17 outubro, 2009

Será que só nos resta a revolução?

Quando o povo de um determinado país viveu com a euforia que se viu o 25 de Abril de 1974 e se juntou espontânea e solidariamente ao Movimento dos capitães [mais tarde designado por Movimento das Forças Armadas, MFA], estaria longe de imaginar que os crápulas do regime que pensava ter sido derrubado iriam, 35 anos mais tarde, continuar a dominar esse país, escondidos atrás da máscara da Democracia.
Esse tempo está a esgotar-se, e a máscara derreteu-se como manteiga em fogo. Eles já perceberam isso mas, como as leis que molduram esta Democracia são uma autêntica salada russa de contradições, vão ganhando consciência do escudo protector que tal constitui para abusarem do poder que detêm, e então, ninguém consegue pará-los. Roubam, mentem, sacrificam os povos nas suas barbas e borrifam-se para o que possam deles pensar, porque são por génese, corruptos.
A pergunta que levanto é a seguinte: se um povo, ou parte significativa desse povo, não consegue por via democrática, acabar com um sistema que os humilha e mina a existência, o que é que lhe resta além do recurso à força? Mais: os defensores do status quo, os que votam na degradação da democracia não serão também co-responsáveis?

16 outubro, 2009

Tsunami de indignação precisa-se!

Numa época em que tanto se sente a necessidade de criar mecanismos que libertem o Norte do jugo centralista que absorve muito e dá pouco, a notícia cai como uma bomba. A lisboeta Associação Industrial Portuguesa acaba de engolir a sua congénere nortenha! Não adianta dizerem que se trata de uma fusão, pois em todas as fusões o que na realidade acontece é haver um parceiro dominador e um parceiro dominado. Nesta fusão é fácil ver qual é um e qual é outro. Devo dizer que não tinha simpatia especial por Ludgero Marques pois achava-lhe convicções nortenhas pouco vincadas e uma patente preocupação de estar de bem com deus e o diabo. Depois de ouvir José António Barros na TV fiquei com boa impressão dele. Afinal enganei-me redondamente. José António Barros acaba de ter uma atitude de Judas ao trair a AEP e todo o Norte. Ficará na história desta associação como o seu coveiro, enquanto Ludgero sempre a defendeu.

Não sei o que pensam os associados nortenhos da AEP, eles que são a verdadeira razão de ser da associação, mas dificilmente acreditarei que os seus interesses e anseios sejam melhores defendidos e representados por uma associação sediada em Lisboa e dirigida por lisboetas, do que por uma AEP que morava na "porta ao lado", com todas as facilidades de proximidade, e com gente que forçosamente entendia melhor os seus problemas e idiossincrasias. Acresce que a estrutura industrial do sul é tão distinta da do Norte, que os problemas sentidos serão forçosamente muito diferentes e necessitarão de diferente enfoque para a procura de soluções. Ignoro se os associados da AEP deram a sua concordância expressa à Direcção, ou se não foram ouvidos. Se deram, lamento que tenham dado não um tiro no pé, mas sim um tiro na cabeça: suicidaram-se! Se não foram ouvidos, acho que terão de rebelar-se contra a direcção e exigir a auscultação do seu sentir.

Espero que a falecida AEP tenha o pudor suficiente para não vir argumentar que no Porto haverá uma "delegação principal"(!), a que Ludgero chama "delegação envergonhada". Já sabemos o que essas delegações são: apenas "caixas de correio" onde se depositam os problemas locais que seguidamente serão apreciados em Lisboa, que majestaticamente enviará de volta para o Porto os dossiers com a sua soberana decisão. E a Exponor e as suas Feiras? Que critérios passarão a ser seguidos e quem os definirá? Se a cúpula está em Lisboa, será de prever que o novo critério terá subjacente a prevalência dos interesses da FIL, com a consequente menorização da Exponor.

A justificação apresentada para esta absorção da AEP, é a necessidade de que o patronato fale a uma só voz, sobretudo na Concertação Social, mas o facto é que as outras confederaçoes patronais (turismo, agricultura, comércio, etc) não estão dispostas a fundir-se nem a abdicar da sua presença. Seria inviável ou muito complicado que AEP e AIP criassem um organismo paritário ad hoc para acertar posições conjuntas nos problemas em que fosse conveniente a indústria apresentar uma frente comum ?

