16 junho, 2015

Que FCPorto teremos na época que aí vem



Pinto da Costa não me conhece, mas conheço-o eu. Conheço-o tanto quanto é possível conhecer alguém fora do nosso ciclo familiar e de amigos. Nunca me interessou muito avaliá-lo enquanto pessoa, talvez por não me relacionar com ele. Interessou-me sim, o trabalho que produziu ao longo de 33 anos como Presidente do FCPorto, e nesse aspecto sempre o admirei. 

Aquilo que para os adversários invejosos de Lisboa era irritante, a mim fascinava-me, mesmo quando PC ultrapassava os limites da cordialidade, porque a dor de cotovelo que eles não escondiam pelos sucessos do FCPorto era tanta (e ainda é) que culminou no lastimável processo Apito Dourado. O ódio deles era como um bálsamo para a minha aversão centralista. De tal modo, que nem me preocupou muito saber até que ponto podia o presidente portista estar implicado nas "frutas" e nos esquemas de que o acusavam. Isto, por uma razão muito simples: para investigarem Pinto da Costa, teriam também de investigar a vida dos presidentes dos clubes de Lisboa, porque também se dizia cobras e lagartos do dirigente do Benfica, desde o envolvimento em tráfico de estupefacientes camuflado por uma empresa de pneus, até denúncias de supostos inspectores da PJ à Procuradoria Geral da República. 

Com o Sporting só recentemente veio a público a costela de bandidola de um seu ex-vice presidente, do tal clube que há anos clama pela Taça da Transparência e da Credibilidade.  Enfim, por tudo isto nunca imaginei que o Apito Dourado tivesse pernas para andar, enquanto os outros clubes não fossem igualmente alvos de investigações. O certo, é que nem com a campanha diabólica que os media lhe fizeram conseguiram provar a culpabilidade de Pinto da Costa.  

Daí a razão da minha despreocupação com as qualidades de carácter de Pinto da Costa. Sabia-mos todos que nos momentos difíceis, tínhamos um líder que logo os resolveria. Quando falava, Pinto da Costa era ouvido com respeito, mesmo que não fosse muito importante o que tinha para dizer, mas era quase sempre importante. O clube tinha sucesso, dentro e fora de portas, ganhava troféus e dinheiro, pagava aos seus colaboradores, por que haveríamos de nos preocupar? Fosse esse o problema do Estado, e dos nossos Governos...

E agora, estará a grande comunidade portista com a mesma confiança nas capacidades do nosso presidente? Alguém acreditaria que Pinto da Costa não abrisse a boca para denunciar publicamente a protecção que foi dada ao Benfica esta época pelas arbitragens e pela própria Federação há poucos anos atrás? Então, por que se calou perante discriminação tão óbvia? E por que é que ainda não se dignou ter uma palavrinha de consideração com os adeptos para o explicar? Pois é, ninguém sabe. Mas ele sabe-o certamente, só não lhe interessa é dizê-lo. E se não o fez quando devia, também não é agora que pessoalmente me interessa saber. É tarde. Agora o paradigma do FCPorto parece ser chegar sempre tarde...

Lopetegui vai ter mais uma oportunidade para se impor no FCPorto. Como líder gostei de muitas das suas posições. Há já quem não lhe perdoe não ter sido duro quanto baste com o caprichoso Quaresma. Porque cedeu às pressões da imprensa sensacionalista e dos "quaresmistas", quando devia manter-se fiel à sua autoridade, ou seja, ser ele a decidir o momento para o recolocar a jogar. Compreendo, mas não concordo.E não concordo porque para isso devia ter o apoio inequívoco do líder, não especificamente no caso do Quaresma  (que é um jogador mimado) mas quando cabia a Pinto da Costa defender o clube nos momentos em que o treinador e o FCPorto eram atacados, até nas conferências de imprensa dadas no Dragão. E não foram perguntas inocentes, como se devem lembrar. Aqui a falha foi de Pinto da Costa, porque Lopetegui provou não ter medo dos jornalistas.

Resta saber se na próxima época Lopetegui acaba de vez com essa coisa lesa-futebol dos passes para trás e para o lado, se vai ou não dar mobilidade ao jogo atacante e terminar com os complexos para chutar à baliza. A posse de bola só tem sentido se se souber rentabilizá-la. Há que saber conduzí-la com precisão mas com rapidez e coragem para a baliza adversária. É fundamental para isso treinar muito a qualidade dos passes, o tempo que for preciso até deixar de ser um problema, como foi este ano muitas vezes.

