1. Esta é, salvo melhor pesquisa, a palavra mais
longa do dicionário português. Contém a nossa idiossincrasia lunar: é
complexa, rebuscada, negatória, adverbial e única. Está-nos no sangue,
na história: chumbar quem, anticonstitucionalissimamente, tentar mudar o
paradigma sem uma revolução. Depois é tudo legítimo. Mas, previamente,
sem sangue, não se consegue ajustar os meios à realidade.
É
verdade que este Governo é uma desmoralização permanente pela falta de
ética, rigor e sentido de Estado. Mas não pode ser pela Constituição que
os atiramos ao mar. Deveria ser pela incompetência pura e simples e
assumida através da única organização que tem poder para alterar a
situação: o interior do PSD. O CDS, já sabemos, está de acordo com o fim
da tripla Passos/Relvas/Gaspar.
2. A
privatização da ANA continua a mexer, sempre na mesma direção. O Governo
transferiu 276 milhões de euros para a Câmara de Lisboa de forma a
vender a empresa de aeroportos com os terrenos da Portela lá dentro.
Questão: as autarquias do Norte, Faro, Açores ou Madeira não tinham
quaisquer direitos para serem ressarcidos? Mas mais: numa altura em que
não há dinheiro para nada, os 276 milhões foram pagos já a 31 de
dezembro, muito embora os franceses da Vinci só paguem a compra da ANA
em prestações durante nove meses. Por fim, e cereja no bolo, a Câmara de
Lisboa fez o que tinha a fazer: entregou o dinheiro todo à Banca para
amortizar dívidas. Mas não é notável que tudo, mas tudo, vá sempre
desaguar à Banca?
3. Domingos Azevedo, presidente
da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, é há muitos anos o homem que
diz, com palavras certeiras e sotaque a condizer, verdades nuas e cruas
sobre as decisões das Finanças. E as declarações dos últimos dias são
maravilhosas. Vintage.
Domingos disse anteontem a Gaspar e à sua
equipa de doutorados, pós-doutorados, MBA e NBA das Finanças que eles só
dão "barracada". Mas quem quiser ouvir o vídeo, basta ir a SIC
Notícias.pt. "Não é suficiente criar uma lei para obrigar as empresas a
pagar os salários com duodécimos quando elas não têm dinheiro para o
fazer"... "Barracada".
A equipa de Gaspar fez uma coisa ainda mais
perversa neste tema: tem informação privilegiada e vai fazer os
cálculos internos para pagar aos funcionários públicos já com os
duodécimos. A restante economia privada... que pague agora com valores
errados, que depois corrige em duplicado em fevereiro. São milhões de
horas extras de trabalho, em todo o país, para desfazer trapalhadas das
Finanças - e bastaria que o Governo fizesse as coisas a tempo e horas,
como se supõe num país europeu, para evitar este desgaste. A medida dos
duodécimos faz surgir também um pequeno monstro contabilístico no
horizonte: no final de fevereiro as tesourarias têm de se preparar para
mais 20% de encargos salariais, descontos e retenções na fonte. E daí
para a frente 10% a mais todos os meses (com exceção dos meses de
pagamentos de subsídios).
Sim, são muito bonitos aqueles programas
de incentivo ao empreendedorismo de que é moda gostar-se, mas falem com
os jovens (ou não jovens) empresários de pequenas empresas e verão o
que lhe dizem: o problema não é o negócio, não são as 10 ou 15 horas de
trabalho diárias. Às vezes nem é só o pagar-se impostos a perder de
vista. O problema é o inferno gerado pelas Finanças nas sistemáticas
alterações a tudo e mais alguma coisa: as constantes mudanças nos
sistemas de faturação, as exigências com as mais mesquinhas questões,
como por exemplo passar-se a informar de véspera as Finanças da
necessidade de se transportarem mercadorias - se não se tiver uma guia
autorizada é-se multado com possível apreensão de mercadoria. Ou ainda
as amortizações que mingam de ano para ano, já para não se falar dos
lucros altíssimos a quem tem lucros ou as penalizações fortes a quem tem
prejuízos... Esta gente no Terreiro do Paço não faz a mínima ideia como
incentiva tantas pessoas a desistir diariamente de continuar com os
seus pequenos negócios. E a prova da distância face à realidade é que
ninguém, hoje, 10 de janeiro, consegue fazer ideia de qual é realmente o
seu salário... Os que ainda o têm.
[do JN]
Boa tarde,
ResponderEliminarSe consultarmos a Wikipédia verificasse que a palavra mais longa tem 46 carateres (Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose) por isso ainda fica a uma certa distância (17 carateres).
Deixando esse pormenor estou de acordo com o seu texto. O que mais me indigna é que as forças vivas do Norte (tirando alguma exceção) são uns colaboracionistas estilo 2ª Guerra Mundial na ocupação Nazi (desculpe o exagero mas é o que de momento me lembra).
Há muito que deixei de acreditar nos políticos do Norte, pois que me lembre nunca vi um que realmente fizesse o que geralmente apregoam mas depois quando chegam ao poder são mais outros macrocéfalos.
Cumprimentos