Esta rendição da AEP é vergonhosa e humilhante. Gostaria de pensar que este passo não é irrevogável, que uma invencível indignação surgisse e, tal um tsunami gigante, varresse este acordo, e já agora varresse também os responsáveis da AEP por este acto lesivo dos interesses e da dignidade de todo o Norte.

p.s. Carlos Lage, Basilio Horta, António Pires de Lima e ministros do governo centralista, é claro que aplaudem que a AEP desapareça e que a sede da CEP fique em Lisboa. Se gente desta aplaude, é garantido que só pode ser prejudicial para o Porto. O presidente A.I. do Minho também acha muito bem. Ah, o ódio de Braga em relação ao Porto! Uma profunda desilusão foi a concordância de Rui Moreira. Ingenuidade ou calculismo? Será que a sua Associação Comercial também vai ser engolida e ele aplaudirá?

Prédios da Baixa continuam a desmoronar-se

Após a derrocada de um edifício na Rua Formosa, na semana passada, os prédios da Baixa do Porto voltam a estar em perigo. Ontem, ruíram partes de dois prédios: um na Travessa da Bainharia e outro na Rua de Camões.

A queda de alguns azulejos da fachada de um prédio na Travessa da Bainharia, no Centro Histórico do Porto, levou, ontem de manhã, à intervenção do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto, que, munidos de uma auto-escada, retiraram partes em perigo de cair. "Retirámos alguns azulejos que estavam soltos, mas a fachada não aparenta oferecer mais perigo. Pelo menos para agora", referiu fonte dos Sapadores do Porto.

A via entre a Rua Escura e a Travessa da Bainharia ficou cortada durante cerca de uma hora, enquanto os bombeiros removiam os detritos.

Mais tarde, cerca das 17.30 horas, os Sapadores do Porto receberam outro alerta para outro edifício em perigo de ruir. Desta vez, o batalhão foi chamado para uma casa não habitada no número 537 da Rua de Camões. Um pedaço de madeira, muito degradada, caiu da varanda para o passeio. Por sorte niguém foi atingido. No entanto, fonte dos Sapadores do Porto assegurou que o edifício não é considerado de risco.
Recorde-se que, na quarta-feira passada, ocorreu uma derrocada na Rua Formosa, no local dos antigos armazéns Lã Maria, fechados há mais de 30 anos. Nessa mesma rua encontram-se, ainda, cinco edifícios em estado de degradação semelhante ao do edifício que se desmoronou.
Estes três casos não são excepção, uma vez que 36% dos edifícios do Centro Histórico do Porto, ou seja 683 imóveis, estão em mau estado ou em ruína.
[Fonte: JN]

Jacques Brel : Les Bourgeois



Dedico esta canção da autoria do belga Jacques Brel às «elites nacionais». Já tem umas boas dezenas de anos de existência [o intérprete é que já morreu], mas mantem-se perfeitamente actual na sátira. Continuo sem compreender por que é que só Salazar e o respectivo regime inspiraram os cantores de intervenção. Será que, hoje, com tanta malandragem, não haverá espaço para este tipo de canções?

Já agora, aproveito para fazer desta "homenagem" ao oportunismo político e social dos novos tempos, uma outra bem mais séria ao post aqui publicado logo abaixo, pelo António Alves.

LES BOURGEOIS

Le coeur bien au chaud
Les yeux dans la bière
Chez la grosse Adrienne de Montalant
Avec l'ami Jojo
Et avec l'ami Pierre
On allait boire nos vingt ans
Jojo se prenait pour Voltaire
Et Pierre pour Casanova
Et moi, moi qui étais le plus fier
Moi, moi je me prenais pour moi
Et quand vers minuit passaient les notaires
Qui sortaient de l'hôtel des "Trois Faisans"
On leur montrait notre cul et nos bonnes manières
En leur chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête
Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient c...

Le coeur bien au chaud
Les yeux dans la bière
Chez la grosse Adrienne de Montalant
Avec l'ami Jojo
Et avec l'ami Pierre
On allait boire nos vingt ans
Voltaire dansait comme un vicaire
Et Casanova n'osait pas
Et moi, moi qui restait le plus fier
Moi j'étais presque aussi saoul que moi
Et quand vers minuit passaient les notaires
Qui sortaient de l'hôtel des "Trois Faisans"
On leur montrait notre cul et nos bonnes manières
En leur chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête
Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient c...

