O regime, ou melhor, a sua oligarquia usa uma "táctica" corriqueira para enterrar o que quer que o mace. Num dia aparece um problema qualquer. Aí, o regime hesita entre não falar dele, dizer que não o conhece ou afirmar que não há questão alguma. Simultaneamente cria-se uma manobra de diversão. Donald Trump e a pandemia têm servido como luvas. Vejamos um exemplo. O presidente da República apareceu com um arzinho de santinha da Ladeira, nas televisões, a jurar que apenas sabia da remoção telefónica do presidente do Tribunal de Contas pelos jornais. Na noite a seguir surgiu Costa, depois de um concerto, a constatar que não se passava nada de especial. Ele e o presidente tinham o mesmo "entendimento" sobre certos mandatos de nomeação política. A saber, ele e Marcelo entendiam - não era plural majestático - que nomeadamente os cargos de procurador-geral da República e de presidente do Tribunal de Contas só se exercem por um mandato não renovável. Não acrescentou, porque não podia, que nenhum deles explicitara isso aquando das respectivas eleições a que concorreram. Marcelo não o desmentiu nem o secundou. Limitou-se, no dia seguinte, pela calada da noite, a fazer saber que ia nomear novo presidente do Tribunal de Contas. Depois, na posse, proferiu uma alocução surrealista em que repetiu vezes sem conta que a nova escolha era "intencional", dele, embrulhando o pseudolíder da Oposição, o pobre do Rio, na escolha. Este, escreveram os mentideiros, até preferia a continuidade do anterior, mas não quis estragar o arranjo. Marcelo praticamente "culpou-o" pelo acto, "desculpando" Costa com a sua própria pessoa. Ou seja, tudo e o seu contrário em dias. Pior ainda. O chefe de Estado invocou a Constituição, sabendo perfeitamente que não está lá disposição alguma que determine ou deixe de determinar mandatos únicos nos dois casos que indiquei. Marcelo teve medo de usar a expressão adequada que traduzo para português: "É uma decisão política e não jurídica, muito menos constitucional, que eu assumo". E a vida pública retomou imediatamente a sua normalidade com Trump, a pandemia, os lugares-comuns, a propaganda e as selfies mascaradas. Sem o menor vestígio de sentido institucional ou de Estado. Só e apenas de estados de alma dissimulados dos venerandos titulares circunstanciais do poder político e partidário, rebocados pelo primeiro-ministro. Como programa de recandidatura presidencial é curto. A sorte é que o "povo" contenta-se com poucochinho.
João Gonçalves (JN)
Nota de RoP:
Marcelo, é o presidente ideal para Costa. Não importa se são de partidos diferentes, o que importa é que os interesses pessoais de cada um coincidam com a batota de ambos.
E no jeito de representar...