23 novembro, 2014

Sócrates versus media

Não quero parecer político por dizer que a sociedade portuguesa não é a única a sofrer do mal de que sofrem muitas outras sociedades, que é a perda crescente dos valores da ética e do rigor. Longe de mim entrar pelo caminho demagógico do Paulo Portas, que na comissão de inquérito parlamentar ao caso dos vistos dourados, argumentou favoravelmente sobre a temática, alegando que outros países da Europa fazem o mesmo, pensando que dizendo isso não precisava de acrescentar mais nada para credibilizar a resposta. Aliás, um argumento próprio dos povos de países periféricos, salpicado do provincianismo típico dos políticos menores. A realidade é que, quando a Europa adoece, Portugal nunca vende saúde, antes se aproxima do estado de coma. Foi sempre assim, e nada indicia que venha a ser diferente no futuro. 

Sócrates foi detido, todos sabemos. E sabemos também o folclore que à volta da sua prisão  começam a fazer os pasquins do costume, sempre sedentos de novelas sangrentas, onde o esfola anda sempre à frente do mata. Sobre a incompetência de Sócrates, como de Passos Coelho, nunca tive grandes dúvidas, e acho mesmo que ambos fizeram mal demais ao país para merecerem a nossa condescendência. Se um, infelizmente, ainda se mantém no governo, o outro já lá não está, e agora é indiciado como suspeito da prática de vários crimes, o que  para a questão em apreço não importa. Mas, e se fosse um de nós, supondo que não tínhamos cometido qualquer crime, gostaríamos que as coisas fossem tratadas da mesma maneira, com o mesmo folclore? Atenção, não me interpretem mal, não estou a defender Sócrates. Se se apurar aquilo de que é suspeito deve ser condenado exemplarmente. Pessoalmente, tenho as minhas convicções pessoais, mas não as vou revelar aqui porque já há muita gente a fazê-lo publicamente. 

Era apenas nisto que pensava ontem, quando via o programa Eixo do Mal, da SIC, e os comentadores denunciavam com veemência o comportamento dos media pela forma espectacular como comunicaram a notícia.  Este assunto, recordou-me a perseguição movida a Pinto da Costa, e não é o facto de o alvo a abater agora se chamar Sócrates que me faz mudar de opinião sobre o modo como estes casos são geridos pelos vários organismos judiciais que costumam acompanhá-los. Um dos problemas que continua por resolver é sem dúvida o respeito pelo famoso segredo de justiça, e outro, que se prende com o mesmo, é saber quem superintende pela manutenção e pelo cumprimento desse  direito.  Isto, se é que alguém superintende alguma coisa, claro! 

Por outro lado, pergunto-me qual seria o modo e o momento ideal para a divulgação pública deste tipo de notícias, sabendo como sabemos, da lentidão que (a)normalmente acompanham os processos onde constam figuras públicas. Se os media se deviam limitar a aguardar em silêncio o desenrolar das investigações para não as prejudicar - mas ao mesmo tempo possibilitando a sua manipulação - ou se estabelecendo regras temporais e comportamentais entre eles e as instituições policiais e da Justiça. Se essas regras existem, não sei. O que sei é que não funcionam, porque tem de haver alguém no interior do sistema judicial a informar a comunicação social. Sobre isso, parece-me não restar qualquer dúvida.   

O certo, é que esta situação não impede que alguns dados da investigação tenham vindo a público com indícios do foro criminal fundamentados em suspeitas aparentemente verosímeis, levando a opinião pública a tender mais para acreditar prematuramente na condenação que na inocência do suspeito. E isso, goste-se ou não do suspeito, é promover a injustiça antes mesmo de entrar no tribunal.
  

3 comentários:

  1. Não me parece que a detenção de Sócrates desta ou de outra maneira seja algo de anormal, agora parece sim, é que ela deu muito jeito ao Coelho para lhe aliviar um pouco da pressão dos Vistos Dourados e outras demências do seu governo.

    Não vale a pena andarem por aí uns entendidos, a dizer que até prova provada ele é inocente, não somos burros. Inocentes somos todos nós, que temos que levar com esta corja de lesa/pátrias a roubarem o país lesando os portugueses.

    Sócrates foi sempre um chico esperto cheio de rabos de palha. Espero que se prove a verdade e a ser verdade seja castigado exemplarmente. Na política estamos cheios desta gente.
    Agora por aquilo que se tem visto da nossa justiça, que leva tempos e tempos a resolver, e a exemplos de outros crimes, parece mais uma vez, que a montanha pariu um rato.

    Abílio Costa.

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  2. Silva Pereira26/11/14, 14:25

    Boa tarde,
    Completamente de acordo.
    Também assisti a esse debate e se os comentários da Clara Ferreira Alves já os esperava (pois compreendo que defenda o amigo) já do MST achei extraordinário, desde logo começando com a sua introdução e depois rematando que a prisão preventiva é um excesso e que nunca foi usada, dando até a entender que era um excesso do Juiz, para quem diz que tem boa memória desde logo esqueceu ocaso BPN e Oliveira e Costa. O MST (que já o admirei) dá-me a sensação que ou sofre de Alzheimer (o que não acredito) ou que como repete há saciedade passo o tempo em caçadas e afins e não investe nada na preparação dos temas que lhe pagam para comentar. São sucessivos dislates que refere nos seus comentários sobre o FCP e sobre temas da atualidade. Mas neste caso atingiu o ridículo, talvez temendo que algum amigo das caçadas seja apanhado.
    Não vi por exemplo comentarem que nesta investigação intervieram agente da PJ, agentes das Finanças e 2 Verificadores da Alfãndega, o que me leva a supor que o caso é mais abrangente.
    E já agora ainda não vi esclarecido nem por parte dos média nem das autoridades a morte (inexplicável) do verificado da Alfândega de Aveiro.
    Para finalizar tentou-se de inicio levar para a Cabal contra o PS e AC esquecendo-se o almoço (terça)de JS com o antigo PGR e que regressou no dia que ele escolheu. Se existiu coincidência ela foi determinada pelo próprio.

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  3. Silva Pereira,
    são muitas coincidências, de facto. Eu não sei o que significa para certas pessoas a amizade. Ser amigo, na minha óptica, não é fechar os olhos para os seus defeitos ou vícios, pois se estes ultrapassarem os limites do torelável, não percebo a bondade da amizade. Mas, enfim, serei eu que não gosto de cassetes eticamente boazinhas.

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