Le coeur au repos
Les yeux bien sur terre
Au bar de l'hôtel des "Trois Faisans"
Avec maître Jojo
Et avec maître Pierre
Entre notaires on passe le temps
Jojo parle de Voltaire
Et Pierre de Casanova
Et moi, moi qui suis resté le plus fier
Moi, moi je parle encore de moi
Et c'est en sortant vers minuit Monsieur le Commissaire
Que tous les soirs de chez la Montalant
De jeunes "peigne-culs" nous montrent leur derrière
En nous chantant

Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête
Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient c...




John of God Pine Tree ou os comidos por lorpas

John of God Pine Tree, vulgo João de Deus Pinheiro, ex-ministro e ex-comissário europeu, prócere do cavaquismo e sem obra política notável, lisboeta retinto, ou melhor, verdínto, porque a alface é verde, fez-se eleger deputado, como cabeça de lista do PSD, por Braga. Participou em debates, analisou problemas do distrito, fez promessas. Deu até lustro ao ego dos bracarenses - os citadinos - falando-lhes de Braga e da sua importância como contraponto ao "portocentrismo" - é assim que se ganham votos em Braga.
Os debates em que o senhor interveio, a par com igual pára-quedista do partido irmão, foram transmitidos por TV's, rádios locais e até blogues. Não tenho memória de alguém lhe ter perguntado se o mandato era para cumprir ou se andava ali só a trabalhar para a manutenção dos seus níveis de militância fazendo o frete de andar a aturar os parolos lá do Minho durante duas semanas.
Os bracarenses vão ser agora representados por um jotinha que não foi capaz de arregimentar votos suficientes para se fazer eleger e que o povo claramente rejeitou porque impediu que o PSD elegesse deputados suficientes que cobrissem o lugar que o imberbe ocupava na lista.
Cada povo tem o sistema político que merece. Mas há quem mereça mais que outros.

15 outubro, 2009

Ainda há milagres?

Com o Norte (que para mim vai pelo menos até ao rio Vouga) habituado a ser espoliado dos poucos organismos oficiais - ou delegações - que aqui existem, uma notícia como aquela lida há poucos dias na imprensa, na contra-corrente da força centrípeta que tudo empurra para Lisboa, qual eucalipto gigante a secar tudo à sua volta, essa notícia, dizia eu, deixa-nos simultaneamente esperançados e cépticos. É o caso que o Estado-Maior da Força Aérea apresentou um estudo ao ministério da Defesa propondo que o denominado Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea (CFMTFA) que funciona na antiga base aérea da Ota, fosse transferido para a base da Cortegaça(Ovar). Entende a Força Aérea que teria a vantagem de maior potencial de recrutamento e que ganharia com a proximidade dos centros tecnológicos de Aveiro, Coimbra e Porto. Acresce que a FA estima que seria suficiente um investimento de apenas 70 milhões de Euros, muito menos que o necessário para reconstruir e actualizar as decrépitas e inadequadas instalações da Ota. Se pensarmos que o CFMTFA tem cerca de 900 alunos e forçosamente muitas dezenas de instrutores e pessoal dirigente e administrativo, vê-se como seria interessante para toda a região esse acréscimo de actividade económica trazida por uma "fábrica" com um milhar de empregos de raiz tecnológica.

Gostaria de pensar que os autarcas e as associações económicas do distrito, bem como os responsáveis de, pelo menos, a Universidade de Aveiro, se reunirão rapidamente para criação de um verdadeiro lobi destinado a conseguir a concretização da transferência, mas no entanto tenho uma forte suspeita de que, pelo contrário, vão ficar todos numa atitude de expectativa, a olhar para o céu a ver se cai alguma coisa.

Dada a prática habitual dos governos centralistas e sulistas que nos (des)governam, reconheço que há uma forte hipótese de o senhor ministro, embora concordando com o abandono da Ota, decida que em vista disto e mais daquilo, a transferência de efective sim, não para Ovar mas para o aeroporto de Beja ou mesmo para o do Montijo! Mesmo assim penso que é uma batalha que os interessados não têm o direito de não travar, por muito que de um governo que nos rouba milhares de milhões sob o pretexto do famigerado "efeito de difusão", tudo seja de esperar, especialmente se os espoliados não se mexem e se limitam a inócuas lamúrias depois da casa roubada. Mas... não será possível que ainda ocorram milagres?