Ontem assisti(mos) a um jogo espectacular entre duas equipas-selecções praticamente desconhecidas entre o Equador e a Bolívia. A equipa do Equador, que começou a segunda parte a perder por 3-0 foi um exemplo de garra e  bom futebol, nem gostei que tivesse perdido, apesar de ter reduzido para 3-2. Os movimentos, as desmarcações eram constantes. Não vi ali jogadores a desistirem de correr, de ganhar a bola. Não passavam estupidamente a bola para trás, tentavam ultrapassar os adversários fintando, rodopiando, olhando para colocar a bola rapidamente num colega. Lembrei-me do FCPorto da última época, perguntando-me como foi possível mesmo assim chegar tão longe na Champions, com um futebol tão previsível e monótono. Será que Lopetegui terá a mesma opinião? Era bom que tivesse e fizesse alguma coisa para mudar, até porque penso que tem condições para vencer. Só depende dele. Mas o clube, é da responsabilidade de Pinto da Costa,e esse também tem de mudar. Ou se quiserem, voltar a ser o que foi.     

15 junho, 2015

Churchill, e a plasticidade das suas frases históricas

Já são poucos os programas que vejo nas televisões deste território. E digo território, porque não me é fácil chamar país a um pedaço de terra cujos governantes monopolizam praticamente tudo numa só região (Lisboa). É como que uma afronta para quem tem uma leve ideia do que deve ser um país. A comunicação social é só um desses monopólios. A mesma distorção da realidade pode igualmente aplicar-se a outras coisas de cariz institucional, como a Presidência da República, ou os Ministérios. De facto, oficialmente, esses cargos existem, pessoas para os ocuparem também, mas sempre tem faltado quem os mereça, isto é, quem esteja à altura de os ocupar. 

Como ia dizendo, não me interessa nada a televisão que se faz em Lisboa, e ainda menos a programação política e os debates. É pura banha da cobra, de ranço e de tédio. Vejo de quando em vez "A Quadratura do Círculo", e o "Eixo do Mal", ambos na SIC, apesar de ali também ser proibido falar de descentralização, como não podia deixar de ser. Então de Regionalização, naquela e noutras estações da capital, é quase uma heresia. O certo, é que no Porto Canal do "anti-centralista" Pinto da Costa o desinteresse é o mesmo, ou pior.

O Porto Canal, aquele que por razões óbvias mais gostaria de acompanhar, insiste em afastar os espectadores, já que decidiu seguir pelo decadente caminho que o FCPorto dos tempos recentes parece querer trilhar, o que, diga-se de passagem, não pode ser simples coincidência... Tinha um programa interessante (Pólo Norte), e acabou com ele sem dizer água vai, água vem, ao grande público, e multiplicou a produção dos programas mais ordinários. Colocaram a Maria Cerqueira Gomes a entrevistar qualquer maltrapilho de Lisboa como se fosse a coisa mais importante do mundo para os portuenses, arriscando-se a perder uma grande profissional, para a transformar numa mocinha de recados bem remunerada. Enfim, sinais dos tempos...

Provavelmente, estarei a ser pessimista. Neste território sem país, haverá sempre quem defenda que antigamente era muito pior, que não havia Liberdade, nem Democracia, que agora sempre podemos "votar", etc. Há sempre quem se empenhe a dar corda à conversa dos profissionais da política, que lhes sirva de amplificador, é uma verdade. Duvido é que o façam gratuitamente ou por razões puramente ideológicas... Duvido, mesmo. Se quando falam de Liberdade tencionam reduzí-la à possibilidade de organizar movimentos, ou partidos políticos livres, até posso compreender, agora se me falarem também da liberdade de circulação garanto-lhes que no tempo da outra senhora nunca senti falta dela, quer para dentro como para fora do território.  As fronteiras eram facilmente ultrapassáveis, porque o regime era burro, embora bronco e um tanto brutal. E quanto à organização político-partidária, está ainda por provar os seus efeitos práticos na vida dos cidadãos. Com a Democracia passa-se algo semelhante: ela não confere poder bastante aos eleitores para se livrarem dos políticos de carreira em tempo útil, e é demasiado permissiva com as ilegalidades (como hoje podemos comprovar). A Democracia é estável sim... mas só para os políticos.

Talvez seja também por essa razão que os políticos de agora adoram citar Churchill, embora esse entusiasmo traga sempre coladas grandes doses de inexactidão. Quando Churchill um dia afirmou que a Democracia era o pior de todos os regimes, excepto todos os outros, fê-lo num contexto muito específico, da segunda guerra mundial, em tempos já muito distantes. Por conseguinte, antes de citá-lo, certos senhores, deviam comparar os respectivos séculos (o de Churchill, com o nosso) para a seguir talvez se envergonharem.

Churchill foi, além de primeiro-ministro britânico, oficial do Exército, e acima de tudo um grande estadista para o seu tempo. Seria pois interessante (e já agora, muito democrático), que esses iluminados que a despropósito e abusivamente conspurcam o nome dos grandes Homens como ele, citando-o, que também citassem esta outra expressão muito sua:

"Só os fanáticos não mudam de ideias, nem de assunto"

Haverá frase que encaixe com tanta sublimidade na concepção de Democracia, como esta?