O enfrentamento entre Rui Rio e Elisa Ferreira tinha todos os condimentos para se tornar num debate entre a cara e a coroa, o verso e o anverso de uma mesma moeda. Em muitos aspectos, os dois candidatos tinham as qualidades opostas. Elisa, candidata pensada para agradar às elites, enveredou por uma linguagem tecnocrática baseada na sua experiência profissional nas áreas do planeamento e do ordenamento. Tem, além disso, um estilo aberto, tolerante, progressista e moderno no qual essas elites se podiam rever. Rui Rio, por seu lado, é uma pessoa sóbria, com uma linguagem política despojada, sem nenhuma comunicação de sonhos. É um homem muito prático, não fala de grandes projectos, não exibe um grande conhecimento do mundo. Os seus trunfos políticos são uma autenticidade desarmante, uma franqueza que chega a parecer ingénua, uma despreocupação com os cânones do discurso político moderno.
Isto era o que parecia à partida. O decurso da campanha, porém, depressa mostrou como é difícil fazer política sem uma organização, sem uma máquina partidária. De facto, Elisa Ferreira falhou sobretudo na campanha eleitoral. Falhou ao não ter o apoio local do PS, falhou ao nível da organização, falhou na sua própria prestação pessoal, especialmente nos debates na TV, onde foi uma surpreendente decepção.
O reforço da posição de Rui Rio era muito difícil de adivinhar. Porque parecia ter uma candidata à sua altura e também porque o aparente divórcio entre a sua presidência e as chamadas elites do Porto dava sinais de agravamento nos últimos quatro anos. A sua vitória é, por isso, e antes de tudo o mais, uma vitória contra o sentido das apostas, contra os comentadores, contra a opinião publicada. Sobra, assim, tópico incontornável para análise: por que razão as elites se mostram tão divorciadas do poder camarário e, aparentemente, o povo cada vez mais próximo?
António Lobo Xavier
Jurista e militante do CDS-PP [Público]
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