Explicações para as púdicas donzelas da capital do império



Dado que os sketches do Boby e do Tareco já estão gastos, a fruta e o café com leite e o Bimbo da Costa também, queria sugerir aos humoristas de Lisboa [da Contra-Informação, Gatos Fedorentos e demais], que se lembrassem de fazer Humor com um pouco mais de democracia e colassem às grandes orelhas de Luís Filipe Vieira uma história engraçada de pneus e outras "drogas"...

Ao Jornal de Notícias: divulguem o Porto Canal, bolas!

Ricardo Jorge Pinto, um dos jornalistas participantes no debate do Porto Canal que aqui citei, disse - e muito bem -, que não compreendia os porquês da "ilegalidade" constitucional de um canal regional não poder ser transmitido em canal aberto.
O meu amigo e colaborador deste blogue, o Rui Farinas, também já se insurgiu aqui em post e em conversas pessoais, contra a exclusão da programação regular do Porto Canal nos jornais diários, nomeadamente naquele que se considera o jornal de referência do Norte e do Porto, o Jornal de Notícias!!! Eu,também não consigo atingir tão estranha e contraditória «solidariedade» nortenha, quando publica a programação de todos os outros canais abertos, públicos e privados [ a RTPN não tem canal aberto], incluindo canais desportivos [Sport TV] e recreativos [SIC Radical e dois da TVCine].
Que diabo, eu compreendo que os jornalistas, incluindo os directores de informação, são assalariados de um patrão a quem devem obediência, mas não são os próprios jornalistas [os mais responsáveis], que andam a dizer à boca pequena que o jornalismo não deve ser vendido como sacos de batatas?
Os jornais, toda a gente percebe, precisam de vender, mas vender muito, pode não traduzir vender bem, de forma cadenciada e segura. Acredito, que dado o grau elevado de iliteracia e o baixo poder de compra dos portugueses, jornais sensacionalistas e polémicos como o Record e A Bola, o 24 Horas, etc., consigam assim mesmo vender, mas é tudo uma questão de tempo, porque no fim será a "nata" que acabará sempre por vir a superfície e sobreviver.

Fizessem mais alguns o que eu já faço há muitos anos, que deixei pura e simplesmente de ler e comprá-los, por esta altura estariam todos falidos e seriam "obrigados" a perceber porquê, caso quisessem sobreviver. Fossem os portuenses portistas mais exigentes, não bastaria às Bolas e aos Records colocarem umas isquinhas saborosas como os artigos do Miguel Sousa Tavares ou do Rui Moreira, para atraírem o seu interesse, só porque eles são portistas e defendem o FCPorto, quando 99% dos outros colaboradores desses pasquins passam a vida a atacá-lo. E os portistas mordem essa isca, esquecendo-se que tão singular curiosidade irá contribuir para o sustento de uma maioria de articulistas que tudo faz para destruir não só a imagem do clube como da própia cidade.

Como «sabiamente» disse o cromo Luís Filipe Vieira - mais conhecido pelo tamanho das orelhas o que é elucidativo - é pelo peixe que a boca morre [esta parte-me a coisa!] ...

14 outubro, 2009

De Maitê para Lisboa!



As donzelas da imperial e neo-colonial Lisboa, ofenderam-se todas com os motejos da bela Maitê Proença àcerca de Portugal não propriamente por ela ter ironizado com os portugueses, mas por tê-lo feito em Sintra e Lisboa...

Afinal, por quê tanto escândalo se os "portugueses" de Lisboa passam o tempo a fazer o mesmo com portuenses e alentejanos, além de nos chularem. Foi isso mesmo que eu escrevi: chularem! Então, tomem e embrulhem. Esta foi direitinha para um "Portugal" muito alfacinha.

Não gostaram? Eu adorei. Viva a Maitê!

Lembram-se do Contra-Informação e dos Gatos Fedorentos? Não? Então vão ao médico.

Excelente debate ontem, no Porto Canal

Pela primeira vez, desde há muitos anos anos, assisti a um debate num canal do Porto [Porto Canal], com jornalistas do Porto, pragmático, inteligente e... CORAJOSO! O tema foi, o resultado das autárquicas no Grande Porto. Pena é, que a clareza do dircurso não seja igualmente cristalina e contundente quando os cenários são outros... Como é bom de entender, estou obviamente a referir-me a cenários como a RTP, SIC e TVI.

