O Parque Oriental do Porto está aberto e já teve os seus caminhos alcatroados e a relva verde calcados pelos primeiros visitantes. No local, há quem tema pela manutenção das boas condições do espaço. O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, acredita que vai tudo correr bem e admite que o município não se irá opor a construções em torno do parque, ao contrário do que aconteceu no Parque da Cidade.
Lá dentro, diz Rio, não vão nascer prédios, mas "vai haver alguma construção à volta" da nova zona verde da cidade. A justificação é simples: "há limites" orçamentais para uma autarquia bater o pé à construção junto a espaços verdes e, a oriente, as coisas "terão de ser em moldes um pouco diferentes" do que foi feito a ocidente.
Com o Bairro do Lagarteiro como cenário, num dos seus extremos, os dez primeiros hectares do Parque Oriental foram inaugurados, ao fim de décadas em que o projecto não saiu do papel. Uma questão de "prioridades", disse Rio, prometendo que, a partir de agora, espera que o processo seja "mais rápido".
Uma das prioridades é a despoluição do rio Tinto, que atravessa os terrenos do parque e cujas margens, sujas de plásticos, não são das mais bonitas. O arquitecto paisagista Sidónio Pardal, responsável pelo desenho dos dois grandes parques do Porto, diz mesmo que a câmara "está a negociar para que o rio volte a ter trutas". Para isso, avisa Rui Rio, é essencial que Gondomar dê uma ajuda preciosa.
Alguns moradores saudaram a comitiva camarária, dando as boas-vindas a Rui Rio e lamentando não o ver mais vezes por ali. "O presidente vir aqui, atravessar a fronteira do caminho-de-ferro, é caso raro", brindou-o Augusto Barbosa, que viu o seu terreno ser expropriado para a construção do parque. Por ali, o que se espera agora é que o espaço permaneça bem tratado e seguro. Fernando Duarte, outro morador, avisou que é preciso "um bocadinho de iluminação" e duas mulheres comentavam em voz baixa: "Se não tiver aqui um segurança, num instante começam a degradar isto tudo".
Rui Rio disse-se convicto de que a população vai tratar bem o parque e que "será suficiente" a ronda da Polícia Municipal, que também vigia o Parque da Cidade.
(In Público]
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Um homem "sério e rigoroso", como Rui Rio, é assim:
- Não consente a construção à volta do Parque Ocidental [da zona rica da cidade], porque é totalmente contra a especulação imobiliária. É irredutível.
- Com o Parque Oriental [ da zona pobre], enfim, já admite que vai haver alguma construção à volta...
- Desculpa-se dizendo, serenamente, que "há limites orçamentais" para uma autarquia bater o pé à construção junto de espaços verdes... Entretanto, a sua caprichosa teimosia já custou ao erário público uns milhões de indemnizações às empresas imobiliárias.
Não falo por mim, porque a integridade intelectual de Rui Rio nunca me convenceu, falo por aqueles que de boa fé acreditaram na sua autenticidade. Continuarão porventura convencidos que ele é como pensam, ou este singelo exemplo não chega para ver um pouco mais longe?
O que Rui Rio está a fazer, além de confirmar a sua frágil coerência moral e intelectual, é descriminação social e urbana. Não há dúvida, porque não há justificação aceitável para tão grande cambalhota nos seus argumentos.
Nunca a cidade do Porto foi politicamente tão insignificante e cinzenta, como durante os seus tristonhos mandatos.