05 dezembro, 2011

Porto, só meio optimismo

A "movida" do Porto chegou às páginas do New York Times, através de uma reportagem do jornalista de viagens Seth Sherwood que elogia a nova oferta cultural, turística e de lazer da cidade.

"Um novo quarteirão 'à pinha' de vida nocturna está a ganhar forma, e uma florescente cena criativa que tem de tudo, desde um emergente centro de design a uma vanguardista Casa da Música desenhada por Rem Koolhaas, um espaço de concertos deslumbrante", descreve Sherwood.

O jornalista, baseado em Paris, afirma que a "segunda maior metrópole de Portugal" já não precisa de se "encostar" à reputação do famoso vinho digestivo com o mesmo nome.

"E há grandes notícias para os enófilos também. Com a emergência da região do Douro como berço de vinhos tintos premiados -- não apenas o Porto --, o Porto (conhecido também como Oporto) pode agora inebriá-lo com uma miríade de 'vintages', novos restaurantes ambiciosos e até hotéis vínicos temáticos", realça o repórter.

No artigo "36 Horas no Porto, Portugal", já disponível online e a ser publicado na edição de domingo do New York Times em papel, são apresentados 11 pontos de passagem/paragem de um percurso pela cidade que começa às 18 horas de uma sexta-feira e termina ao meio-dia de domingo.

Um "passeio barato (2,50 euros)" de eléctrico entre a Praça do Infante e a Foz marca o início da viagem, que é seguida de uma Super Bock saboreada numa explanada à beira rio e de um jantar de Francesinha, "a sanduíche local não aprovada por cardiologistas". 

[Fonte: Porto24]

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Concordo totalmente com Germano Silva quando diz que o Porto perdeu muita da sua identidade. Apesar do fluxo crescente de turistas, devido, principalmente, às óptimas funcionalidades do aeroporto Sá Carneiro, que proporcionou todas as condições para a instalação da base de companhias de vôos low-cost, e do Metro do Porto, que lhe deu complementaridade, a cidade do Porto continua a viver de fogachos de alguma iniciativa privada, e pouco mais. É preciso esclarecer que, nada deste aparente progresso se deve a iniciativas da responsabilidade da actual CMPorto. Pelo contrário. Uma das razões, para o atraso económico e social do Porto, é a falta de um autarca dinâmico e de vistas largas para a cidade. A outra razão, é o centralismo e a sua sofreguidão de eucalipto que tudo seca em redor. 

Tal como o Douro, com os seus cada vez mais prestigiados vinhos, tem cada vez menos gente, o Porto vem perdendo habitantes de ano para ano, e ao contrário do que para aí se diz, não será a movida que irá  fazer regressar habitantes à cidade, assim como não é o excelente vinho do Porto, que vai repovoar o Alto Douro. Todas estas notícias, aparentemente contraditórias, deviam obrigar governantes e empresários a repensar a ideia de progresso. O progresso, ou o bem estar [se preferirem], das populações não está directamente ligado ao sucesso das iniciativas empresariais. É preciso começar a falar claro e não ocultar os factos. E se os factos nos têm ensinado que por cada máquina inventada há dezenas, se não centenas e milhares, de pessoas desempregadas, isto diz-nos que uma empresa que produz muito não é propriamente uma empresa que emprega mais gente. Portanto, acabe-se com a demagogia de relacionar o empreendedorismo com a prosperidade dos povos. Empreender é necessário, mas sustentar a prosperidade de um negócio com benefício para todos não é bem o que tem acontecido. 

Por vezes, dou comigo a pensar se não será uma criancice entusiasmarmo-nos demais com certos sucessos momentâneos,  ou mesmo com algumas distinções que nos chegam de fora e suavizam a chaga que é, continuarmos a ser um dos países mais pobres, e pior governados da Europa. 

Para mim, o problema vai muito para além da má construção da nossa Democracia e da baixíssima qualidade dos nossos políticos. O capitalismo, definitivamente, tal como está, não é regime para levar a sério. A crise global está aí, a berrar, para quem a quiser ouvir.  
 

4 comentários:

  1. Caro Rui, como diz o Pedro Abrunhosa na excelente entrevista ontem publicada no JN, muito do turismo que procura o Porto, deve-se à Casa da Musica e a Serralves, curiosamente dois projectos de que o Rio não era muito entusiasta. Como também não era entusiasta do Metro, do estádio do Dragão e por aí fora.
    O que vai deixar Rio ao Porto, qual a sua marca?

    Um abraço

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  2. O problema é o centralismo bacoco, e uns quantos responsáveis do nosso burgo que se preocupam mais com a sua imagem, que o melhor para a cidade.
    O país com esta corja de governantes que nos roubam todos os dias, e falta de ideias de políticos acomodados, nem o Porto nem o país vai a lado nenhum.

    O PORTO È GRANDE VIVA O PORTO.

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  3. manuel moutinho05/12/11, 21:16

    Rui Rio vai deixar muitas saudades quando fôr embora,as mesmas que deixa uma viola num enterro,eu ainda não consegui perceber o que é que ele fez de bom na cidade,há já não me lembrava, acabou com os arrumadores,ou não? Já não me lembro.Que pena termos um presidente a governar a cidade de costas voltadas para os seus simbolos,e ainda falta mais de um ano para nos libertarmos deste mal!
    Um abraço

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  4. O actual Presidente da Câmara é um caso paradigmático de alguém que perdeu completamente a identidade com a cidade. É daqueles que pensam que exteriorizar o amor à terra é sinal de provincianismo. Não percebe que o provinciano é ele, e outros tantos que o puseram no poleiro.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...