21 agosto, 2009

Faz falta quem lute cantando

Alguém imaginaria, passados 35 anos de vivência «democrática», que olhásse-mos à nossa volta sem encontrar um único partido político, um único homem ou mulher, a quem confiar os destinos do país?
Este vídeo de Zeca Afonso terá saído, como o título indica, em 1994 [2o Anos Depois]. Decorridos mais quinze anos, que diria Zeca Afonso da situação actual? E dos cantores e músicos de agora? Estaria também ele conformado, afastado, pouco interventivo, como Vitorino, Sérgio Godinho, Fausto e muitos outros? Será só a idade a pesar? E as novas gerações, serão afinal rascas e desinteressadas?


11 comentários:

  1. O José Afonso surgiu num contexto completamente diferente, num período político muito difícil, muito mais do que agora, esteve em África, viu o que lá se passava, esteve na Academia de Coimbra, conviveu com muita gente politizada e activa, decidiu fazer qualquer coisa dentro do que lhe era humanamente possível...Ele iniciou o seu canto pela forma tradicional Coimbrã, foi mudando a sua maneira de compor e cantar à medida que a sua consciência política se transformava...O "Menino do Bairro Negro", contrariamente ao que eu pensei durante muitos anos, refere-se aos meninos dos Bairros pobres do Porto, não esqueçamos o "Ribeira Negra" de Júlio Resende, ele viveu por aqui, esteve numa república de estudantes -a 24 de Março- do Porto...Era necessário que os jovens tivessem a consciência -como tiveram na altura- de que não é possível ter seja o que for hoje sem luta...Ninguém dá nada a ninguém.

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  2. Este concerto, o último que deu na sua vida, ocorreu no Coliseu de Lisboa em 1983...Ele faleceu em 1987!
    Muitos dos que com ele iniciaram a caminhada nestas cantigas, estão na casa dos sessenta/setenta anos, Vitorino, Janita Salomé, Fausto, Fanhais, Luís Cília, Pedro Barroso, José Mário Branco, Manuel Freire, José Jorge Letria, Sérgio Godinho...Destes, muitos ainda cantam e interveem, alguns já faleceram como Adriano Correia de Oliveira, António Bernardino...Mas querem um nome actual e da família?...João Afonso!

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  3. E a verdade é que as coisas hoje são diferentes e têm que ser interpretadas de forma diferente...Muitos dos que se salientaram nesses dias passados estão na reforma, voluntária ou compulsiva...Ou viraram o bico ao prego, mas são excepções!...Aquele aço era de boa têmpera!
    A vez é dos mais novos, são eles que devem saber qual é o caminho que querem seguir...Os velhos, estão aí para os apoiar.

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  4. Mudam-se os tempos...

    As pessoas estão orfãos de causas, é o que é!

    Viva o Euromilhões!

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  5. Esta referência -20 anos depois- é ao 25 de Abril...1974/1994, em 1994 foi gravado um disco duplo de homenagem, "Filhos da Madrugada cantam José Afonso" com a participação de várias Bandas actuais...

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  6. Não estão órfãos de causas Rui, eu não estou!...Continuo igual, estas músicas bailam na minha cabeça constantemente...Tenho um disco recente editado em Dezembro de 2007 com João Afonso, João Lucas e José Fontes, que é lindíssimo e foi posto à venda pelo Público por um valor simbólico, já este ano, chama-se "Um Redondo Vocábulo" e algumas das suas letras eu já transcrevi aqui.

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  7. Caro Meireles,

    eu sei que os tempos eram outros. Foram quase 50 anos de obscurantismo, a falta de liberdade, a guerra colonial,etc., que inspiraram os então chamados cantores de intervenção. Mas, mesmo assim, hoje, existem razões de sobra para intervir civicamente através do canto e da música, e o que é que se vê? Pedro Abrunhosa? Rui Reininho? Acha-os suficientemente contestadores? Eu, não. Nem eles, nem ninguém. Está tudo acomodado. As pessoas não estão para se comprometer, a carreirinha está primeiro e a coragem deixa muito a desejar.

    Nós aqui,na blogosfera fazemos pouco, mas não mostramos medo nem conformismo. Eles, podiam aproveitar a visibilidade da sua actividade profissional, para contestar, ridicularizar enfim.

    Os tempos mudaram sim, dizem que são de «democracia», mas não me parece que tenha sido para melhor.

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  8. Não falo desses, são pessoas ligadas a um tipo de música que não visa a intervenção política pura, embora o Abrunhosa nalguns momentos esteja mais próximo...Mas existem muitos que ainda fazem o seu papel nesse aspecto, João Afonso, Janita, Luís Represas e com música de elevada qualidade...Depois os velhos ainda fazem uma perninha, mas já estão muito desgastados no estilo. Passaram a ser representantes de um revivalismo que lhes retira algum brilho e actualidade...Os tempos são diferentes mas estou convencido que se for estritamente necessário vão surgir novas figuras.
    Tem sido sempre assim, os tempos actuais são de algum comodismo e o desencanto marcou muito a minha -nossa- geração... Não faz sentido perder a esperança.

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  9. Mas deixe-me dizer que embora esteja triste com muita coisa que se passa, tenho que afirmar que os tempos são melhores do que eram no passado...Sem qualquer dúvida.
    Uma coisa negativa destaco, a acentuada precariedade das relações laborais! Isso tem levado a nossa juventude a adiar os seus projectos pessoais e com isso, sobrecarregado a geração anterior...Mas vem aí -é inevitável- nova leva Capitalista e quando ela voltar em pleno, tem que ser feito muito nessa matéria.

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  10. É tudo muito mais complexo, as relações sociais são um emaranhado tremendo...É necessário ser-se muito atento, informado e inteligente para perceber estas nuances.
    É um trabalho esgotante.

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  11. Por falar em Zeca. Já devem estar a par mas de todo modo aí vai a informação.

    projecto “80 ANOS DE ZECA”
    http://80anosdezeca.blogspot.com/

    AJA
    Norte

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...