O actual governo feriu profundamente a auto-estima e o amor-próprio dos juízes portugueses, pois, ao retirar-lhes uma parte das suas remunerações, colocou-os ao mesmo nível de qualquer funcionário do Estado. Colocou-os, de facto, num plano de relevância e dignidade inferior ao de outros funcionários que, por uma razão ou por outra, não sofreram essa medida, como, p.e., os do Banco de Portugal. Sublinhe-se, aliás, que, em matéria de supervisão bancária, das decisões dos funcionários do BP se recorre para um juiz. Com essa medida o governo não teve em conta a especificidade das funções dos juízes, mas sobretudo, não respeitou as suas prerrogativas funcionais, designadamente a independência. Como é que um juiz será independente perante um governo que pode alterar tão expeditamente as suas remunerações?
Dir-se-ia que os juízes estão a beber o que eles próprios
colocaram no cálice. Foram mais de trinta anos de triunfalismo sindical
que incluiu greves às suas funções soberanas, desrespeito dos cidadãos e
dos advogados, manifestações públicas de arrogância contra os outros
poderes do Estado e mesmo declarações de insubordinação contra algumas
leis da República. Comportando-se como funcionários os juízes acabariam
tratados como funcionários. Dir-se-ia, então, que eles estão a colher o
que semearam. Dir-se-ia, até, que tudo isso é uma questão entre poderes
do Estado, com a qual os cidadãos e os advogados nada têm a ver; mas
não. Não se trata de pôr na ordem uma classe profissional que perdera o
sentido da sua dignidade tradicional. Está em causa a boa administração
da justiça que é um valor superior do Estado de Direito e um serviço
público essencial à cidadania, ao progresso económico e ao
desenvolvimento pacífico da sociedade democrática.
Jamais haverá
boa administração da justiça sem juízes independentes e nunca haverá
juízes independentes quando o governo lhes puder diminuir assim as suas
remunerações. A independência dos juízes não é um direito laboral, muito
menos um privilégio corporativo ou pessoal como, infelizmente, muitos
deles chegaram a pensar; é uma garantia do Estado de Direito aos
cidadãos e à sociedade democrática de que a justiça será administrada de
acordo com a lei e o direito sem quaisquer interferências ou
dependências de outros poderes ou interesses. Por isso, sem juízes
independentes nunca haverá uma justiça digna desse nome.
E ninguém
melhor do que os advogados compreende isso, pois também não haverá
justiça sem advogados livres e independentes. Aliás, é a parcialidade
dos advogados na defesa das causas que patrocinam que exige e reforça a
imparcialidade e a independência funcionais dos juízes. Por isso, hoje
mais do que nunca, é necessário que os magistrados respeitem os cidadãos
e os seus mandatários e se assumam como servidores da justiça e não
como donos dela. Num Estado de Direito a justiça não tem donos, tem
servidores; e todos - juízes, procuradores e advogados - a devem servir
com igual empenho e respeito.
Tal como em outras épocas da nossa
história, os advogados terão, hoje, de estar na primeira linha da defesa
da boa administração da justiça e, consequentemente, da independência
dos juízes. Aliás, foram os advogados que, em 25 de abril de 1974,
impediram que a justiça caísse na rua; foram eles que salvaguardaram o
sistema judicial das contingências de um processo revolucionário que
convulsionou as estruturas do velho Estado Novo; foram eles que
protegeram os magistrados dos antigos tribunais plenários da ditadura,
permitindo que, apesar dos ignóbeis crimes cometidos, transitassem
tranquilamente para os tribunais comuns da democracia sem sequer serem
objecto do mais leve juízo de censura.
Dos juízes espera-se agora
que meditem e tirem as conclusões do que foi a sua actuação nos 35 anos
de democracia e, sobretudo, do facto de terem optado por formas de
organização impróprias do seu estatuto funcional. Espera-se que,
chegados a esta situação, eles tenham a humildade de aprender com os
seus erros e de substituírem a cultura de poder e de arrogância que os
tem caracterizado por uma nova cultura de respeito e de serviço público.
Só assim serão respeitados numa sociedade democrática.
Tenho cá uma pena deles!...
ResponderEliminarPois se esta Casta está toda politizada. É só ler e ouvir os jornais e televisões como eles defendem os amigos de partido.
Fodido estou eu! reformado do privado que não tenho nada a ver com esta corja que estão cheios privilégios, levei o meu corte que tanta falta me fez.
Agora que também é verdade, que este Governo Maligno só rouba a uns
deixando os outros a não pagar a crise.
Termino com um proverbio do povo:
Pimenta no cu dos outros é fresca.
O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.