16 janeiro, 2013

António Costa - Quadratura do círculo



 Aqui está textualmente o que disse António Costa (transcrito manualmente):
(...) A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir.
E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.
Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer que somos todos culpados. Podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção.
Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público.
Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."

15 janeiro, 2013

O spillover Rui Rio

Não, não tenciono enveredar pela demagogia dos comentadores políticos, e dizer que a culpa pela perda de protagonismo do Porto, e do Norte, é de todos nós, porque isso seria faltar ao respeito àqueles nortenhos que votaram conscientemente, sobretudo aos que não votaram em qualquer dos partidos do chamado arco do poder. Não enjeito contudo a oportunidade de apontar Rui Rio como o principal obreiro do esvaziamento político e demográfico da cidade do Porto, dos últimos 11 anos.

Curiosamente, essa orfandade de liderança foi precedida da prematura e infeliz saída de Fernando Gomes da C.M.do Porto, para  ocupar o lugar de Ministro da Administração Interna, em Lisboa, ele que até aí tinha sido o melhor autarca desta cidade depois do 25 de Abril de 1974.. Politicamente, Fernando Gomes pagou cara a desfeita que fez aos portuenses, ao perder para Rui Rio, em 2001, uma Câmara que noutras circunstâncias seria sempre sua, permitindo com a sua derrota, que Rio deixasse o Porto no estado em que está: mais pobre, e mais deserto.

Rui Rio, como sabemos, entrou no Porto da pior maneira, hostilizando gratuitamente um dos maiores baluartes da resistência ao centralismo lisboeta, o FCPorto, e o seu Presidente Pinto da Costa. Desta forma, mesquinha e inglória, Rui Rio com os seus conhecidos complexos de inferioridade, contribuiu para que o poder central fosse paulatinamente perdendo o respeito à nossa cidade e região, contagiando toda a sociedade civil, incluindo políticos e empresários, que passaram a olhar para o Porto como uma cidade descartável, onde já nada se decide. Para azar dos nortenhos, seguiu-se a famigerada crise económica global, facto que ainda por cima serviu que nem uma luva para o acentuar do centralismo, e para justificar o marasmo e a incompetência do próprio Rui Rio.

Tenho como certa esta convicção, mas mesmo assim continuo sem encontrar uma resposta compreensível para a indiferença generalizada que se instalou na sociedade nortenha, no seu grupo de empresários e políticos, que são os que mais influencia e poder têm para tomar iniciativas, limitando-se a fazer comentários nos órgãos de comunicação social, os quais já ninguém leva a sério. 

Mesmo assim, custa-me a acreditar que a apatia em que o Norte vive se deva apenas ao efeito difusor de Rui Rio.