23 junho, 2011

Um "esquecimento" habitual

Não tenho sido eleitor fixo em nenhum dos partidos políticos. Voto naquele que, em dado momento, me parece o mais próximo dos meus ideais. Também me acontece não votar, por descrédito de todos eles.

Desta vez, acolhi com alegria a derrota da quadrilha de malfeitores socráticos que nos governou durante demasiado tempo. Demasiado tempo porque foram eles que deram o poderoso impulso final para o buraco em que o país está (atenção, buraco que outros começaram, aqui não há inocentes...) e que conseguiram criar aquele ambiente tóxico e malsão que envolvia a política nacional, testemunhado por todos aqueles que não andam a dormir e que pensam pela sua própria cabeça.

Um novo governo foi empossado, com promessa de arrepio dos caminhos tortuosos que a política seguia. Parte dos portugueses acreditará nas promessas, outros não, outros ainda ficarão pelo wait and see.

Pessoalmente, uma coisa deixa-me de pé atrás em tudo o que o novo governo proclama. É que não há uma única menção a condenar o centralismo exacerbado em que este país está mergulhado há demasiados anos. Não vi manifestada uma única intenção de eliminar da Constituição os preceitos que fazem com que a Assembleia da República não seja representativa de coisa nenhuma, a não ser das máquinas partidárias que a dominam a seu bel-prazer e que se borrifam nos eleitores a partir do momento em que eles depositam o "papelinho" nas urnas. Também os preceitos constitucionais que limitam a liberdade da criação de partidos de cariz regional, são indignos de uma democracia e no entanto tudo indica que irão manter-se. A criação de um verdadeiro poder intermediário entre o Estado central e os municípios, com a respectiva autonomia financeira, é considerada brincadeira de rapazes e afastada com um simples gesto que significa " agora não, não chateiem porque não temos tempo para brincadeiras". Aliás nunca é tempo para discutir a sério a Regionalização, há sempre um "poderoso" motivo que impõe o seu adiamento.

Deste modo, infelizmente, este governo parece ser mais do mesmo, ao não reconhecer o impulso que as autonomias regionais dariam a este país. Ou então, se o reconhece, dá precedência à conservação do poder total - diria mesmo ditatorial- que o actual sistema partidário ( partidos e respectivas clientelas) guarda ciosamente nas suas mãos.

Desiludido, eu? Não, apenas mais convencido que o fim do centralismo nunca será um fenómeno endógeno e que deste modo a sua permanência parece assegurada. Desgostoso apenas pela apatia bovina dos meus concidadãos que permite a manutenção do status quo.

2 comentários:

  1. É, Rui Farinas, eu pertenço ao grupo dos "wait and see", embora, como o meu amigo já notou, me pareça que a Regionalização vai continuar também a ser o bicho papão deste governo.

    O desmantelamento dos governos civis, podia ser um começo, mas sinceramente, cheira-me que não passa de mais poeira para os olhos do eleitorado.

    Por agora, todos parecem meninos bem comportados. Isto de ter a Troika por perto não deixa de intimidar...

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  2. Com deputados estrangeiros aos círulos por onde foram eleitos ou vendidos ao centralismo lisboeta, como querem que isto mude. Com gente como Miguel Relvas e outros centralistas assumidos no governo, claro que a regionalização não lhes interessa. E não devemos esquecer os "colonizados" existentes no Norte e resto do país, a quem as televisões e outros meios lisboetas impingem só os valores lisboetas e não conhecem ou reconhecem os do Porto e Norte.
    Um caso passado ontem, dia 23, véspera do S. João: no telejornal do almoço na RTP 1 o jornalista referiu a importância da festa no Porto e Gaia( poderia citar Braga, Vila do Conde e muitas outras terras) e comentou que era uma festa dedicada a um santo enraizado na população, apesar de não ser o padroeiro da cidade (o que é verdade mas muitos não sabem).
    Á noite, no jornal das 8 da TVI o jornalista Alberto Carvalho ao referir o S. João do Porto afirmou que ele era o padroeiro da cidade, por ignorância clara. Nem o facto de ter ao lado Judite de Sousa, licenciada em História pela FLUP, chegou para evitar esta asneirada, típica de muitas da TVI, essa televisão lisboeta, centralista e espanhola.Não sei de onde é natural esse jornalista, mas, para apresentar um telejornal é precisa uma base sólida de cultura geral que muitos pivots não possuem, principalmente quando se referem ao Norte ou a política internacional. É apenas um exemplo, mais um, da má informação que os espectadores recebem e acreditam! Mesmo que errada.

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