Ontem, expliquei as razões da minha simpatia por Alberto João Jardim, deixando contudo bem claro que nunca o apoiaria, caso os governos centralistas de Lisboa gozassem junto dos portugueses de boa reputação, tivessem o hábito saudável de pagar as contas a tempo e horas, e cumprissem as promessas juradas em campanhas eleitorais. Como todos sabemos [excepto os próprios], que não é isso que acontece, dispenso-vos de mais comentários.
À medida que fui avançando na idade, adquiri o bom costume de filtrar muito daquilo que leio e oiço, e de procurar avaliar cada situação de acordo com a credibilidade das fontes. Pessoalmente, para me transmitirem credibilidade, não chega ter o DR à frente do nome, ser empresário, artista, jornalista, instituição ou político. Para acreditar, exijo a mim próprio que a fonte da notícia, ou da opinião, possua um histórico de seriedade irrepreensível e que, como é óbvio, a mensagem faça algum sentido. Foi o que fiz com A. João Jardim. As fontes que o querem crucificar não gozam de um bom estatuto moral para o fazer.
É com o mesmo espírito que desconfio das posições extremadas. Sempre torci o nariz aos "ideólogos" do Liberalismo, mesmo quando criam slogans simpáticos... Por exemplo: apregoar "melhor Estado, menos Estado", faz muito sentido e recomenda-se. Mas o que normalmente acontece, quando a rédea é larga, a tendência dos liberais é para se imiscuírem nos assuntos do Estado, até o minarem. Aliás, de certo modo, isso já está a acontecer.
Por outro lado, o empresariado português, continua agarrado a conceitos de patronato medievais e não tem dado sinais de se querer modernizar. Não foi por isso surpresa para mim saber que a Segurança Social notificou mais de 30 mil empresas por retenção das contribuições devidas aos seus trabalhadores, afectando-lhes assim as reformas. Trinta mil empresas não são coisa pouca, e ainda resta saber quantas terão seguido o mesmo caminho...
Como se pode constatar, o problema não se resolve debilitando o papel do Estado, nem tentando convencer a população que é a sociedade civil que o pode substituir. Cada um tem o seu lugar específico, e não devem nunca é misturar-se. Cabe a cada parte zelar pelo bom andamento das respectivas competências, com rigor e seriedade. Importa é que, no lugar próprio, sejam denunciados os abusos e o atropelo da Lei, que tem sido apanágio de todos, há tempo demais. É precisa uma Justiça nova, limpa de elementos perniciosos e célere. Habituar os portugueses a interiorizar que a Lei é para todos, e é para se respeitar. Mas para isso, urge ser o Estado, a começar pelos seus máximos representantes, a dar o exemplo. Sem exemplos, vindos de cima, todos os Albertos Joões Jardins são inimputáveis.
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