Os protagonistas, além do jovem pivot da Porto Canal, foram: José Queiroz, Ricardo Jorge Pinto e Jorge Fiel.
Apreciei particularmente as prestações de Jorge Fiel e de Ricardo Jorge Pinto que, perante as políticas de mentira compulsiva dos governantes em relação à Regionalização, não tiveram dúvidas em afirmar que, a única solução para o Porto e para o Norte em geral, era o método de Alberto João Jardim, ou ... à "cotovelada" [como Jorge Fiel ironizou]. É de jornalistas assim que precisamos. Aquilo sim, é serviço público, sem demagogia nem cerimónia. O caminho é esse. Não se iludam com quem vos sugere o contrário.

13 outubro, 2009

Resultados: uma análise sócio-política

Ao contrário do que alguns tentam fazer crer, a vitória de Rui Rio não se deve ao ‘povo’. O núcleo duro de votantes de Rio é uma elite. A elite financeira e económica, a burguesia tout court, que habita principalmente em Nevogilde, Foz, Lordelo do Ouro, Aldoar, Massarelos e Cedofeita. As maiores percentagens de Rio foram obtidas nestas freguesias. Nevogilde, paradigmaticamente, deu-lhe uma votação de 77%; a Foz 59%. Lordelo, mais eclética, mas que inclui a Gomes da Costa, o Cristo Rei e parte significativa da Av. da Boavista, premiou-o com mais de 52%. Cedofeita também 52%. Em Aldoar, mais classe média, também com bairros sociais, mas que inclui igualmente parte da Av. da Boavista, a Fonte da Moura, António Aroso e toda a zona do Garcia da Orta até à junta de Nevogilde, obteve 46,5%. No total, nestas freguesias somou 24 562 votos. 39,3% da sua votação. A grande freguesia do oriente e o centro histórico, significativamente as mais pobres, discriminadas e abandonadas partes da cidade, votaram maioritariamente em Elisa Ferreira. Mas é inegável que Rio não venceria sem parte considerável da classe média que resta (Paranhos, Ramalde) e de muita gente dos bairros sociais. A estratégia da coesão soldada a tinta plástica resulta. Significativo é também a transferência de muitos votos comunistas, e até do BE, para Rio, como demonstram a diferença entre a votação para a Assembleia e a Câmara. Afinal, os extremos tocam-se, não é? Esta é uma cidade dual e isso reflecte-se nos resultados eleitorais.

O que me intriga é que este homem, com uma excelente estratégia eleitoral, tenha uma visão tão estreita da cidade e, parafraseando António Lobo Xavier, seja um incapaz de qualquer “comunicação de sonhos” e se limite a ser “um homem muito prático”, que “não fala de grandes projectos, não exibe um grande conhecimento do mundo”. Reflecte, no fundo, o Porto actual e a sua burguesia. Ao contrário do que advoga Rui Moreira no seu recente livro, o frenesim político pós 25 de Abril desta burguesia não se deveu ao seu intrínseco liberalismo, pois este há décadas e décadas que desapareceu. Deveu-se ao seu atávico terror em perder privilégios e profundo horror à modernidade. Aliás, um arquétipo desta burguesia é o sempre presente advogado Miguel Veiga.

Também é verdade que a maioria dos portuenses votantes não votou em Rui Rio – 69 mil eleitores contra 62 500 escolheram outras opções. Nenhuma vitória se deve ao ‘povo’ quando a maioria do povo não votou nessa opção. Mas o sistema eleitoral autárquico é este e eu até concordo com ele. Resta-nos democraticamente combater a gestão sem “grande conhecimento do mundo” desta Câmara.

O divórcio entre elites e o povo do Porto [Público]

