Lá vou eu, outra vez, dizer coisas que algumas pessoas não gostam, e outras não estão habituadas a ouvir. Mas, sinceramente, no fundo, no fundo, os meus amigos incomodam-se com isso? Afinal de contas, sem querer ter a pretensão de ser original, não estamos nós cansados de ouvir gente graúda, mas oca, a dizer sempre a mesma coisa? A propósito, será que vocês ainda perdem o vosso precioso tempo a ver programas como o "Prós e Contras"? Eu passo. Se querem que vos diga já esgotei a minha opinião sobre o assunto em vários posts.
Politicamente, ou melhor, partidariamente, nunca cheguei a engajar-me em nenhum partido político. A única vez que o fiz, foi recentemente, no Movimento Pró Partido do Norte, que era a única força política nacional que se propunha defender claramente a Regionalização, e só por isso [e "isso" vale muito para mim] me senti motivado a apoiar o partido dentro dos meus condicionalismos. Os outros, incluindo os da oposição, não me inspiraram confiança porque pouco ou nada fizeram pela causa regional. Um enérgico X sobre todos eles tem sido a minha linha de voto dos últimos anos. Agora, digam-me lá como é que pessoas como eu se sentem quando ouvem os políticos a atribuir as culpas pela situação miserável a que nos conduziram a:"todos nós"... É de trepar pelas paredes!
Bom, mas não é isto que acabei de dizer que vocês não estão habituados a ouvir, é outra coisa. Por exemplo, há dias houve um comentador anónimo [mas quando é que eles perdem o medo e se decidem a dar o nome], que a propósito da reformulação do Porto Canal teve a preocupação de denunciar uma situação que infelizmente é comum em Portugal que foi informar-me [em comentário que não publiquei por conter spam], que os colaboradores da estação de tv recebiam pouco mais que o salário mínimo e estavam a recibos verdes. Ah! Espanto? É claro que não! Vasculhem bem por aí e vão ficar vacinados contra esse "novo" sistema [esquema, assenta melhor] de pagamento. Até em escritórios de advogados é moda corrente. E depois?
A resposta é dura, mas simples: acontece porque há sempre quem aceite trabalhar nessas condições. A partir daí, começa a espiral de cedências e facilitismos que de certa maneira são também responsáveis pela regressão da qualidade de vida das populações de todo o Mundo, incluindo da velha Europa que devia estar, de longe, à frente dos outros Continentes em matéria de regalias sociais, qualidade de vida e direitos humanos. É claro que, habituados que estamos a encarar o direito ao trabalho como uma corrida onde vale tudo para chegar primeiro, os empresários sem escrúpulos podem ficar descansados que terão sempre alguém disponível para receber 100 quando a outro pagaria 200. Com os recibos verdes é a mesma coisa. As pessoas, condicionadas pelas dificuldades de encontrar emprego [sempre existiram e vão piorando], aceitam ser pagas a recibos verdes e por este andar até sem recibo. É tudo uma questão de tempo e demonstrar ao patrão o mesmo medo que as pessoas assustadiças sentem pelos cães, que o mais certo é serem "mordidas".
Parece que já estou a ouvir algumas vozes ralharem: "é tudo muito lindo, mas se eu não aceitar, alguém aceitará por mim, e depois não consigo arranjar trabalho". Okey, é embaraçoso, quase irrealista, deixar de vos dar "alguma" razão, mas não estará nesse primeiro raciocínio o pecado original? Já imaginaram se as pessoas tivessem coragem de ir a uma entrevista de emprego, apresentáveis, mas sóbrias e seguras de si, sem a preocupação de "agradar" ao patrão, que leva inclusive algumas mulheres a produzirem-se como prostitutas para ganharem o lugar? Afinal de contas, uma entrevista entre patrão e empregado é um negócio que deve - agora, mais do que nunca -, ser encarado como outro qualquer. Se ao patrão cabe a última palavra, e só ele saberá que padrões curriculares e humanos exige para seu colaborador[a], ao empregado cabe o direito de se informar da empresa e até do próprio patrão, e de aceitar ou não, as condições de trabalho que este lhe propõe. Utopia, isto? Eu respondo-vos com uma afirmação perfeitamente ao alcance de qualquer ser humano: não é utopia, só depende de nós! É possível inverter o sentido regressivo e submisso desta espiral. É possível dizer, muito obrigado senhor, mas eu não aceito as condições de trabalho que me oferece.
Agora, façam o favor de pensar sobre o assunto e de imaginar as consequências futuras desta nova forma de encarar o trabalho e digam-me se não será esse o melhor caminho para o dignificar.
Sinceramente, só com novas mentalidades, com novos paradigmas do direito ao trabalho, é que o empresariado português assentará de vez no século XXI. A crise devia servir de mola para dar esse necessário pulo. Mas, agora caí na realidade [sem pessimismo], com políticos a discutirem o RSI como bandeira eleitoral, é bem provável que o possível seja mesmo um mito.
Sinceramente, só com novas mentalidades, com novos paradigmas do direito ao trabalho, é que o empresariado português assentará de vez no século XXI. A crise devia servir de mola para dar esse necessário pulo. Mas, agora caí na realidade [sem pessimismo], com políticos a discutirem o RSI como bandeira eleitoral, é bem provável que o possível seja mesmo um mito.