É uma maçada, mas lá vou eu ser outra vez politicamente incorrecto. Por precaução, embora não tencione difamar ninguém, o melhor é pedir antecipadamente desculpas públicas por me recusar a seguir a cartilha da hipocrisia institucional, não vá por acaso algum sacana mais sensível querer processar-me...
Afinal, o que tenho para dizer nada tem de transcendente e resume-se ao seguinte: se o 1º.Ministro, este, ou qualquer outro, ou o Presidente da República, este, ou qualquer outro, me forem ao bolso, sem minha autorização, e levarem a carteira [mesmo que vazia], tenho toda a legitimidade para os acusar de ladrões. Não deixarão nunca de ser gatunos por terem chegado a cargos para os quais não têm a exigível estrutura moral. Isso pode estar a acontecer, não de forma tão óbvia, mas por outras mais sofisticadas. Duarte Lima, que o diga. Foi Presidente do Grupo Parlamentar do PSD por decisão do actual Presidente da República, e no entanto, está a ser procurado pela justiça brasileira por suspeita de homicídio e detido pela portuguesa por branqueamento de capitais. Portanto, nada de melindres...
E por que é que coloco assim as coisas? Talvez para ajudar o próximo a passar a avaliar as pessoas por aquilo que elas realmente são, e não pelo estatuto que alcançaram. E muito menos pelo dinheiro que possuem. As pessoas, não são mais pessoas, pelo estatuto. Pelo contrário, o estatuto é precisamente a "arma" mais utilizada por certas indivíduos para passarem uma imagem de integridade que efectivamente não têm. Cito novamente, a título de exemplo, Duarte Lima, porque utilizou a sua condição de político e influência, para enriquecer, e para tudo o resto que mais tarde haveremos de saber. Mas haverá mais, e alguns deles, se calhar, até estão outra vez no Governo.
Estas conclusões, nada têm de inédito e abusivo, mas é importante transferí-las para escândalos aparentemente menos espectaculares, mas nem por isso menos graves. Refiro-me ao centralismo e à prepotência que lhe está colada.
Hoje, lendo o Gande Porto, fiquei a saber que o Governo se prepara para alterar o modelo de administração do sector portuário, no qual se inclui o porto de Leixões, que como é do conhecimento geral tem recebido toda a espécie de elogios à sua qualidade de gestão. A intenção, mais uma vez, é retirar ao Norte a autonomia administrativa da APDL para a concentrar em Lisboa. Tudo, com o sempre-eterno pretexto de reduzir custos.
Rui Moreira já se insurgiu contra esta nova ofensiva do centralismo, prometendo tudo fazer para impedir [cito] "a lisbonização do poder local", usando para tal a influência da Associação Comercial do Porto, mas duvido sinceramente que, se a intenção do Governo for para a frente, isso seja suficiente. Os governos centralistas há muito que perceberam o isolamento e a fragilidade reinvindicativa dos nortenhos, por isso, se decidirem avançar com a ideia, ninguém os deterá, e o Norte ficará mais uma vez a falar sozinho.
Apatias e oportunismos à parte - nomeadamente das suas vergonhosas elites -, os nortenhos estão a ser nitidamente gozados e desprezados pelo poder central, com a agravante de alguns deles se prestarem ao vil papel de serventuários do regime. Apesar disso, eu continuo a ter orgulho na minha condição de portuense e nortenho, não me revendo em nada nos exemplos miseráveis de alguns conterrâneos, que mal chegados ao poder, se vendem como putas.
E é chegados aqui, que chamo à colação a caricatura do início do post. O que os governantes estão a fazer, exacerbando irresponsavelmente o centralismo, é a fabricar um monstro. Estão a destruir e a dividir o país e, fanaticamente, a colocar nas mãos de cada nortenho que ainda mantém a dignidade intacta, um revólver que, mais cedo ou mais tarde se há-de voltar contra eles e, quem sabe, talvez matá-los.
É com estes actos irresponsáveis que nascem muitos movimentos separatistas, e não vale a pena depois chamarem-lhes terroristas, porque o mal estará feito, e a paz será então debitada, com toda a Justiça aos colaboracionistas do centralismo, de cá, e de lá. E pela minha parte, nessa altura, não verterei uma lágrima pelo que lhes possa acontecer.