O enfrentamento entre Rui Rio e Elisa Ferreira tinha todos os condimentos para se tornar num debate entre a cara e a coroa, o verso e o anverso de uma mesma moeda. Em muitos aspectos, os dois candidatos tinham as qualidades opostas. Elisa, candidata pensada para agradar às elites, enveredou por uma linguagem tecnocrática baseada na sua experiência profissional nas áreas do planeamento e do ordenamento. Tem, além disso, um estilo aberto, tolerante, progressista e moderno no qual essas elites se podiam rever. Rui Rio, por seu lado, é uma pessoa sóbria, com uma linguagem política despojada, sem nenhuma comunicação de sonhos. É um homem muito prático, não fala de grandes projectos, não exibe um grande conhecimento do mundo. Os seus trunfos políticos são uma autenticidade desarmante, uma franqueza que chega a parecer ingénua, uma despreocupação com os cânones do discurso político moderno.
Isto era o que parecia à partida. O decurso da campanha, porém, depressa mostrou como é difícil fazer política sem uma organização, sem uma máquina partidária. De facto, Elisa Ferreira falhou sobretudo na campanha eleitoral. Falhou ao não ter o apoio local do PS, falhou ao nível da organização, falhou na sua própria prestação pessoal, especialmente nos debates na TV, onde foi uma surpreendente decepção.
O reforço da posição de Rui Rio era muito difícil de adivinhar. Porque parecia ter uma candidata à sua altura e também porque o aparente divórcio entre a sua presidência e as chamadas elites do Porto dava sinais de agravamento nos últimos quatro anos. A sua vitória é, por isso, e antes de tudo o mais, uma vitória contra o sentido das apostas, contra os comentadores, contra a opinião publicada. Sobra, assim, tópico incontornável para análise: por que razão as elites se mostram tão divorciadas do poder camarário e, aparentemente, o povo cada vez mais próximo?

António Lobo Xavier

Jurista e militante do CDS-PP [Público]

Impostos

Peritos querem que o Estado cobre 20% sobre lucros da Bolsa

Este nosso Estado é mesmo diligente a tomar decisões! Só é preciso dizer para onde vai esse imposto. Se for para dar de mamar a Lisboa aconselho aos accionistas dos restos de Portugal que lhe façam um manguito.

12 outubro, 2009

O voto no Pato Donald

Rui Rio é re-eleito e amplia a sua maioria, que já era absoluta. Não entendo os meus conterrâneos. Porque motivo quererão eles no comando da sua cidade, alguém que em oito anos não fez nada por ela, nada daquilo que um presidente é suposto fazer: tornar a cidade mais agradável, melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes e aumentar-lhes a auto-estima, torná-la mais conhecida ( aceito como excepção a Red Bull Race ) incentivar e ajudar as instituições que, em variadíssimas actividades, fazem parte do património cultural, desportivo e artístico.

Haverá múltiplas explicações, cada uma delas com um bocadinho da verdade. A minha explicação, que vale o que vale, é a convicção que a maioria dos portuenses votou basicamente no partido da sua preferência, ignorando que não são os partidos que resolvem os problemas locais. Pelo contrário, os partidos só atrapalham. Esses eleitores, para fazer triunfar o partido da sua preferência, até no Pato Donald votavam se ele fosse o candidato. Chego à triste conclusão que a maioria dos portuenses não parece preparada para eleger autarcas, pois votar em símbolos e não em pessoas é sinal de falta de maturidade cívica e política.

Crimes do Estado

Sabem o que quer dizer etefio sordifu? Não sabem? E otiefe rosufid? Eu explico: quer dizer exactamente, e f e i t o d i f u s o r ! Percebem melhor lido ao contrário?
O efeito difusor não é mais do que uma fórmula oficial sofisticada que poucos entendem, inventada pelo Governo português para roubar legalmente o povo do Porto e Norte de verbas que lhe eram destinadas por razões de pobreza, e ficar com elas em Lisboa a pretexto de, a partir da mui "solidária" capital, se gerar riqueza com efeitos no resto do país. Perceberam a patranha?
Pois bem, o otiefe rosufid, ou efeito difusor, como preferirem, é mais uma medida da lavra dos nossos governantes que me deixa inchado de orgulho, porque roubam na nossa cara e "nós" [eu excluído], continuamos alegremente a dar-lhes o nosso voto e a prestar importância às eleições, como mandou o Big Boss Cavaco. Mas, o meu orgulho atinge o climax patriótico e o auge do respeito, quando fico a saber que fomos o único dos 27 países da União Europeia a usar de fundos destinados a desenvolver as regiões mais pobres, para os aplicar na mais rica [Lisboa].
Estivessem agora certos senhores à minha frente com a bandeira "portuguesa" pelo meio, eu cuspia em cima dela e esfregava-a no mal cheiroso nariz, para terem uma pequena ideia da consideração que me merecem. Párias!

