamento ter ao mesmo tempo o seu escritório aberto a clientes suspeitos de atentarem contra o Estado? Que credibilidade pode merecer a um cidadão civilizado um político comentador de futebol e clubista?
Já se passaram 44 anos, desde o antigo regime, e nem assim tivemos o orgulho de ver despontar do universo político-partidário um único líder (de qualquer partido) capaz de acabar com esta palhaçada?
Não será caso para concluirmos que nesse aspecto concreto os partidos se igualam, que funcionam como uma coesa máquina corporativa?
O Benfica, essa associação de claques ilegais tão protegida pelos media, é no desporto português o clube mais inqualificável da actualidade, e não é pelas melhores razões.
E os Governantes, serão diferentes?