No mesmo dia, no mesmo jornal – Público 29 de Janeiro de 2013 –,
duas notícias que podem tudo ter a ver uma com a outra: “Reabilitação do
Bolhão só terá verbas do QREN, se houver sobras” e “Se o Estado não tem
dinheiro para a cultura, é preciso inventar saídas”. Na
indisponibilidade de verbas do QREN, tudo indica que a Câmara do Porto
irá seguir o seu “plano de lavagem da cara ao Bolhão”, com os 735 mil
euros inscritos no Orçamento Camarário. A habitual política nortenha do
“caldo verde”. Mas não há mesmo outras opções?
Num dos artigos acima referidos, das conclusões dos encontros
internacionais de gestão cultural realizados a semana passada em Madrid,
por não ser possível depender apenas do Estado para a criação
artísticas: “… não há dinheiro mas existem ideias, fulcrais para que
se inventem novas formas de financiamento, é possível continuar a
criar, é possível ganhar dinheiro com a cultura, só é preciso descobrir
como. Às vezes das formas mais inesperadas. Não existem fórmulas, há que
arriscar” e um apelo à colaboração entre o Estado e o sector privado.
Esperar que o Estado seja a solução para os problemas começa a ser
uma questão do passado, sendo a crise uma oportunidade de transição de
um modelo obsoleto de financiamento para um modelo de colaboração. John
Holden, professor de Política Cultural na City University of London,
destaca a importância da revolução tecnológica, que deve ser vista como
uma oportunidade: “… cada vez surgem meios alternativos para
angariar fundos, como as plataformas de crowdfounding…, dado que as
pessoas dão valor à cultura, como se pode ver pelos grandes museus, que
estão sempre cheios, e os espectáculos e concertos tantas vezes
esgotados”.
Regressando à nossa telenovela da reabilitação do Mercado do Bolhão,
na falha da resposta pública, porque não a sua entrega directa aos
cidadãos do Porto, em vez desta intermediação que não tem sabido dar
respostas aos problemas? Os 20 milhões de euros poderiam ser objecto de
uma oferta pública de subscrição de acções destinadas aos privados, aos
cidadãos do Porto: 100 mil habitantes, investindo 20 euros cada, ou uma
qualquer outra combinação, seriam suficientes. Isto mesmo, o mal amado
capitalismo também pode dar boas respostas, como modelo popular de
intervenção no financiamento de projectos, neste caso a reabilitação do
imóvel.
Proponho a criação de uma sociedade municipal que integre o edifício
do Mercado do Bolhão, que seria objecto de avaliação, e que depois
proceda à entrada de novos pequenos accionistas, minoritários. Os
resultados das rendas do espaço, definidas a partir de um valor fixo e
de uma percentagem das vendas, tal como nos modelos de gestão dos
centros comerciais, seriam afectos à remuneração dos capitais
investidos, pela Câmara e pelos cidadãos. Uma parte substancial, afecta a
programas de promoção e de animação turística da cidade, dado que a
importância e a rentabilização de uma cidade passa pela sua promoção. E
para isso é necessário que se aposte mais numa estratégia de marketing
cultural e turístico.
“Não se pode esperar que nos resolvam os problemas, nós fazemos parte
da solução”. É preciso renovar e inovar, os modelos antigos não são
mais rentáveis nem fazem sentido.
José Ferraz Alves, Movimento Partido do Norte
(Extraído do blogue A Baixa do Porto]