O mês de Agosto é para mim o pior dos mêses de verão para ir de férias, ou apenas para descansar. Na conjuntura actual, é no entanto perfeito para relaxar o cérebro do pesadelo que se vive neste mundo doente de crises, políticos, troikas e noticiários masoquistas. Como tal, informo os caros leitores e amigos que durante uns dias ou semanas, só escreverei no Renovar o Porto pontualmente e se considerar oportuno. Até lá, deixo-vos com este excelente artigo de Manuel António Pina, com o qual estou em perfeita comunhão:
Coisas sólidas e verdadeiras
O leitor que, à semelhança do de O'Neill, me pede a crónica que já traz
engatilhada perdoar-me-á que, por uma vez, me deite no divã: estou farto
de política! Eu sei que tudo é política, que, como diz Szymborska,
"mesmo caminhando contra o vento/ dás passos políticos/ sobre solo
político". Mas estou farto de Passos Coelho, de Seguro, de Portas, de
todos eles, da 'troika', do défice, da crise, de editoriais, de
analistas!
Por isso, decidi hoje falar de algo realmente importante: nasceram três melros na trepadeira do muro do meu quintal. Já suspeitávamos que alguma coisa estivesse para acontecer pois os gatos ficavam horas na marquise olhando lá para fora, atentos à inusitada actividade junto do muro e fugindo em correria para o interior da casa sempre que o melro macho, sentindo as crias ameaçadas, descia sobre eles em voo picado.
Agora os nossos novos vizinhos já voam. Fico a vê-los ir e vir, procurando laboriosamente comida, os olhos negros e brilhantes pesquisando o vasto mundo do quintal ou, se calha de sentirem que os observamos, fitando-nos com curiosidade, a cabeça ligeiramente de lado, como se se perguntassem: "E estes, quem serão?"
Em breve nos abandonarão e procurarão outro território para a sua jovem e vibrante existência. E eu tenho uma certeza: não, nem tudo é política; a política é só uma ínfima parte, a menos sólida e menos veemente, daquilo a que chamamos impropriamente vida.