28 julho, 2009

Teorias da treta

Um tal de Miguel Angel Belloso [economista, creio que espanhol], escreveu no i de segunda-feira que, cito: o anseio da igualdade é um anseio da cultura espanhola. Entre outros considerandos deste quilate, disse também que o repúdio e a inveja em relação ao êxito pessoal dos outros não são nada de novo. Depois, fala em transacções de mercado, nas gordas retribuições de administradores, de directores de empresas, ou de desportistas bem sucedidos e a repulsa que estas geram na opinião pública, justificando-as com o factor procura. Ou seja, por mais dinheiro que o investidor esteja disposto a dar por um produto ou por uma pessoa/produto, é porque pensa que vai ganhar com o que pagou por ela. O resto é «poesia».
Salvo raras excepções, a visão "pragmática" que os economistas têm da vida e do mundo, parece só ter um único ângulo credível: o da própria economia. A lei da oferta e da procura, resume as performances da prosperidade humana. O humanismo, é coisa que não existe.
Não sei se por falsa modéstia ou esquecimento, este especialista não foi capaz de apresentar um único argumento de peso que explicasse aquilo a que ele chama "a magia do mercado" que explica as altas retribuições de quadros superiores. Explica apenas, e mal, que um alto salário de um dirigente leva a mudanças técnicas, ao aumento de vendas e à expansão do emprego...
Esqueceu-se, foi de dizer que tipo de emprego e de remuneração resulta para as populações desssa expansão. Devia estar a pensar em Espanha, porque apesar do país vizinho passar também por elevados indíces de desemprego, distribui o produto da sua riqueza com muito mais justeza e dignidade que em Portugal, e é assim que se explica a diferença de nivéis de vida entre os dois países. O empresariado português pede produtividade, multi-formação, em troca de quase nada. Por cá, os maus hábitos instalam-se, os bons nunca fazem escola.
Não há economia, engenharia financeira [ou o que lhe quiserem chamar] que se afirme, enquanto se insistir nestas primárias dicotomias da oferta e da procura. Enquanto o pragmatismo economicista continuar emparedado entre a mesquinhez de méritos duvidosos, em que a componente humana é analisada por critérios próximos da escravatura, não há prémio Nobel da Economia que nos safe. Não há mérito que justifique a injustiça, quer ele se aplique a um banqueiro ou a um jogador de futebol.
Há a justiça e o humanismo. Se o mérito explicasse tudo, bem andaria o Mundo, mas o mérito não pode [nem deve] andar de braço dado com a corrupção, nem em paz com o emprego precário ou, o que é mais dramático, com o desemprego de longa duração.
É isto, e apenas isto, que suscita a «inveja» de que o cronista fala, e naturalmente, a infelicidade dos mais desfavorecidos. O resto, não passa de mero corporativismo de uma classe tradicionalmente favorecida.

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