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Elisa Ferreira versus Luís Filipe Menezes

Um dos grandes dramas para os eleitores, é não conseguirem descobrir o exacto momento onde a agulha descensional do princípio de Peter começa a aplicar-se aos políticos aparentemente competententes.
Esta suspeita ocorreu-me quando pensava na vitória estrondosa [70%!] e merecida, de Luís Filipe Menezes na Câmara de Gaia, e a comparava com o "fracasso" infligido enquanto líder de curta duração do PSD. Afinal, o que é que poderá explicar resultados tão contraditórios? O "pecado" sulista, elitista e liberal, ou o loby centralista de Lisboa? Ou, os dois "pecados" juntos?
De certa maneira, não obstante, com resultados e percursos diferentes, Luís Filipe Menezes quando ascendeu a líder do PSD cometeu a mesma asneira que Elisa Ferreira na candidatura à CMPorto. E não estarei enganado se disser que aquilo que traiu ambos, foi o medo de perderem. Isto é, não perceberam que a partir de determinada altura, quando a fasquia foi colocada mais alta, era preciso seguir em frente, apostar tudo, usando os mesmos "condimentos" que os guindou ao sucesso, e não [como aconteceu], realizar uma volta de 180º na estratégia.
Lembro-me, da decepção que senti quando percebi que LFMenezes mal aterrou em Lisboa na condição de líder, se esqueceu subitamente de falar da Regionalização e do excesso de zelo do seu discurso. Disse cá para mim: estás feito ao bife, já estás a recuar, já não vais lá. E foi exactamente isso que sucedeu. Luís Filipe Menezes tinha acabado de se assinar o seu nome no clube dos amigos do Princípio de Peter, o que vale dizer, que tinha atingido o seu nível de incompetência. Foi, e é, um excelente autarca, não soube abrir caminho para ser um bom Líder. Duvido que o venha a ser.
Com Elisa Ferreira, o percurso foi diferente, mas o erro foi o mesmo. Teve medo de perder, não arriscou, encolheu-se na sua simpatia e deixou-se levar por apoios dúbios de gente incompetente [como o líder da concelhia do PS por exemplo] e afundou-se.
É à luz destes dois paradigmas, que se torna cada vez mais difícil descobrir verdadeiros líderes. Para se ser líder, é preciso ter a fortuna de reunir um número de factores de vária ordem que não está ao alcance de qualquer um, mesmo dos mais competentes.

A derrota absurda de uma potencial vencedora

Como já suspeitava, o meu voto-contra-Rui Rio, não me serviu para nada. Ganhou o cinzentismo e a conflitualidade.
Senhores apoiantes de Rui Rio: tudo o que de mau acontecer ao Porto durante os próximos 4 anos e durante período atribuído aos respectivos efeitos secundários, é da vossa inteira e exclusiva responsabilidade. Quando as coisas começarem de novo a dar para o torto, não admito que me incluam no vosso grupo e que me venham dizer que a culpa pelo definhamento do Porto é de todos nós. Não é, não senhor, é vossa e só vossa! Por isso, fiquem lá com o troféu da vitória da Mediocridade, que não serei eu a felicitar-vos por ela. A minha ética democrática não é orientada pelos vossos clichés oportunistas.
Segundo ponto. Como previ desde o início, os tiros nos pés em política pagam-se caros. Elisa Ferreira ficou [espero] a saber que assim é. Não sei se foi por ingenuidade ou por estupidez, Elisa quando arrancou, decidiu fazê-lo começando por oferecer metade dos seus votos a Rui Rio com o pé que manteve seguro em Bruxelas, mas a verdade é que se pôs muito a jeito para sofrer esta derrota humilhante. Rio, devia agradecer-lhe.
Ponto terceiro. A estrutura partidária do PS, não quis que Elisa vencesse estas eleições, caso contrário, não a teria "aconselhado" a seguir a estratégia que seguiu, porque foi o suficiente para ter sofrido uma derrota patética quando podia ganhar com uma perna às costas.
Ponto final. Talvez Elisa Ferreira tenha assim comprometido definitivamente a sua futura carreira política em Portugal. Só lhe resta deixar-se estar em Bruxelas, com a gamela. Como diria o analfabeto Orelhas: pelo peixe morre a boca!
Amén.

11 outubro, 2009

NOZZE DI FIGARO - MOZART - Voi Che Sapete

Já votei!

Eram precisamente 11 horas da manhã quando coloquei o(s) meu(s) humilde(s) voto(s) na Secção 5 da Câmara Municipal do Porto. Está feito. Logo veremos se me serviu para alguma coisa.
PS-Não, não fui às urnas por causa do discurso paternalista do senhor Presidente da República. Pelo contrário, quando o ouvi a dizer que votar era uma obrigação, até me apeteceu mudar de ideias, mas pelo Porto faço tudo, até engolir sapinhos cavaquistas.