19 setembro, 2008

OLHA PARA O QUE EU DIGO!

Balsemão exige mudança radical na televisão pública

Francisco Pinto Balsemão exigiu ontem uma "solução radical" na forma como na Europa são geridos os serviços públicos de televisão, quando discursava num encontro em Helsínquia como presidente do European Publishers Council (Conselho Europeu de Empresas Proprietárias de Jornais), associação que representa alguns dos principais grupos de media.
O também "patrão" da SIC e do grupo Impresa, que preside ao EPC desde 2001, considera que os Estados europeus devem "limitar o tamanho" dos operadores públicos de televisão, que no futuro terão de se concentrar na transmissão de programas de "alta qualidade" - sem contarem para isso com apoios do Estado ou com taxas pagas pela população, defendeu. "Podem claramente conseguir receitas significativas se produzirem programas fora de série!", salientou Balsemão, que falava durante uma conferência internacional sobre o futuro do serviço público de televisão.
Exemplos de programas de "alta qualidade"? "Mais programas de história natural, documentários pesquisados de forma adequada, notícias que abordem assuntos caprichosos de forma justa e séria, melhores comédias inovadoras ... e menos telenovelas, ou exploração de exibicionistas vulneráveis [em reality shows]", afirmou o responsável máximo da SIC.O modelo dos Estados Unidos ou um plano desenhado no Reino Unido para a evolução da BBC são as duas opções de futuro para a nova geração europeia de operadores públicos, salientou também o presidente do EPC. Nos Estados Unidos, as estações de televisão e rádio públicas são de âmbito local e "desenvolvem a sua própria programação", dentro de redes mais vastas. "Têm um pouco de financiamento directamente do Governo mas uma grande parte do seu dinheiro vem de indivíduos, fundações, companhias, subscrições e de patrocínios", exemplificou.
Já o modelo sugerido para a BBC por Anthony Jay, antigo gestor da estação pública - e argumentista de algumas séries como Yes, Prime-Minister - propõe a redução dos 11 canais televisivos do grupo para apenas um canal digital e duas rádios, um canal desportivo e várias estações locais.
Já a comissária europeia para a Concorrência, Neelie Kroes, salientou na quarta-feira que a decisão do tribunal europeu há três semanas - que insistiu que Portugal tem de reforçar os instrumentos de controlo sobre o financiamento do serviço público de televisão - é um "importante precedente", ao dar a Bruxelas a tarefa de vigiar essa mudança.
"Quero flexibilidade para o serviço público de televisão, mas a Comissão precisará de saber que o dinheiro que fica disponível de forma flexível está a ser gasto correctamente", referiu Neelie Kroes. As políticas europeias para a comunicação televisiva estão em reanálise. 1 canal apenas de âmbito generalista para a BBC é uma das propostas para o futuro da estação pública britânica
(Inês Sequeira, In PÚBLICO)

Comentário RoP:

Francisco Pinto Balsemão já foi 1º. Ministro de Portugal, precisamente entre 1981 e 1983, no VIII Governo Constitucional. Primeiro Ministro, sim, não há engano. Cargo que, no subconsciente (ou no imaginário, como queiram) dos cidadãos, deve requerer altos padrões de probidade e valores. Contudo, este fino cavalheiro, que foi lá para fora, na qualidade (imaginem!) de Presidente do Conselho Europeu de Empresas Proprietárias de Jornais, exigir uma solução radical para a forma como são geridos os serviços públicos de televisão, é o dono da SIC, responsável pelo melhor, mas também pelo pior que se tem produzido estes últimos anos em matéria de televisão no país.

Aqui está mais uma boa amostra como os políticos têm de si mesmo uma ideia desfocada da realidade e absolutamente narcisista. Acham que podem ser aquilo que efectivamente não são nem nunca hão-de ser, só porque foram políticos. Pronto. Ser político - mesmo Primeiro Ministro -, não confere implicitamente uma garantia de elevação humana e cívica ao portador. É apenas um trampolim para se poder tornar relevante ou não, mas essa importância só os cidadãos lha podem dar, se a merecer. E, neste caso concreto, eu não lha reconheço, porque penso que não a merece.

Pinto Balsemão e a sua SIC, são responsáveis por alguma lufada de ar fresco na televisão mas também o são pelo mais poluído e ordinário. Foi a SIC, que lançou programas como a «IURD», «Os Donos da Bola», «A Noite da Má Língua», onde a intriga e a arbitrariedade foram do pior que se fez em Portugal.

Ainda hoje é responsável por programas erótico-porno (na SIC Radical) cuja valia, sobretudo para os mais jovens, ainda estamos por perceber. A má língua, a conspiração, é outra das apostas da casa. E não falo assim por questões de puritanismo bacoco, falo apenas por uma questão de exemplo.

Quem se julga afinal, Pinto Balsemão, para dar conselhos ao Estado? Para lhe (e nos) dar sugestões dos programas de "alta qualidade" que a RTP deve, ou não, transmitir? Não é a ele que compete dar pareceres sobre a coisa pública, é à opinião pública!

Percebe-se assim que as angústias de Pinto Balsemão pouco tenham a ver com a ética e a qualidade, elas devem-se, exclusivamente, à concorrência que a televisão pública lhe está a fazer e ao dinheiro que ele e a sua SIC podiam ganhar se a afastassem da corrida.

Não é que a RTP me inspire mais credibilidade, pelo contrário. Teoricamente, até concordaria com Pinto Balsemão, se não fosse ele a falar do que não devia.

3 comentários:

  1. Caro Rui,

    Independentemente de estar de acordo que Pinto Balsemão não é a pessoa indicada para falar da TV Pública, porque o seu Canal SIC, só tem produzido "Lixo" na maior parte dos programas.

    Mas convenhamos que é o povo português que está a alimentar a RTP.

    E para quê dois canais públicos, ainda por cima com publicidade paga e taxas pagas por todos nós!
    E que qualidade nos transmite a RTP. Onde está o serviço público?

    Abraço,

    Renato Oliveira

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  2. Sem esquecer o programa abaixo de cão, que tem em antena no momento.
    Mas, meu caro RUI, este país merece a tv do Balsemão, merece a Tvi, merece tudo que tem, pois este país, não tem vergonha na cara.
    Um abraço

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  3. Meus amigos,

    O país, também somos nós. Temos de intervir mais, de exigir mais, participar mais, até à exaustão.

    Não devemos limitar-nos a constatar os factos, não é assim?

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