19 setembro, 2008

IR AO FUNDO DA QUESTÃO

Antes de avançar com o que hoje tenho para dizer, faço questão de separar dois aspectos em relação ao meu modo de avaliar a actuação dos políticos, grosso modo, e à impressão individual e pessoal que faço de cada um. Um tanto contra uma certa corrente, convenientemente correcta, sou daqueles que coloca em primeiro lugar o carácter do indivíduo, só a partir desta premissa - que considero a maior de duas proposições -, é que me interesso pela segunda e retiro as minhas próprias conclusões. Ninguém tem poderes sobrenaturais para descobrir com exactidão o que vai na alma de outro indivíduo, sobretudo quando a sua relação presencial não existe, por isso não nos resta outra saída senão raciocinar por dedução. É o que eu faço, e é seguramente o que a maioria de nós faz uns com outros.
Ainda há dois dias deixei aqui a minha opinião pessoal sobre Pedro Baptista, candidato à liderança da Distrital do PS, que vale alguma coisa para mim e não valerá para outros, mas é exactamente o que penso, embora não passe, como disse, de uma impressão intuitiva. E para que ninguém venha mais tarde apresentar-me a "factura" por um eventual erro de cálculo, reitero que a minha opinião se enquadrava exclusivamente na sua faceta de homem frontal que é quase sempre uma marca das pessoas honestas. Espero assim não me enganar.
Chegado aqui, passo ao assunto do dia. Não é novo para mim, mas é pertinente. Trata-se da substância das coisas.
Faz hoje 8 dias que participei na 1ª. Reunião da ACDP (Associação de Cidadãos do Porto), onde apesar de terem comparecido poucas pessoas, se pôde trocar as primeiras impressões (além do próprio conhecimento pessoal de alguns de nós), e alinhavar ideias para uma futura reunião. Foi positivo, mais que não seja por nos "obrigar" (como alguém disse) a sair do teclado do computador e do anonimato doméstico. A minha intervenção foi curta e baseou-se ao fim e ao cabo naquilo que venho pensando e escrevendo no Renovar o Porto, que consiste na minha absoluta perda de confiança não apenas na classe política como na prática democrática neste país. Em síntese, o que disse foi esta coisa complicada mas quanto a mim imprescindível para me envolver em qualquer projecto de cidadania: saber o que está dentro, conhecer sempre o caminho que se pretende percorrer.
Observem bem. Lamentavelmente, não nos faltam exemplos para mostrar, mas vou pegar neste porque é o mais actual e mexe no bolso de todos nós: a alta dos preços dos combustíveis.
Os organismos criam-se e desfazem-se. É o mais fácil. As leis também. Difícil (sobretudo em Portugal) é fazê-los funcionar e cumprir. E o mal começa logo aqui. Não foi complicado instituir uma autoridade para a concorrência (AdC), mas neste momento delicado em que ela devia justificar a sua criação, não funciona. Nem o próprio Governo mostra capacidade para a obrigar a cumprir. O crude sobe, sobe imediatamente o preço dos combustíveis, o crude baixa, os preços não descem! E mais: as gasolineiras fazem peito ao Governo e não parecem dispostas a respeitar
qualquer ordem no sentido de os levar a baixar o preço do combustível. Vamos agora à substância deste organismo chamado AdC. O que é e como se chama? O que é já sabemos e não funciona. Quem responde por ela chama-se Manuel Sebastião. Que rabos de palha (conluios)terá então o Governo para não se livrar deste incompetente abusador?
A própria Constituição da República não é levada à letra, e altera-se quando e sempre que os governantes não são capazes de a articular com os poderosos interesses económicos. Foi (disse-se), uma das Constituições mais avançadas do Mundo, contudo pouco proveito tiramos desse privilégio!
Há, está mais que provado, uma tendência neste país para não levar nada a sério. Está na moda agora (maldita vaidade), sempre que há dificuldades para governar o país, alterar as leis. Assim se vai ganhando tempo para governar, perdendo-o com o país e o povo. Assim se prolongam os prazos de incompetência e corrupção dos governantes e assim vamos aturando esta corja de garotada.
Com estes belos exemplos, com os quais me recuso terminantemente a pactuar, não há ninguém que me convença que os mecanismos democráticos vigentes bastam para dar a volta a esta pouca vergonha. Porém, este é o pensamento do Chefe de Estado e do restante poder (Governo). Percebe-se, mas não lhes acrescenta qualquer dignidade. A voz do Cavaco não é o que podia ser. É apenas e só, a voz de mais um homem que deve sentir-se bem dentro da própria pele por ter chegado (como outros antes dele), ao mais alto cargo da Nação, mas está longe de ser uma voz realmente importante para os cidadãos.
Toda a gente sabe, que "zelar pela coesão nacional" para estes políticos clonados, se confina a zelar pela estabilidade do Poder, não pela dos cidadãos.
Para que servem então as instituições se elas são incapazes de se auto-regenerar? Quero que alguém me desminta e diga (se souber), definitivamente, se não é em procurar engendrar uma fiscalização eficiente dos eleitores sobre o poder político, que consiste o nosso primeiro passo.

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